Reunião de família

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— O QUE ESTÁ FAZENDO aqui, você nunca vem a esta casa – Liam o interrogou com os olhos. Fazia cinco meses que ele não aparecia. E o encontrar duas vezes, assim, tão próximas, era estranho. O encontro na Cidadela das Glicínias não foi coincidência.

— Vim visitar meu irmão preferido.

— Sou seu único irmão. O que você quer?

— Andou praticando mergulho? – ele apontou as roupas molhadas – ou foi instrutor de nado?

— Para o inferno, Kevin.

Ele o empurrou de leve para abrir caminho até as escadas.

— Qual é, Liam? Nós dois sabemos que você está escondendo algo, está metido em alguma coisa muita errada.

Aquele era problema que Liam tentava resolver.

— Você não é a pessoa certa para me dizer isso.

— Não – ele saltou um meio sorriso com o canto da boca – e é por isso que eu sei. Não cabe eu julgá-lo. Mas eu conheço seu algoz muito bem.

A essa deixa, um homem alto de cabelos negros surgiu na soleira da porta que dava acesso à cozinha.

— Isso parece ser um momento pai e filho. É melhor eu me retirar – Kevin falou, e antes do homem protestar ele já não mais estava na sala.

Um silêncio mortal reinou sobre o cômodo escuro.

— Será que eu preciso indagar?

Ele falou com sequidão, sem nenhuma emoção aparente.

— Eu esperava isso do seu irmão. Perdi o controle sobre o Kevin há muito tempo, mas ele mostrou-se bem discreto até agora.

— Chama aquilo de ser discreto? – Liam indignou-se, descendo as escadas novamente e apontando para a porta, como se Kevin ainda estivesse lá – ele matou mais de cinquenta pessoas só neste inverno, a Montanha do Lobo está marcada com o sangue de inocentes!

— Kevin não mora sob esse teto e nem é um Vamber, ele se juntou aos demônios das montanhas há muito tempo. Será que não aprendeu nada com os erros do passado? É bom que você se lembre do que fez. Se quer continuar aqui e vivo deve seguir as ordens da congregação e se manter longe de humanos.

Liam cerrou os punhos e mastigou as palavras as palavras que não ousou dizer. Deu às costas para o homem e se dirigiu e subiu. Parou. Rodou nos calcanhares e fitou seus olhos amarelos.

— Não que você realmente ligue para o que é certo ou errado, mas pode ficar tranquilo – foi até a porta e a abriu – não vamos ter nenhum incidente.

— Nossa! eu não sabia que estava tão ruim assim – Seu irmão estava em cima do velho carvalho que se encontrava perto da casa, no alto da colina, que escondia o vale onde eles moravam há muito tempo. – Que conversinha mais agradável.

Deu aquele meio sorriso jocoso como de praxe.

— Então é por isso que voltou, estava entediado com seus amigos na montanha? – o irmão recostou-se no tronco do carvalho – não mudou nada, ainda com essa mania de espiar os outros. Não se cansa?

— Não. Você sabe que não. Vocês me divertem! – ele fez uma breve pausa – mas também resolvi visitá-lo. Mal ando nessa casa, mal vejo meu irmãozinho. Sabe, os negócios estão de vento em popa – ele olhou para o irmão, seus olhos eram vermelhos e perigosos, havia desligado sua humanidade há muito tempo – devia ter me avisado que mudou o cardápio, tem muito sangue exótico na cidade. Os alunos novos de intercambio...

Despertar: entre a ordem e o caosOnde histórias criam vida. Descubra agora