Ele coloca o anel em meu dedo, se levanta e nos abraçamos. Derrubo mais lágrimas em seu ombro, mas são de pura felicidade. Apesar da minha memória não estar em perfeitas condições, meu coração sabe que eu o amo. Suas histórias, poucas lembranças que tive, sentir segurança quando estar comigo, uma camisa, e ele são exatamente a confirmação que eu realmente gosto dele. Não importa se ainda não tenho todas lembranças dele agora, mas sei o que sinto.
Levamos um susto após ouvir aplausos e assobios de umas pessoas que estávamos nos observando. Sinto minha bochecha corar, porque nenhum de nós dois prestou atenção neste detalhe.
*
Meu pai estava dormindo no sofá quando cheguei em casa.
Mandei mensagem para ele assim quando saí do restaurante, acredito que nem tenha visto. Porém, a minha mãe está sentada ao seu lado tomando algo na xícara. Ela cutuca o meu pai para que ele desperte, assim que me vê, verifica a hora em seu relógio de bolso retrô, franze as sobrancelhas enquanto se levanta de lá.• Chegou um pouco mais cedo que o combinado
• Antes cedo do que tarde, certo? - Tento subir as escadas, mas ele fala algo baixo, então me viro - O que houve?
• Precisamos conversar com você, querida - sua esposa responde
• Vou tomar um banho, daqui a pouquinho eu desço.Meu pai concorda com a cabeça. Então subo as escadas deixando os dois lá, e a minha mente se enche de perguntas. Penso tanto durante o banho que minha pobre cabeça começa a doer, mas não só isso, o coração que estava feliz, começa a apertar, a respiração fica dificultosa. Desligo o chuveiro, tentando me recompor, encaro o meu reflexo no espelho do banheiro, respiro fundo.
Vejo tudo girar, nego com a cabeça doendo.
O que é isso?
Quando acho que estou perdendo forças, aparece em minha visão, eles dois comigo em uma mesa, peço para isso não acontecer, o meu pai grita comigo, dirijo o carro em velocidade, e então o carro bate, capota e desmaio.Com essa lembrança que retorna a minha memória, sei o que pelo menos aconteceu em meu acidente. Saio do banheiro, troco de roupa e deito chorando durante uns 10 minutos.
Ao me recompor, adquiro a postura ereta que está perfeitamente acostumada, a qual traz o significado que sempre fui assim. Uso um vestido preto até o joelhos, sem nenhuma intenção de dormir agora. Pego o meu celular, abro o chat do Mason, e envio uma mensagem :
- Reunião de família. Espero ter muita paciência durante isso. Acabei lembrando do dia do meu acidente
- Lembra de tudo?
- Claro que sim.Desligo a tela, essa conversa e esses sentimentos podem esperar um pouco.
Desço as escadas naturalmente, indo em direção a mesa do jantar. Sento distante deles, preciso manter a paciência. Sentada aqui, a minha raiva me enche de palavras para soltar, a traição fica rodeando a minha cadeira, e a tristeza quer assumir o comando. Mas nenhuma dessas vai conseguir o que quer.• Querida, antes do seu… acidente, iríamos morar em outro lugar. - sua voz sai calma
• Claro papai, mas para onde?
• Perto da casa dos meus pais, querida - Natália responde
• Por quanto tempo acham que irão me enganar?
• Do que está falando… - o olhar do meu pai indica surpresa.
• Foi por esse motivo que eu quase morri, não foi? - sorrio ironicamente - Vocês quase me mataram!! - esbravejo - A gravidez, a mudança, e o seu grito papai, foram o suficiente para quase me matar…
• Filha… o que você está falando…. Por acaso - ele procura palavras certas - Você lembra de tudo?
• Tá falando sobre o meu acidente? Na qual eu acelerei o carro em busca de sair o mais distante possível de vocês? Eu quase morri, mas foi da dor, não do acidente. O que fiz para querem tirar tudo de mim?
• Tá falando do quê? - Natália levanta de sua cadeira - Quando deixará de ser ingrata por tudo que seu pai e eu temos feito?
• Ah sim, claro. - Levanto da cadeira - Sente-se mamãe, a menos que não queiram mais a minha presença…
• Acha que essa atitude vai ter benefícios para mim? • Tenho problemas suficientes para cuidar…
• Acha que é fácil tudo isso? Tenho que lidar com o meu pai que ama mais a esposa do que a filha, a ponto de tomar decisões sem pelo menos conversar…
• Chloe fique em silêncio, por favor - é um insulto esse pedido - Terminamos amanhã.
• Por quanto tempo a mais acha que eu vou continuar assim? - Respiro o máximo que consigo para acalmar a mim mesma - Uma vez o senhor me disse que não podemos deixar para o amanhã, o que podemos fazer hoje.Já faz 1 mês que o meu acidente aconteceu.
A falta de memória prejudicou-me com muita intensidade, pois achei que fosse doce, calma e feliz conseguiria resolver essa sensação estranha que tinha em mim. Porém, quando encontrei Jesus depois de muitos anos sem querer ter muito contato com o meu passado, entendi que o que ainda me mantinha em pé, era Ele. Porque no final de tudo, havia em mim um pouco de esperança sobre o meu amanhã. As orações que a minha vovó plantou desde do dia que nasci, fortaleceram a semente dela. O que está dentro é ressentimentos, mágoas, dor, tristeza e más lembranças, tenho muitas coisas que não falei, sentimentos que não expôs, e finalmente está na hora de livrar a minha alma desse fardo.Sei que Jesus faria um pouco diferente, mas esse é o momento que tenho. Achei que estivesse chorando por 10 minutos, mas na verdade foi uma hora, acabei cochilando e não percebi, sonhei e lembrei.
É assim que está acontecendo.
Chega de tudo isso.Tenho que viver de jeito diferente!
• Chega papai, até quando não vai mais me ouvir? Por que sempre pede para ser compreensível? Eu sempre fui desde de pequena. Morei com a minha vovó até ela quase falecer, nunca conheci a minha mãe, minha madrasta ela… e o senhor? - olho para ele tentando conter as minhas lágrimas - Nunca percebeu nada!
• Quer falar, então fale de uma vez! - outro grito.
• Me dê um tempo, eu prometo que vou te perdoar por tudo, mas hoje não. Infelizmente preciso de um tempo comigo mesma.
• Fale menina - mais um grito - Conte o que eu fiz de mais! - Sua face mostra desespero pelas minhas próximas palavras, não raiva.
• Nunca tive mãe, e quando acho que poderia ser nós dois, o senhor se casou, mudou de casa e passamos pouco tempo. Quando foi que saímos juntos? Eu ia ao seu local de trabalho, mas ficava lá sozinha. - Minhas lágrimas imploram para sair - E quando eu chorei todas as noites, quando foi que tive seu abraço? Ao contrário, era sempre cobrada para ser uma aluna impecável.
• Cobrar para ser boa não é crime, sabia?
• E ser perfeita? Lembra do meu boletim do 6° ano Passei uma semana trancada no meu quarto, foi daí em então que decidi mudar.
• Suba para o seu quarto!
• Mentiu para mim diversas vezes. Quer que eu me mude para um lugar longe por causa de sua esposa. Sempre foi sobre ela. Sua consciência pesou vendo que a minha postura ficou mais rígida durante os dois anos, por isso que nunca se importou muito para onde ia. Você diz a si mesmo que isso é liberdade para mim.
• Vá para o seu quarto agora - ele desaba em choro, mas pela última vez deixando esse meu antigo eu, subo e ignoro a minha compaixão por ele.[ OIII TUDO BEM? DESEJO QUE SIM!
que situação hem? o papai da Chloe teve um conversa tão desagradável com ela, acredito que isso tenha machucado os dois... vamos torcer para que se entendam...
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SUPERANDO MEUS LIMITES | romance cristão
RomanceQuanto tempo a mais eu conseguirei suportar as coisas que estão presas dentro de mim? Entrar na faculdade e fazer amigos talvez me ajude a ficar mais leve do fardo da perda da minha avó, a falta de fé que me encontro e quando meu melhor foi embora...