Oliver e Amanda

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Prólogo

Oliver

Aos três anos...

Mais um grito ecoou pela casa e me escondi entre as cobertas. Era sempre assim quando papai estava em casa.

— Mamãe... — chamei seu nome, mas ela não ouviria.

Papai estava batendo nela. Ele sempre fazia isso quando estava com raiva. Era errado, eu sabia e até queria impedir, mas o que faria? Tinha apenas 3 anos.

— Oliver? — ouvi a voz do meu irmão e retirei o lençol que estava sobre mim para o olhar.

— Tyler. — meu lábio tremeu ao falar seu nome.

— Oi, bebê. — ele sorriu. Algo que não era sempre.

Meu irmão não era muito velho, mas era grande e inteligente. Não deixava nosso pai me bater, era sempre ele que levava as surras. Tyler me dizia que um dia tudo isso acabaria e nós viveríamos felizes com a nossa mãe. Eu acreditava nele. Um dia seriamos felizes.

— Como você está bebê? — ele subiu na cama e me abraçou.

— Papai está bravo. Ele... Ele...

— Sim, eu sei. — mais gritos ecoaram me fazendo temer o pior.

Meus olhos encheram de água e comecei a chorar. Tinha medo, queria que nossa família fosse normal. Que papai nos amasse.

— Por que ele faz isso? — funguei. — Mamãe é boa, é gentil.

Ele deveria cuidar dela e não a machucar.

Ele alisou meus cabelos com seus dedos. Eu gostava do meu cabelo, era grande assim como o do meu irmão.

Mamãe sempre o penteava e dizia o quanto ele era lindo.

Talvez ela fizesse isso porque não tinha filha mulher para mimar.

— Papai é mal. — seu olhar ficou distante. — Mas nunca vou deixar que ele machuque você. — ele tocou meu nariz.

Tyler era forte para sua idade. Ele tinha alguns anos a mais que eu. Um dia ouvi papai dizendo que o faria um homem forte, que mataria todos sem remorso. Que seria um assassino.

Não sabia o que era isso, mas algo me dizia que não era bom.

— Mamãe ficará bem?

— Sim, ela é forte. Ficará tudo bem.

— Amo você, irmão. Quando eu for grande e me casar, nunca machucarei minha mulher.

Tyler riu.

— Minha mulher? Onde ouviu isso? E você é muito novo para pensar nessas coisas.

— Mas é verdade! Vou amá-la muito. E papai chama nossa mãe de minha mulher. Eu já o ouvi chamar algumas vezes.

— Acredito em você, bebê. Será um bom homem quando crescer. Vou me encarregar disso.

Bocejei. Era bem tarde e eu estava cansado.

— Te amo, irmão. Agora durma, bebê. Amanhã será um novo dia.

Aconcheguei-me no colo do meu irmão e fechei os olhos para dormir. Demorei um pouco, mas quando os gritos pararam eu consegui dormir.

[...]

Meses depois...

Mais uma noite de terror era ouvida na nossa casa. Dessa vez não só mamãe apanhava, mas Tyler também.

Ele tentou enfrentar nosso pai que estava agredindo mamãe, mas por ser uma criança ainda acabou sendo surrado. Eu andava devagar para que meu pai não me ouvisse e me batesse também.

Ao chegar ao quarto da minha mãe, a vi encolhida e parecia estar chorando. Corri até ela e subi na cama.

— Mamãe... — chorei agarrado a ela. — Mamãe...

— Oh! Meu amor. Não chore, meu menino lindo.

— Ele te bateu de novo. — toquei seu rosto. Ele estava machucado, seu lábio sangrava.

— Seu pai anda estressado com coisas do trabalho, mas tudo vai melhorar, eu sei.

— Mamãe... Tyler apanhou também. — ela limpou minhas lágrimas.

— Ele estava me defendendo, ele nos protege. — sorriu fraco. — Mas seu pai não vai bater mais em vocês. Tudo melhorará agora.

— Como pode saber? Papai é mal.

— Apenas sei. — Ela levou a mão à barriga. — Você vai ganhar mais um irmãozinho.

Arregalei os olhos e olhei para sua barriga.

— Outro irmão? — toquei sua barriga. — Tem um bebê aqui?

Ela sorriu. Mamãe era linda e seu sorriso iluminava o mundo.

— Sim. Um irmão para você proteger, para amar e cuidar. Serão meus três amores e se tornarão homens lindos e honrados.

Ela me abraçou e beijou minha cabeça.

— Vou cuidar dele, mamãe. Eu prometo.

Ela me apertou em seus braços e começou a chorar.

— Amo você, meu menino lindo. — passou as mãos nos meus cabelos. — Amo vocês.

— Também te amo, mamãe.

Naquele dia eu dormir nos braços da minha mãe na esperança de que tudo ficaria bem. Contudo, isso não era verdade.

[...]

Nascimento de Romeo...

Levei a mão ao peito, o sentindo doer. Odiava ouvir os gritos da minha mãe, mesmo sendo para trazer meu irmão mais novo ao mundo.

O bebê na barriga dela estava para nascer, mas seus gritos me arrepiavam e me traziam lembranças ruins.

— Por que mamãe está gritando, irmão?

— Ela está tendo o bebê, já disse. — Tyler falou sem paciência.

Ele havia mudado muito nos últimos meses. Estava mais fechado, duro, frio. Sabia que isso tinha a ver com nosso pai. Papai tirava o melhor das pessoas e as machucava até só restar tristeza e dor. Não via a hora de não estarmos mais nas mãos dele.

— Mas eu não gosto de ver a mamãe sofrendo. Era para o papai estar aqui!

— ELE NÃO SERVE PARA NADA! — bradou Tyler, me assustando.

— Desculpe, bebê. — ele veio até mim e me abraçou. — Nossa mãe vai ficar bem, nosso irmão virá ao mundo e protegeremos e cuidaremos deles.

— Sim! Cuidarei dos dois. Da minha família.

Meu irmão sorriu sem mostrar os dentes e logo um choro rompeu o ambiente.

Sorri feliz e abracei meu irmão que bagunçou meu cabelo.

Quando a mulher que ajudou minha mãe a ter o bebê disse que poderíamos vê-lo, nós corremos escadas acima e entramos no quarto da nossa mãe.

— Oi, meus meninos. Venham conhecer o irmão de vocês. — ela sorriu.

Seu rosto estava pálido e ela parecia bem cansada.

Nós nos aproximamos dela e ela nos mostrou o nosso irmão.

Não o achei bonito, tinha o rosto enrugado e chorava muito. Mas seus olhos eram grandes e bem escuros como a noite. Seu cabelo era escuro também. Diferente de Tyler e eu que éramos loiros e de olhos azuis.

Romeo era diferente de nós, mas eu já o amava muito.

Eu iria sempre protegê-lo.

Protegeria todos que eu amava e faria disso a minha sina. 

Sob as garras da máfiaOnde histórias criam vida. Descubra agora