Capítulo 2 - Laura

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Capítulo 2

Laura

Eu olhei para o GPS pela quinta vez enquanto dirigia, meu estômago apertado com a ansiedade crescente. A rua estava deserta, e uma sensação estranha se apossava de mim. Eu não gostava daquilo. O bairro afastado, sem vida, parecia um daqueles cenários em que nada de bom poderia acontecer. Os estabelecimentos comerciais estavam fechados, os poucos que restavam na área, e o feriado se aproximando apenas deixava tudo mais sombrio, mais vazio.

"Talvez eu devesse ir embora", pensei, meu instinto gritando para virar o volante e sair dali. Mas eu sabia o que aconteceria se eu simplesmente fugisse. Miriam, minha chefe, não aceitava esse tipo de comportamento. Ela sempre dizia que no trabalho, a única coisa que importava era a venda. Eu não tinha escolha. Se não cumprisse o que me foi designado, perderia a oportunidade — e talvez o emprego. Tudo o que eu queria era continuar naquele maldito trabalho até o dia que pudesse, mas Miriam não gostava de fracassos. E ela não aceitaria me ver falhar.

Suspirei, engolindo o medo, e então vi o carro vermelho estacionado diante do prédio onde o cliente deveria estar esperando. Um carro esportivo. Era ele. O comprador. O coração disparou, um mix de alívio e pavor. Eu tinha que ir. Não dava para fugir agora.

Pulei do carro e, com as pernas bambas, me aproximei do edifício. Ele era grande, imponente, mas de uma forma que parecia opressiva, como se estivesse engolindo tudo ao seu redor. O parque industrial, onde o local se localizava, tinha essa sensação de desolação que me deixava desconfortável. Uma vez lá dentro, o ambiente parecia frio, como se as paredes quisessem me engolir.

A placa antiga do lado de fora me deu uma informação que eu não esperava. A antiga companhia de transportes que ocupava o prédio era desconhecida para mim. Isso não me ajudou a aliviar a sensação de estranheza que eu já sentia. Mas, com um esforço, deixei o medo de lado e segui, um passo atrás do outro, até empurrar as portas duplas de vidro. A sensação de estar invadindo um lugar vazio me paralisava por um segundo. As portas não estavam trancadas. Algo que me incomodou ainda mais.

"Eu não gosto disso", murmurei para mim mesma, sem coragem de ir embora.

Eu estava ali para o trabalho. Era minha obrigação, e, mesmo que tudo dentro de mim gritasse para eu desistir, eu sabia que se não o fizesse, Miriam me faria pagar caro. Virei os calcanhares e entrei, a porta rangendo atrás de mim. O lugar estava escuro, coberto por poeira, e o ar estava pesado. Tudo estava em silêncio. Aquele silêncio era de outra pessoa, mas meu coração começou a bater mais forte, sentindo como se ele estivesse se tornando meu.

Procurando por um interruptor, encontrei-o e iluminei o ambiente. As luzes acenderam, e eu soltei um suspiro aliviado, embora ainda tivesse o sentimento de que algo estava errado. Aquele ambiente parecia abandonado, como se ninguém tivesse tocado naquele lugar em anos.

"Sr. Willian?", chamei, minha voz ecoando pelo espaço vazio.

Nada. O silêncio se fez ainda mais denso. O medo tomou conta de mim e comecei a questionar tudo. Se esse cliente era mesmo quem dizia ser. E se ele estivesse esperando me atrair para algo terrível? E se fosse uma armadilha, um criminoso querendo algo mais de mim do que uma simples venda? Minha mente correu para os piores cenários possíveis. Seria eu a próxima vítima?

"Estou vendo muitos documentários de psicopatas, isso está me afetando", resmunguei, tentando me convencer de que o medo não passava de uma alucinação.

Caminhei pelo edifício, tocando as portas, e todas estavam destrancadas, o que só me deixou mais ansiosa. Olhei em volta, e, ao não ver ninguém, comecei a me perguntar se o cliente sequer tinha vindo. Fui até o hall mais à frente, hesitante, mas com a obrigação me empurrando para frente. As luzes piscavam e a escuridão parecia se aproximar de mim a cada passo. Meu corpo estava encharcado de suor frio, e a sensação de medo parecia me consumir.

Foi então que vi as portas de um escritório à frente. O carro vermelho estacionado na entrada poderia ser de Willian. Ele estava lá, mas o silêncio persistia. Engoli em seco e dei mais um passo.

"Não, Laura. Você não pode fazer isso. Você precisa ir embora", minha mente gritava, mas eu me forçava a seguir em frente, atravessando o corredor. Cada passo era mais difícil que o anterior, como se algo estivesse me puxando de volta para a porta de saída, mas o compromisso falava mais alto.

"Sr. Willian?", chamei mais uma vez, minha voz trêmula, quase perdida na imensidão do lugar. Eu não sabia o que mais temia: a presença de alguém ou a solidão daquele lugar.

Cheguei finalmente à porta do escritório. A luz estava apagada. Eu entrei sem pensar, a maçaneta fria nas mãos trêmulas. Meu corpo todo estava em alerta, e a cada segundo que se passava, minha mente começava a ficar cada vez mais apavorada. O que estava acontecendo ali? Por que não havia luz? Eu queria sair. Não tinha mais certeza de nada, só sabia que não queria estar ali.

Olhei ao redor, o escritório vazio à minha frente, e de repente algo me fez congelar. Não era o que eu esperava.

A porta estava entreaberta, e, ao empurrá-la com a mão trêmula, o que vi no interior fez meu estômago revirar e os pés ficarem pesados. Algo estava errado. Era como se o próprio prédio respirasse, e, de repente, senti como se ele estivesse me observando.

Fodeu!

Sob as garras da máfiaOnde histórias criam vida. Descubra agora