Sob as garras da máfia

Capítulo 1 - Laura

Capítulo 1

Laura

Anos depois...

Estacionei o carro no centro de Chicago e respirei fundo antes de abrir a porta, sentindo o ar quente do verão deslizar pelo rosto assim que saí. O sol estava inclemente, e uma leve camada de suor já se acumulava em minha pele. Chicago parecia uma panela fervente em feriados como este, o trânsito caótico e o calor intenso me lembravam do porquê de amar dias frios. Caminhei rapidamente até a entrada do restaurante, feliz em sentir o frescor do ar-condicionado envolver meu corpo ao passar pela porta.

Assim que entrei, localizei a recepcionista e, informando que uma amiga me aguardava, fui guiada até a mesa. Lá estava Amanda, minha melhor amiga, alguém que fazia parte de quase todas as lembranças da minha vida. Ao vê-la, uma sensação de conforto me preencheu. Nossos olhos se encontraram, e ambos os rostos abriram-se em sorrisos.

— Oi, amiga — cumprimentei, sentando-me à frente dela com um sorriso que transparecia a familiaridade entre nós.

Ela revirou os olhos, já brincando comigo:

— Atrasada como sempre.

— O trânsito estava infernal — expliquei com uma risada leve. — Sabe como é em feriado. A cidade vira um caos.

O garçom chegou para anotar nossos pedidos, e enquanto ele se afastava, me inclinei para perguntar:

— E aí, como foi o trabalho hoje?

Amanda suspirou, passando as mãos pelos cabelos loiros e dando um olhar que transmitia cansaço e frustração.

— Ah, o mesmo de sempre. Sindy me enlouqueceu de novo... — E começou a contar, em um tom quase resignado, os detalhes da manhã.

Quando nossos pratos chegaram, o aroma do meu macarrão a quatro queijos e batatas fritas me fez sorrir e minha boca salivar. Estava louca para me deliciar com algo tão saboroso. Já o prato da minha amiga me fez torcer o lábio, era só um monte de folhas coberto por um molho estranho que fez estomago reclamar só em olhar.

— Sério, você vai comer isso? — perguntei, sem conseguir esconder a repulsa. Ela riu, mas havia uma pitada de tristeza em seus olhos.

— É uma das novas dietas dos famosos, amiga. — Falou com um brilho estranho no olhar, como se esperasse que aquela fosse, finalmente, a dieta milagrosa.

Seus olhos pareciam buscar minha aprovação, mas tudo o que consegui sentir foi um pesar. Ambas sempre lutamos contra a balança e, mais do que isso, contra uma sociedade que nos fazia sentir inadequadas. Eu já havia passado por incontáveis dietas e tratamentos; essa busca incessante por aceitação havia me machucado de formas que Amanda nem sabia. Meu coração doía por vê-la naquele mesmo caminho.

— Olha, eu entendo — comecei, escolhendo as palavras com cuidado —, mas sei o que é essa luta, e sei onde ela nos leva, Amanda... A única coisa que essas dietas sempre me trouxeram foi frustração. Sei que parece impossível, mas talvez você devesse focar em algo que realmente te faça feliz.

Ela olhou para o prato por um instante e depois para mim, soltando um suspiro pesado. A dor e o conflito em seu olhar me atingiram com força.

— Eu só queria ser vista, sabe? Não me incomodo de ser assim, mas parece que ninguém... ninguém realmente me vê. — Seus ombros caíram um pouco, como se toda a insegurança que guardava se revelasse naquele instante.

Estendi minha mão sobre a mesa e toquei a dela, apertando de leve.

— Amanda, você é linda. E é mais do que isso... você é uma pessoa incrível. Sei que essa busca por um padrão parece uma solução, mas ela só nos prende. — Tentei colocar em palavras a esperança que, aos poucos, tinha aprendido a cultivar. — Eu também já tentei de tudo, mas hoje eu percebo que o problema nunca foi meu corpo. A sociedade quer que a gente se sinta assim.