Capítulo 24 - Romeo

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Capítulo 24

Romeo

A partir do momento que tudo aquilo aconteceu entre mim e Laura, eu sabia que cairia em um abismo sem fim. O lugar para onde eu estava indo agora confirmava isso.

Eu havia voltado a dar lugar à escuridão que havia em mim e não havia mais volta.

Estava atormentado por tudo o que fizera a Laura e precisava de um escape para a dor que me atormentava, consumia. Que me matava lentamente.

Foi em busca de sanar essa dor que parei meu carro em frente a uma casa de lutar clandestina e desci. Ao encarar o edifício a minha frente soltei um suspiro dolorido. Estava prestes a fazer algo que prometi a mim e aos meus irmãos não voltar a realizar. Todavia, eu estava sendo fraco, caindo em um abismo sem que nada pudesse me parar dessa vez.

Parara de lutar a alguns anos, pois Victoria se apavorava a me ver machucado, mas hoje eu precisava disso. Precisa de sentir a dor física: ela seria melhor que a dor que consumia minha alma.

Reuni as forças que já não tinha e adentrei o estabelecimento de lutas clandestinas.

— Ora, ora. Se não é Romeo DiFronze em pessoa bem aqui na minha frente. — Uma voz que eu conhecia muito bem chegou aos meus ouvidos. — A que devo a honra de sua visita, meu caro? — deboche dançou em sua voz.

Lazaro Costello, o dono da arena onde eu pretendia lutar, veio me receber pessoalmente.

— Lazaro Costello. — o saudei, indiferente.

Lazaro, assim como eu e meus irmãos, era um criminoso no submundo conhecido por suas arenas lucrativas de lutas clandestinas e o responsável por eu ter me tornado o lutador que sou hoje. Meu pai era seu amigo de longa data e o pedira para fora nosso professor de luta. Com Lázaro aprendemos diversos estilos de luta livre e marciais.

Meu pai sempre exigiu que fossemos os melhores em tudo. Ele dizia que não havia nascido para ter filhos fracos, tínhamos que ser os melhores, sem medo, sem remorsos. Apenas lutar e matar a todos que se colocavam em nosso caminho.

— O que deseja o executor da Chicago Outfit em meu humilde estabelecimento?

— De humilde a Costellos não tem nada, Lazaro. — comentei com um revirar de olhos e ele gargalhou e assentiu com a cabeça.

Suas arenas levavam seu sobrenome e era um fenômeno no submundo do crime tanto de Chicago como fora dele.

— Sim, realmente não têm, mas gosto de me manter humilde. Sabe como é. — me deu uma piscadela e bufei impaciente.

— Mas como deve supor, eu vim em busca de uma boa luta. Soube que recrutou novos lutadores. E que há um que é um fenômeno lutando, não perdera uma luta desde que chegou aqui.

Seus olhos brilharam ao ouvir-me falar de seu pupilo. Lazaro buscava sempre os melhores lutadores e Breno Garcia, o lutador ao qual eu me referia, era o nome mais falado entre os lutadores e fãs das lutas clandestinas nos últimos meses.

— Sim, Breno é um fenômeno e jamais perdera uma luta. Ele, depois que você se aposentou desse meio, se tornou o nome mais cotado para as lutas, sejam elas mortais ou não.

Sabia que lutas mortais era somente para os adversários de lázaro ou a quem ele queria testar. Eu não buscava uma luta mortal, exceto se fosse eu a matar, contudo, não queria tirar a vida de um garoto só por estar furioso comigo mesmo por machucar Laura da pior forma.

Meu peito sufocou com a lembrança dela suplicando para que não a machucasse e depois o ódio que se revelou em seus belos olhos ao me contar que um filho meu cresce em seu ventre. Um filho que ela não queria estar carregando por ser meu, por ter meu sangue. O sangue do homem que mais a machucou.

O amor que compartilhamos nas últimas semanas se tornou meu tormento, minha sina, pois eu fui o responsável por desfazê-lo e fazer nascer ódio em seu lugar. Fui o responsável por tornar algo belo no pior dos pesadelos para a única mulher que realmente conseguiu entrar no meu negro coração.

— Vejo que não está bem, Romeo — a voz de Lázaro me trouxe para a realidade e fez minha mente se dissipar do seu tormento vivo. — Deixemos essa luta para outro dia, sim?

— Não! Eu lutarei. — fui categórico. — Não será uma luta de morte, mas diga ao seu pupilo que não pegue leve, pois farei o mesmo. Necessito de uma briga limpa, sem armas, apenas as mãos. Estou louco para dar uns bons socos. — Sorri maléfico, apertando os punhos.

— Tudo bem. — ele se deu por vencido. — Vá para a arena que Breno logo se juntará a você.

Concordei com a cabeça e rumei para a arena. Havia sangue nas grades e no chão, o que indicava que acabara de acontecer algumas lutas. Não me atentei a isso e pulei para dentro da arena. Palmas e gritos eufóricos soaram e isso me fez vibrar.

Muitos ali me conheciam e estavam indo ao delírio por me ver lutar depois de tantos anos. Uma pequena chama se acendeu em mim ao me dar conta disso e um sentimento de saudade se abater sobre mim, mas todas essas sensações se foram quando a verdade por trás do que me levou até ali tomou o lugar delas.

Fechei os olhos por alguns instantes e imagens minhas e de Laura povoaram minha mente. Imagens belas de nós dois nos amando com loucura, dela sorrindo e brincando com Victoria, dos seus lábios em meu corpo, do seu sorriso ao estar satisfeita após gozar várias vezes durante nossas transas. Dos seus olhos brilhando ao dizer através deles que me ama, me amava, ao fazermos amor com carinho e devoção.

As belas imagens que me tornaram vivo por infinitas horas, dias, semanas.

Então essas imagens foram substituídas pelo vídeo dela com o infeliz do Brean, de mim confrontando-a, dela chorando e me suplicando para acreditar em suas palavras, pelo som do seu choro sofrido, pela dor refletida sem seus olhos, devido às palavras terríveis que lhe proferi.

Essa dor me perseguiria para sempre e mesmo que ela me perdoasse algum dia, o que ei achara difícil. A dor que lhe causei me atormentaria, mataria gradualmente, até não restar nada além da escuridão que sou, fui e sempre serei.

— O implacável Romeo Difronze em pessoa na minha frente? — a voz do meu oponente me trouxe ao presente.

Abri meus olhos e o encarei.

A primeira coisa que me pegou fora sua imagem, não por ser feio, pois isso pouco me importa, mas sim por ser apenas um garoto. Breno não deveria ter mais do que 22 anos, era moreno, possuía cabelo escuro como a noite e tão alto e forte como eu. Seu corpo chocava a quem via devido à quantidade de músculos que possuía ainda sendo tão jovem.

Mas o mais chocante eram seus olhos negros e sem vida. Havia uma escuridão neles, escuridão essa que eu conhecia muito bem, pois também a possuía por fazer parte de uma organização criminosa e ter que realizar as piores barbáries, barbárie essas que muitas vezes eu amava fazer. Embora depois do nascimento de Victoria essa escuridão tenha amenizado um pouco, ela ainda ardia dentro de mim.

— Pronto para uma luta de verdade? Não sou como seus oponentes anteriores. Pena por você ser apenas um garoto é algo que não tenho. Eu bato e bato para machucar, fazer sangrar, deixar meu oponente irreconhecível. Então, Breno, pronto para alguém a sua altura?

Um sorriso sinistro e mortal se desenhou em seus lábios. Ele sacudiu os braços e estalou o pescoço.

— Esperei por isso minha vida inteira. — algo em sua voz denunciou a ânsia que possuía em me enfrentar.

Talvez por saber da minha fama nas arenas, ou por simplesmente querer mostrar-se maior que qualquer outro, pois bem, essa era a hora dele mostrar a que veio, pois eu não tinha a menor intenção de me defender.

Fora ali em busca de sentir a dor física para aplacar a dor que me consumia por dentro e Breno me ajudaria com isso.

Eu era um fodido de merda que nada merecia de bom. 

Sob as garras da máfiaOnde histórias criam vida. Descubra agora