Octo

19 6 7
                                        


PETRUS

O som do meu batimento cardíaco ecoava nos meus ouvidos enquanto corria atrás de Catherina. Ela estava quase a alcançar os Dissidentes, mas não podia permitir que isso acontecesse.

Sentia a pressão das palavras de Aquila, que continuavam a martelar na minha cabeça: "Ela é tua responsabilidade, Petrus. Não a deixes escapar." A voz dele carregava uma autoridade que me consumia, como se cada sílaba fosse uma ordem gravada nas profundezas do meu ser.

Catherina estava a usar um poder que parecia surgir de dentro dela sem esforço. Levitar, controlar a gravidade... os sinais de que o potencial da sua constelação proibida, Cassandra, estava a despertar descontroladamente eram claros.

Nas aulas de História das Constelações, na Academia Stellae, sempre ensinaram que Cassandra era uma das mais perigosas constelações. Era proibida porque os seus portadores, no passado, tinham causado desastres, alterando o destino de Astralis manipulando os segredos mais obscuros das estrelas.

Com determinação, puxei uma flecha estelar e disparei. A flecha rasgou o ar e colidiu com o escudo de energia caótica de Catherina, quebrando-o em estilhaços de luz. Ela perdeu o controlo do poder gravitacional, e o seu corpo caiu no chão de mármore com força, onde bateu com a cabeça de forma violenta, deixando-a momentaneamente desnorteada.

Agarrei no cabo da minha arma, preparada com um líquido adormecedor, e corri para ela, mas uma figura mascarada surgiu de repente entre nós. Era um dissidente. Não o reconhecia, mas movia-se com uma rapidez incomum. A figura saltou até Catherina, e uma névoa densa começou a espalhar-se à volta deles, dificultando a minha visão. Tentei aproximar-me, mas a névoa parecia ter uma propriedade mágica que confundia os meus sentidos.

Esforcei-me por ver através da névoa, mas já não conseguia distinguir onde Catherina estava. Sabia que a tinha deixado escapar, e a frustração crescia dentro de mim.

Sentia o olhar de Aquila em mim, mesmo no meio do caos. Ele estava no altar, protegido por Leo, enquanto os outros membros dos Magni Stellaris tinham fugido para se protegerem. Era óbvio que, por mais poderosos que fossem, eram também os que detinham o controlo de Astralis. Não podiam correr riscos desnecessários.

Lancei-me para a frente, procurando um ponto por onde pudesse ver a direção em que Catherina fugia. A névoa começou a dissipar-se, e consegui vislumbrar a silhueta dela a afastar-se, correndo ao lado de um dos dissidentes. Sentia o coração a bater com força. O meu dever era claro, mas havia algo em mim que hesitava.

Aquila gritou com raiva, a voz ecoando pelo Templum.

— Petrus, faz o que for preciso! Ela não pode fugir! — A urgência nas suas palavras era evidente, mas o que o perturbava mais do que a minha falha era o facto de a constelação proibida de Cassandra ter sido revelada ali, diante de todos. Aquela era uma afronta que o líder dos Magni Stellaris não podia permitir.

Sem pensar muito, disparei a arma com o líquido adormecedor. O meu objetivo era claro, mas a minha mão falhou ligeiramente, e o projétil passou a poucos centímetros de Catherina. Sabia que não era normal em mim errar desta forma.

Eu nunca falhava.

Apercebi-me de algo mais profundo, uma sensação que eu já tinha tido antes, mas que naquele momento parecia intensificar-se: uma espécie de bloqueio que me impedia de lhe fazer verdadeiro mal. Era como se houvesse uma barreira invisível que recusava permitir que eu lhe causasse dor.

Catherina chegou ao grupo de dissidentes, e foi então que vi uma das figuras encapuzadas a erguer os braços, abrindo um portal sombrio. O portal parecia ser feito de sombras que rodopiavam, como se fossem matéria viva. Não reconhecia aquela magia específica, nem a que constelação pertencia, mas podia sentir que era poderosa e incomum. As sombras emanavam uma energia que se infiltrava no ar, tornando o ambiente ainda mais denso.

O Despertar das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora