Septem

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A noite caía lentamente sobre o palácio, envolvendo tudo numa penumbra silenciosa. As estrelas começavam a surgir no céu, pontuando a escuridão com o seu brilho distante.

No quarto luxuoso onde estava hospedada, o ar parecia mais pesado e quente do que o habitual. Eu tinha passado o dia em preparações, com a ajuda de Celestina, a empregada do palácio que me guiou assim que cheguei com Petrus, que agora me estava a ajudar com a minha preparação em meditações e rituais simples para fortalecer a minha mente antes da cerimónia.

Três dias tinham passado desde que cheguei ao palácio, e Petrus tinha mantido a distância durante a maior parte do tempo desde a primeira noite em que me ajudou com a meditação, deixando a responsabilidade de me preparar para Celestina.

A sua ausência constante fazia-me sentir uma mistura de alívio e irritação – alívio por não ter de lidar com o seu comportamento frio, e irritação por ele evitar sempre a minha presença, como se eu fosse algo a ser ignorado.

Quando ouvi batidas firmes na porta, levantei-me da cama com o coração a acelerar. Quem seria a esta hora? Caminhei até à porta e abri-a, encontrando Petrus do outro lado, com a expressão fechada e os braços cruzados.

— O que estás a fazer aqui? — perguntei, surpresa.

Ele descruzou os braços e deu um passo à frente, mantendo o olhar sério.

— Amanhã é o dia da cerimónia, — começou, a voz mais grave do que o habitual. — E achei que devias saber algumas coisas... especialmente sobre o Templum Astrum.

Franzi a testa, confusa.

— A Celestina já me contou algumas coisas sobre a cerimónia. Não sei o que mais há para dizer.

— Ela pode ter-te falado das práticas básicas, mas não do que realmente importa, — respondeu Petrus, com o tom impaciente, entrando no quarto sem nem mesmo avisar ou pedir. — O Templum Astrum não é apenas um lugar de cerimónias. É onde a ligação entre os Stellaris e as constelações é mais forte. Lá, o fluxo de magia é intensificado, e os rituais têm um significado mais profundo. Durante a cerimónia, a tua magia será despertada e marcada permanentemente no teu ser.

Engoli em seco. A ideia de ser marcada por algo que nem sequer compreendia enchia-me de medo.

— E se algo correr mal? — sussurrei, quase sem querer que ele me ouvisse.

— Então não deixes que corra mal, — respondeu ele, sem um pingo de hesitação. — Concentra-te. Se a tua mente não estiver alinhada com a tua magia, a cerimónia poderá falhar. E isso... pode ser fatal.

As suas palavras carregavam um peso que me fez estremecer. O olhar dele estava cravado em mim, como se quisesse certificar-se de que eu entendia a importância do que estava a dizer.

— Porque te preocupas? — perguntei, incapaz de esconder a dúvida na minha voz. — Pensava que me consideravas um perigo.

Petrus desviou o olhar por um breve momento, a tensão nos ombros era visível.

— És um perigo, sim. Para toda a sociedade de Astralis. Mas isso não significa que eu queira ver-te falhar ou morrer durante a cerimónia, — respondeu, voltando a fixar os olhos nos meus. — O quarto está abafado, — acrescentou de repente, mudando de assunto.

Antes que eu pudesse responder, ele dirigiu-se até uma das janelas e abriu-a com um movimento ágil. O ar fresco entrou, e eu senti-me imediatamente aliviada.

— Nem sabia que estas janelas se abriam, — murmurei.

Ele não comentou e apenas me lançou um olhar de despedida, antes de se virar para sair.

O Despertar das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora