Triginta Septem

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PETRUS

Endireitei-me, tirando as mãos do rosto de Cate, encarando Lysander. O ciúme que ele tentava esconder era tão óbvio que quase me fez rir de frustração. Respirei fundo, esforçando-me para manter a calma, mas a invasão dele tinha passado todos os limites.

— Nada que seja da tua conta, Lysander. — a minha voz era baixa, mas cada palavra carregava a tensão que eu sentia. — Desde quando entras assim nos quartos dos outros sem bater? Achas que isto é tudo teu?

Ele ignorou-me completamente e aproximou-se de Cate, que ainda estava a tentar recompor-se. A raiva dentro de mim começou a crescer, mas eu fiquei onde estava, observando cada movimento dele.

— Cate, estás a chorar? O que é que se passa? — perguntou ignorando-me, desta vez num tom mais baixo, mas cheio de preocupação.

Cate não respondeu. O silêncio dela era ensurdecedor. Ela evitava o meu olhar e o dele, como se quisesse desaparecer. Eu sabia que ela não queria que ele estivesse ali, e isso só tornava tudo pior. Levantei-me, ficando entre os dois, e apontei para a porta.

— Estávamos a conversar. Faz o favor de saíres. Agora.

Lysander arqueou uma sobrancelha, claramente não intimidado. O olhar dele era cheio de algo que eu não conseguia decifrar completamente, mas parecia ter uma intenção clara de me desafiar.

— Contaste-lhe Cate? — perguntou, a voz carregada de falsa curiosidade, mas o tom cortante o suficiente para me fazer franzir o sobrolho.

Cate levantou-se de repente, as mãos a tremerem ligeiramente enquanto olhava para ele.

— Não, Lysander. Sai. Isto não é da tua conta! — disse ela, quase a gritar. — Isto é um assunto meu!

Mas as palavras dela não me tranquilizaram. Na verdade, apenas alimentaram a raiva que estava a tentar conter. Encarei-a, os olhos fixos nos dela, mas a minha voz dirigiu-se a Lysander.

— Então ele sabe o que se passa contigo? — perguntei, a incredulidade a crescer no meu tom. — Mas eu não? O que raio é que vocês me estão a esconder, porra?!

O silêncio caiu no quarto por um momento, mas foi breve. Lysander, com um sorriso cínico, decidiu aproveitar o momento. Ele deu um passo em frente, inclinando-se ligeiramente para mim, como se estivesse a preparar-se para a luta.

— Sabes, Petrus, nem tudo gira à tua volta. — disse ele, com um tom quase divertido, mas cheio de intenção. — Cate, ele devia saber, não achas? Afinal, está diretamente envolvido nisto.

— Lysander, para com isso! — Cate tentou intervir, mas ele ignorou-a completamente.

— Vá lá, então o Corvus não te contou... — continuou ele, olhando para mim. — Acho que tens direito de saber. A ligação que sentes pela Cate? O impulso de protegê-la, mesmo quando não faz sentido? É tudo uma maldição, Petrus. Não é real.

A minha mente parou. A minha respiração tornou-se pesada, e as palavras dele ecoaram como um trovão nos meus ouvidos.

— O quê? — murmurei, a voz baixa, mas carregada de uma raiva crescente.

— Ah, não sabias mesmo, pois não? — Lysander continuou, a aproveitar-se do meu estado de confusão. — O Corvus lançou uma maldição antiga, chamada Vinculum Animarum, acho que já deves ter ouvido falar... para proteger a filha dele. Ligou-te a ela antes mesmo de vocês se conhecerem. Tudo o que sentes por ela? É falso. És obrigado a protegê-la. Não tens escolha.

A minha cabeça latejava. As palavras dele eram um soco no estômago, e eu não sabia o que fazer com elas. Olhei para Cate, à espera de que ela o negasse, de que dissesse que ele estava a mentir. Mas ela não disse nada. O silêncio dela era pior do que qualquer palavra.

O Despertar das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora