48 - Blake

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Estava dentro do carro, Billie não sabia que eu estava aqui, ninguém sabia. Encarei a fachada do ministério público e então finalmente sai do carro.

— Eu tenho um horário marcado com o Promotor de justiça, Doutor Luiz.

A secretaria olhou no papel, pediu meus documentos e assim que terminou, me entregou meus documentos de volta e um crachá de identificação.

Fui até o andar, e esperei na outra recepção, até que ele me chamou.

— Bom dia, Blake, não é?

— Bom dia. Sim.

— Pode se sentar.

Me sentei e o encarei.

— Pode falar.

— Eu quero testemunhar contra ele.

— Tem certeza? No hospital...

— Tenho.

— E o que vai testemunhar?

— Tudo.

— E você pode me contar o que seria tudo?

— E você pode me contar o que seria tudo?

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Estava sentada com Billie ao meu lado. Marcus queria estar, mas alguém tinha que ficar com a Mia, e Lizza insistiu em vir. Mas ela estava sentada no fundo da sala, não queria que ele a visse.

Eu por outro lado, me sentei na primeira fileira.

Não tinha contado para Billie, não tinha contado para ninguém. E seria assim até que me chamassem.

Senti um frio percorrer minha espinha quando chamaram o caso, e ele entrou. Eu estava focada nele, até ouvir um choro e alguém gritar "pai". Encarei de onde vinha a voz, era uma garota de talvez 10 ou 13 anos, no máximo.

Ela tentou abraçá-lo. Mas um oficial de justiça a impediu. Puta que pariu.

O promotor de justiça me olhou, talvez tentando me dar apoio. Eu precisava fazer isso, tinha que protegê-la. Salvá-la.

A audiência começou, algumas vezes, peguei meu "pai" me olhando, me encarando com raiva.

— Vamos chamar a testemunha número dois. Blake Montenegro, nome de solteira Blake Ivanov.

Não ousei olhar para Billie, apenas soltei nossas mãos e fui até o espaço reservado ao lado do juiz. Jurei falar a verdade e me sentei. Era desconfortavel. Não a cadeira, tudo.

Billie estava na minha frente, e eu podia ver Lizza lá no fundo, me encarando preocupada. Não é certo ela ser a pessoa preocupada, eu quem devia ter esse cargo.

— Pode nos contar o que aconteceu no dia 10 de Agosto de 2025? — O promotor perguntou.

Respirei fundo e contei o que aconteceu, tudo o que me lembrava. Sem por nem tirar. Tudo.

— Você achou que ele ia te estuprar?

— Sim.

— Achou que ele iria estuprar a sua filha?

— Sim.

— Suposição, Meritíssimo — o advogado da defesa falou se levantando.

— Tem um motivo — o promotor pediu.

— Pode prosseguir.

— E por que achou que ele iria fazer isso?

— Eu cresci assim, desde que me entendo ele fazia isso. Eu fugi de casa por causa disso.

— Por que fugiu?

— Minha irmã tinha morrido a um ano, menos de um mês após dar a luz a minha irmã, o útero dela foi expelido para fora do corpo. E minha mãe morreu, anos antes, então dia cheguei da escola e ouvi minha Lizza chorando. Ela era uma bebe quieta, tinha 1 ano e meio, mas mal fazia barulho. Qusndi cheguei no quarto, encontrei meu ele — apontei — sem as calças, estuprando ela.

Vi minha irmã no fundo da sala se levantar e sair da sala. Eu nao queria ela aqui por isso.

— Ela tinha 1 ano e meio?

— Sim.

— Sua filha, tem quantos anos?

— Três.

— É mentira, VAGABUNDA — a menina gritou, causando um caos.

— Silêncio — martelou o juiz.

— Quando eu tentei salva-la, ele prendeu minha mão na batente da porta e a fechou — falei olhando a cicatriz.

— É mentira — a menina falou de novo.

Olhei a garota, ela estava abalada, magra demais. Talvez tivesse até mais idade, so estivesse mal alimentada.

— Quando minha irmã mais velha, mãe da minha irmã mais nova, morreu, ele começou a me fazer dormir na cama dele. As vezes ele trazia prostitutas para a casa e me fazia assistir, para eu aprender a como me comportar na cama. Era o que ele dizia, e quando elas iam embora, ele me batia por não ser boa.

Peguei o copo de água sobre a mesa, eu estava tremendo tanto, que não consegui nem mesmo segurar o copo com uma mão só.

— Ele me chamava de coração, toda vez que terminava.

— Pode falar sobre a morte da sua mãe?

— Era inverno, minha mãe era a única que trabalhava, ela dava todo o dinheiro para ele, e ele gastava em álcool, um dia cortaram a luz. Ele acendeu o fogão e queimou o rosto dela, depois a espancou até a morte. A polícia não fez nada, era um bairro perigoso, isso acontecia com mais frequência que o prefeito gostaria de admitir.

— E depois?

— Prendeu eu e minha irmã no armário por uma semana, destrancava apenas para dar um pão e água, e para nos estuprar.

— Obrigada, só isso por enquanto.

— A defesa tem alguma pergunta?

O advogado negou. Então me levantei e fui devolva para o meu lugar. Billie não disse nada, apenas me deu a mão e me abraçou.

Eu estava em tanto choque, tão nervosa, tão estressada, que não conseguia chorar. Eu apenas tremia de ódio.

Quando deu o intervalo, fui levada pelo promotor para uma sala separada.

— Você nunca pensou em me contar? — Minha irmã perguntou quando entrou na sala.

— Eu nunca ia contar. Nunca ia contar nada, para ninguém.

— Eu merecia saber, é a minha vida.

— Lizza, por favor — Billie a chamou.

As olhei de canto de olho. Minha irmã estava chorando. Não é certo isso.

Voltei a olhar para a mão, eu não conseguia levantar o olhar.

— Desculpa, eu não queria que isso tivesse acontecido.

— Para você não me contar?

— É.

Ouvi a cadeira do meu lado de mexer, e vi minha irmã se sentar no meu lado.

— Desculpa — murmurei.

Ela permaneceu em silêncio. Eu estava com medo, e acho que ela também.

— A audiência foi adiada — o promotor falou entrando na sala — o advogado de defesa se demitiu e não pode continuar o julgamento sem um advogado de defesa.

— Então por hoje acabou? — Billie perguntou.

— Sim, podem ir para casa.

Me levantei da cadeira e fui até a porta, eu precisava sair de lá, estava completamente sufocada.

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