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O som suave de uma melodia clássica preenchia o grande salão da casa de campo. Lá fora, as folhas de outono caiam lentamente, pintando o chão com tons de laranja e amarelo. Era uma tarde tranquila, e o crepúsculo se aproximava, tingindo o céu de cores suaves. Na lareira, o fogo crepitava baixinho, aquecendo o ambiente com uma luz dourada.
Cate estava sentada em uma poltrona de couro ao lado da lareira, uma taça de vinho tinto na mão, seus olhos perdidos na dança das chamas. A tranquilidade daquele lugar parecia ecoar seus pensamentos. Desde que chegara àquela casa para o pequeno retiro de fim de semana, ela se sentia estranhamente em paz, mas também inquieta de uma maneira que não conseguia explicar completamente. Algo estava diferente.
"Estou me perguntando o que você tanto pensa quando fica nesse silêncio profundo," a voz de Adele soou atrás dela, suave, mas cheia de curiosidade.
Cate sorriu, sem desviar o olhar do fogo. "Você consegue ler minha mente agora?"
"Talvez," Adele respondeu com uma risada, aproximando-se e sentando-se na poltrona ao lado de Cate, uma xícara de chá nas mãos. "Ou talvez seja só que você fica com essa expressão quando está pensando demais."
Cate finalmente se virou para olhar para Adele, seus olhos azuis encontrando os de Adele com aquela familiar mistura de intensidade e suavidade. Era algo que sempre a surpreendia — como uma mulher que poderia encher estádios com sua voz incrível e presença imensa também conseguia ser tão genuína, tão real e cheia de calor quando estavam a sós.
"Estava pensando em nós," Cate confessou, seu tom mais leve, mas carregado de significado.
Adele arqueou uma sobrancelha, um sorriso brincando em seus lábios. "Isso soa sério."
Cate deu uma risada baixa e tomou um gole de seu vinho antes de responder. "Não é tão sério assim. Só... pensando no que temos aqui."
"Você quer dizer... aqui, nessa casa, ou aqui, entre nós?" Adele perguntou, sua voz levemente brincalhona, mas com uma curiosidade real por trás de suas palavras.
"Entre nós," Cate respondeu, sua voz baixa, mas firme. "Nos últimos meses... tem sido diferente, sabe? Mais do que eu imaginava. Nós duas ocupamos espaços tão grandes em nossas vidas profissionais, e eu achava que isso poderia ser uma barreira. Mas aqui estamos nós. E, honestamente, eu não consigo parar de pensar em como é... bom."
Adele ficou em silêncio por um momento, seus olhos observando Cate com atenção, como se estivesse escolhendo suas próximas palavras com cuidado. "Eu também tenho pensado muito nisso," ela começou lentamente, virando a xícara de chá em suas mãos. "Quando tudo isso começou, eu pensei que seria algo temporário, algo casual... Mas não é. Pelo menos, não pra mim."
Cate sentiu seu coração acelerar um pouco, mas ela manteve sua expressão tranquila. "Não é temporário para mim também," ela confessou, inclinando-se um pouco na poltrona, suas mãos descansando no braço do móvel, os dedos levemente entrelaçados.
Adele colocou sua xícara na mesinha ao lado e se inclinou para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos. Seus olhos castanhos brilharam à luz do fogo, e Cate pôde ver a profundidade de seus sentimentos ali, sem filtros, sem barreiras. "Eu não sou boa em esconder as coisas, Cate. Nunca fui. E não acho que eu conseguiria esconder o que sinto por você, mesmo se quisesse."
Cate respirou fundo, sentindo o peso das palavras de Adele e como elas reverberavam em seu peito. Ela sabia que havia algo mais profundo entre elas, algo que ia além da simples atração ou da curiosidade inicial. Era algo que crescia lentamente, mas com força, um laço que não poderia ser ignorado.
"Então não esconda," Cate respondeu, sua voz suave, mas determinada. "Não precisa esconder nada de mim. Nós duas já lidamos com tanta coisa no mundo lá fora... Aqui, podemos ser honestas. E eu... eu também não quero esconder como me sinto."
Adele sorriu de um jeito que fez o coração de Cate saltar. "Então me diga," ela desafiou, sua voz baixa, quase um sussurro, mas com uma intensidade que enchia o ar ao redor delas. "Como você se sente?"
Cate se levantou lentamente da poltrona, caminhando até onde Adele estava. Ela parou na frente dela, a diferença de altura ligeiramente acentuada pela maneira como Adele estava sentada. Mas em vez de se inclinar, Cate estendeu a mão, puxando Adele suavemente para ficar de pé também.
As duas ficaram frente a frente, tão próximas que Cate podia sentir a respiração de Adele, lenta e controlada. "Eu me sinto... sortuda," Cate começou, sua mão deslizando pelo braço de Adele até descansar em sua cintura. "Porque eu sei o quão rara é essa conexão. E, honestamente, eu não pensei que encontraria isso de novo."
Adele, que sempre soube como usar as palavras para tocar as almas das pessoas através de suas músicas, agora parecia momentaneamente sem palavras. Ela sorriu, aquele sorriso pequeno, sincero, que sempre fazia o peito de Cate se apertar de emoção.
"Eu também me sinto assim," Adele finalmente disse, suas mãos pousando delicadamente nos ombros de Cate. "Cate, você tem uma calma que equilibra meu caos, uma força que me faz sentir que posso enfrentar qualquer coisa."
As palavras pairaram no ar entre elas, e a única resposta que Cate pôde dar foi se aproximar ainda mais, seus lábios tocando os de Adele com uma suavidade que só crescia com a intensidade daquele momento. O beijo era doce, mas cheio de promessa — de algo mais, de algo duradouro.
Quando se separaram, Adele encostou sua testa na de Cate, o sorriso ainda nos lábios. "Eu quero isso. Quero nós. Quero você."
Cate fechou os olhos por um breve momento, absorvendo o peso daquelas palavras antes de responder. "E eu quero tudo isso com você."
Elas ficaram ali, abraçadas diante da lareira, o calor do fogo combinando com o calor que agora emanava de seus corpos, enquanto o crepúsculo lá fora transformava o dia em noite. Não importava o que o mundo lá fora trouxesse, ali, naquele instante, tudo parecia certo.
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