21. Atlas

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Muitas coisas na minha vida já me deixaram com raiva, mas nada me deixou tão furioso como ver a tatuagem de Lily e as marcas de cicatrizes em forma de mordida que a cercavam.

Nunca vou entender como um homem é capaz de fazer isso com uma mulher. Nunca vou entender como um ser humano é capaz de fazer isso com alguém que ele deveria amar e querer proteger.

No entanto, o que eu entendo é que Lily merece algo melhor. E eu serei a pessoa que vai lhe dar esse algo melhor. Começando por este beijo que não conseguimos interromper. Sempre que paramos para nos olhar, voltamos ao beijo na mesma hora, como se tivéssemos de compensar todo o tempo perdido num único beijo.

Vou dando beijos em seu queixo até chegar à sua clavicula. Sempre gostei de beijá-la ali, mas foi somente quando li seu diário que descobri o quanto ela gostava que eu beijasse essa parte do seu corpo. Pressiono os lábios em sua tatuagem, determinado a fazê-la se lembrar das partes boas de nós dois em todos os beijos futuros que vou lhe dar bem aqui. Se ela precisar de um milhão de beijos na sua tatuagem de coração para não pensar mais nas cicatrizes, vou lhe dar um milhão de beijos e ainda mais um.

Dou beijos no seu pescoço, depois no seu queixo. Quando a olho de novo, coloco a alça do seu vestido no lugar, pois, por mais que eu pudesse passar horas aqui, preciso levá-la ao casamento.

- É melhor a gente ir - sussurro.

Ela assente, mas eu a beijo de novo. Não consigo me segurar. Estou esperando este momento desde a adolescência.

Nem sei direito como foi o casamento, pois estava mais con- centrado em Lily do que em qualquer outra coisa. Eu não conhecia ninguém, e depois de finalmente beijá-la esta noite, foi dificil não pensar no quanto queria que aquilo se repetisse. Dava para perceber que Lily queria que estivéssemos a sós tanto quanto eu. Foi uma tortura ser obrigado a ficar sentado pacientemente ao seu lado depois do que aconteceu entre nós no seu corredor.

Assim que chegamos à recepção, Lily viu como estava cheio e ficou aliviada. Disse que Lucy jamais perceberia se nós dois saíssemos cedo, e eu nem conheço Lucy, então por mim isso estava ótimo. Depois de meia hora socializando, ela agarrou minha mão e nós dois saímos de fininho.

Acabamos de parar o carro no prédio de Lily, e embora tenha quase certeza de que ela quer que eu suba também, não vou presumir nada. Abro a porta e espero enquanto ela se calça. Ela tirou os sapatos no carro porque estavam machucando seus pés, mas parecem difíceis de afivelar. Eles têm tiras, e Lily está no banco do passageiro tentando ajeitá-las. Mas duvido que ela queira andar descalça pelo estacionamento do prédio.

- Posso te carregar nas costas.

Ela me olha e ri como se eu estivesse brincando.

- Quer me levar nas costas?
- Quero. Pegue os sapatos.

Lily me encara por um instante, mas depois sorri como se estivesse entusiasmada. Eu me viro, e ela ainda está rindo quando seus braços se enroscam no meu pescoço. Eu a ajudo a subir nas minhas costas e depois fecho a porta do carro com um chute.

Quando chegamos ao seu apartamento, inclino-me para que ela possa usar a chave e destrancar a porta. Depois de entrarmos, ela ri enquanto a coloco no chão. Eu me viro bem na hora em que ela solta os sapatos e começa a me beijar de novo.

Vamos continuar de onde paramos, pelo jeito.

- A que horas você precisa voltar para casa? pergunta ela.

- Falei para Josh que estaria lá umas dez ou onze da noite. Olho a hora, e passou um pouco das dez da noite. - Devo ligar para ele e dizer que talvez eu me atrase?

Lily confirma.

- Com certeza você vai se atrasar. Ligue para ele enquanto vou pegar uma bebida pra gente.

Ela vai até a cozinha, então pego meu celular e ligo para Josh. Faço uma chamada de vídeo para conferir se ele não está dando nenhuma festa lá em casa. Duvido que Theo fosse permitir isso, mas não ponho a mão no fogo por nenhum dos dois.

Quando Josh atende a chamada de vídeo, o celular está no chão. Vejo seu queixo e a luz da televisão. Ele está segurando um controle.

- A gente está no meio de um torneio - explica.

- Só queria saber como estão as coisas por aí. Tudo bem?

- Tudo! - grita Theo.

Josh começa a sacudir o controle, e a apertar botões, mas depois de grita: Merda! - Ele joga o controle para o lado e pega o celular, aproximando-o do rosto. - Perdemos.

Theo aparece atrás dele.

- Você não parece estar num casamento. Que lugar é esse? Não respondo.

- Talvez eu chegue um pouco tarde hoje.

- Ah, você está na casa da Lily? - pergunta Theo, aproximando-se da tela do celular. Ele está sorrindo. - Você finalmente a beijou? Ela está me ouvindo? Que cantada você deu para que ela te convidasse para a casa dela? Lily! Vimos sua amiga se casar, então que tal a gente tran...

Desligo imediatamente antes que ele conclua a rima, mas Lily ouviu a conversa inteira. Ela está a alguns metros de mim, segurando duas taças de vinho. Está com a cabeça inclinada, confusa.

- Quem era aquele?
- Theo.
- Quantos anos ele tem?
- Doze.
- Você conversa sobre a gente com um menino de doze anos?

Lily parece estar achando graça. Pego uma taça com ela, e, antes de tomar um gole, digo:

- Ele é meu terapeuta. Tenho sessões com ele todas as quintas às 16 horas.

Ela ri.

- Seu terapeuta está no ensino fundamental?
- Está, mas ele vai ser demitido em breve.

Ponho a mão na cintura de Lily e a puxo para perto. Quando a beijo, ela está com o gosto do vinho tinto que serviu. Beijo-a mais intensamente para sentir o gosto melhor. Para senti-la melhor.

Após se afastar, ela comenta:

- Que estranho.

Não sei o que ela está achando estranho. Espero que não seja nós dois, pois estranho é a última palavra que eu usaria Para descrever isto aqui.

- O que é estranho?

Você estar aqui. Não ter uma criança aqui. Não estou acostumada a ter tempo livre, ou... a ter tempo para qualquer homem. - Ela toma outro gole de vinho e depois se separa de mim. Põe a taça na bancada e se dirige ao quarto. - Venha, vamos aproveitar.

Vou atrás dela com uma rapidez impressionante.

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