O Despertar das Sombras

Undeviginti

✧ CATE ✧

A névoa da noite era pesada e úmida, cada passo que dávamos parecia afundar-nos mais no silêncio ameaçador que nos cercava. O ar estava denso e carregado de tensão, como se a própria floresta aguardasse o embate iminente. Sentia o peso do amuleto a oscilar no peito, o frio metálico a tocar a minha pele numa vibração leve, quase impercetível, mas presente o suficiente para me lembrar da sua estranha energia.

Ao nosso redor, todos os dissidentes mantinham-se em silêncio absoluto, cada um concentrado no que estava por vir. Os olhares eram determinados, mas havia uma compreensão implícita de que estávamos em desvantagem. Corvus permanecia firme ao meu lado, com Margarita logo à frente, os olhos dela fixos na escuridão à nossa frente.

De repente, uma linha de sombras e armaduras surgiu do outro lado da clareira. Os Custodes e Guardiões Estelares revelavam-se, como figuras sombrias e ameaçadoras, posicionando-se em formação. O brilho dos olhos deles, refletido pela luz pálida da lua, parecia ressoar com a frieza da determinação, e os poucos murmúrios que trocavam eram abafados pela distância. Era como se já soubessem que estávamos ali, à espera, prontos para o combate.

No momento em que nos avistaram, um grito de comando ecoou entre os Custodes, e os primeiros feitiços e projéteis foram lançados. Todos os dissidentes reagiram imediatamente, cada um a defender-se como sabia. Margarita ergueu as mãos, e uma névoa espessa começou a subir do chão, envolvendo-nos numa barreira que os confundia e os obrigava a aproximarem-se mais para nos atacar.

Foi nesse instante que Corvus se virou para mim, o olhar dele intenso, fixo nos meus olhos. Algo passou entre nós, uma compreensão silenciosa, e senti uma onda de energia a percorrer-me o corpo. O amuleto no meu peito começou a pulsar com uma vibração mais intensa, e, antes que pudesse entender o que fazia, as minhas mãos ergueram-se e uma barreira de energia formou-se à minha volta, caótica e pulsante. Era como se eu tivesse invocado um escudo de instinto, uma barreira protetora que não controlava inteiramente, mas que respondia à minha necessidade de defesa.

— Esse é o teu escudo de energias caóticas, Cate, — sussurrou Margarita ao meu lado, a voz dela quase reverente, como se estivesse a testemunhar algo importante.

O escudo tremeluzia ao meu redor, uma camada escura instável de poder que os feitiços lançados pelos Guardiões não conseguiam atravessar. Eles ricocheteavam na superfície do escudo, desviando-se para o lado com uma força inesperada. Mas cada impacto fazia a barreira estremecer e pulsar de forma imprevisível, e era como se a energia do próprio escudo tentasse libertar-se, cada vez mais potente e descontrolada.

Corvus, com um último olhar na minha direção, afastou-se em silêncio, fundindo-se nas sombras à nossa volta. Num instante, ele desapareceu, e o ambiente ficou ainda mais sombrio, a névoa de Margarita a rodear-nos como uma muralha invisível.

De repente, um som cortante e perturbador encheu o ar. Um exército de corvos materializou-se ao nosso redor, os gritos penetrantes das aves a ecoarem na noite. As sombras densas à nossa volta pareciam ganhar vida, transformando-se em centenas de silhuetas negras que avançavam sobre os Guardiões e Custodes. Os corvos atacavam com precisão, os bicos e garras a rasgarem o ar e a confundir os movimentos dos nossos inimigos, forçando-os a recuar e a reavaliar as suas posições.

A névoa de Margarita era densa e úmida, envolvendo toda a floresta numa cortina de mistério. Mas, de repente, ela moveu-se rapidamente, afastando-se de mim com uma agilidade impressionante, quase como se estivesse a deslizar pelo ar. Vi os movimentos fluidos dela a combinar-se com a sua magia da constelação e o seu domínio elementar do ar, criando redemoinhos ao redor, que confundiam os inimigos e os desorientavam. Cada passo era calculado e preciso, enquanto ela usava a força invisível do vento para afastar os ataques direcionados a si mesma.