Viginti Unus

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CATE

Acordei com uma dor de cabeça tão forte que, por um momento, pensei que o meu crânio ia rachar. Pisquei os olhos, tentando focar-me no que me rodeava, mas só conseguia ver sombras e ouvir o som de correntes a arrastar-se pelo chão de pedra enquanto me tentava mover. A primeira coisa que senti foram as algemas nos meus pulsos. Elas pulsavam, como se estivessem vivas, uma energia fria e sufocante a prender-me os movimentos. Arregalei os olhos e, de imediato, reconheci-as: eram algemas de controlo, iguais às que os dissidentes usaram para limitar o Petrus.

O meu estômago deu uma volta. Se estavam a usar aquilo em mim, era porque sabiam exatamente o que queriam... e que estão com medo do que eu possa fazer sem elas.

Então olhei para os meus tornozelos, também eles presos a correntes firmemente fixadas ao chão, e percebi que o meu corpo mal podia mover-se.

Que incrível...

Na escuridão, as minhas mãos e pernas estavam amarradas de tal maneira que nem conseguia chegar perto das grades de ferro da cela. Estava ali, trancada, presa como um animal perigoso.

Ainda atordoada, voltei a tentar lembrar-me do que tinha acontecido antes de perder os sentidos. A luta... o rugido ensurdecedor... Michaelius e o olhar de Lysander... e depois, nada. Fechei os olhos por um segundo, tentando ignorar o desespero que ameaçava subir-me pela garganta. Já sabia onde provavelmente estava e sabia o que aquilo significava.

Olhei em volta e apercebi-me de que vestia roupas gastas, sujas, que claramente não eram minhas. Trocaram-me de roupa, tiraram-me o uniforme dos dissidentes. Por que raio fariam isso? Estavam a preparar-se para me manter ali por muito tempo?

Reparei que pelo menos o meu amuleto continuava ali, sobre o meu peito. Mas ao contrário de quando eu estava a usar a minha magia, e ele parecia possuir toda a energia do universo dentro dele, ele estava frio, escuro e limitado, assim como eu.

Foi então que uma voz rouca e baixa se fez ouvir, do outro lado do corredor.

— Finalmente acordaste. Já estava a ficar preocupada.

Dei um salto, o coração aos pulos. Olhei para a origem da voz e vi uma rapariga numa cela na frente da minha, encostada às grades, a observar-me com um olhar calmo, mas com um fundo de tristeza.

Parecia ter cerca de vinte e poucos anos, com cabelo castanho claro e liso, a cair-lhe pelos ombros, e olhos castanhos que refletiam um misto de cansaço e paciência, como se já tivesse perdido a esperança de alguma coisa mudar. No corpo dela, marcas vermelhas, que pareciam cicatrizes, formavam padrões estranhos — runas de controlo, gravadas na pele dela como uma prisão viva.

Não conseguia desviar o olhar. As runas dela eram idênticas às das algemas nos meus pulsos, mas gravadas diretamente na pele. Era como se aquelas marcas tivessem esculpido nela a ideia de que ali ficaria para sempre.

Esforcei-me para falar, ainda meio rouca, mas com um toque de determinação.

— Onde é que estamos? E... há quanto tempo estou aqui?

Ela inclinou a cabeça ligeiramente, um sorriso breve a surgir nos lábios, mas sem alegria.

— Nas masmorras do palácio de Astraeus. Dormiste aí por umas doze horas. Eles queriam garantir que ficasse bem claro quem está no controlo.

Doze horas? Olhei-a de cima a baixo, as runas a chamarem-me a atenção, e, por um instante, senti uma onda de raiva e de empatia. Precisava de uma maneira de sair dali, mas a minha mente estava cheia de perguntas.

— Então... estás aqui há muito tempo? — perguntei, observando-a com um misto de curiosidade e cautela. Precisava de respostas, mas também precisava de entender em quem podia confiar.

O Despertar das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora