✧ CATE ✧Depois de tudo, depois da batalha, da correria e da adrenalina, finalmente estava aqui, num espaço que me pertencia... ou pelo menos que me acolhia. Sentada na borda da minha cama, com o corpo ainda a recuperar da intensidade do dia, deixei-me envolver pelo ambiente seguro da Domus Umbrae. Era uma mansão antiga e imponente, onde cada canto parecia contar uma história, e onde os rostos que me rodeavam carregavam uma espécie de alívio que nunca pensei vir a ver. Pela primeira vez em muito tempo, senti-me... aceite. E não como um troféu ou como uma ameaça, mas como alguém por quem eles se preocupavam genuinamente.
Fechei os olhos e inspirei profundamente, deixando o aroma suave a madeira antiga e velas acesas preencher-me. Após um banho quente e uma refeição que parecia ter o sabor da liberdade, a exaustão era substituída por uma sensação de pertencimento, algo que eu nem sabia que tinha desejado tanto. Era um acolhimento silencioso, como se a casa e as pessoas me dissessem que estava onde devia estar.
Ainda assim, a minha mente voltava para Corvus. Encontrá-lo de novo, com o olhar repleto de orgulho e alívio, fez-me sentir uma parte de algo maior, algo que nunca tinha tido antes. As palavras dele foram poucas, disse-me para descansar hoje e amanhã me preocupar em procurar a verdade, mas o abraço dele foi cheio de promessas, de que o que sempre me escondeu finalmente viria à luz.
A minha mente vagueava, tentando adivinhar que segredos ele guardava, o que o tinha levado a esconder-me tantas verdades. Mas a exaustão arrastava-me de volta ao presente, ao meu quarto, à cama confortável que parecia um refúgio inesperado. Não havia pressa, não agora. Amanhã saberia tudo.
Enquanto me deitava, o corpo finalmente relaxado, as emoções do dia começaram a dissipar-se, como fumo a ser levado pelo vento. Deixei-me envolver pela paz rara daquele momento, ouvindo ao longe as vozes dos dissidentes que ainda conversavam no salão, ainda celebravam. Era como se o peso do mundo finalmente começasse a soltar-se dos meus ombros, e o meu coração encontrasse um ritmo mais calmo, mais suave.
Mal tinha fechado os olhos, ainda a processar cada detalhe daquele dia, quando ouvi uma batida suave na porta. Levantei-me devagar e ao abrir a mesma, encontrei Petrus, parado ali no corredor, o rosto iluminado pela luz suave que vinha dos candeeiros antigos da mansão. O seu olhar era intenso, mas havia uma calma incomum, quase melancólica, nos traços dele. Era como se ele próprio carregasse o peso de um mundo invisível aos outros.
— Posso entrar? — perguntou ele, a voz baixa, quase um sussurro.
Assenti, afastando-me para lhe dar passagem, e ele entrou no quarto com uma hesitação que me surpreendeu. Fechei a porta, e o silêncio entre nós parecia estranho, carregado de algo indefinido e intenso.
— Vim despedir-me... — começou ele, os olhos a procurarem os meus, como se tentassem dizer mais do que as palavras permitiam. — Tenho de voltar ao palácio, manter as aparências. Mas... antes de ir, queria despedir-me.
O meu coração bateu mais depressa ao ouvir isso, uma mistura de apreensão e algo que não conseguia definir. A presença dele era uma espécie de âncora, algo que me dava força e me lembrava que, apesar de tudo, não estava sozinha. E agora, com ele ali, tão próximo, percebi o quanto a sua ausência me pesaria.
— Pois. Sei que tens de ir... — A minha voz saiu mais vulnerável do que esperava, mas não me importei.
Ele sorriu de lado, aquele sorriso que era tão característico dele, meio desafiador, meio terno, e aproximou-se mais um passo. Senti a intensidade dele como uma força invisível, algo que me puxava para mais perto, e a tensão entre nós tornou-se quase tangível, uma corrente elétrica que nos envolvia.
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O Despertar das Sombras
FantasiaNum mundo onde as estrelas guardam segredos antigos e perigosos, Cate Vesper, uma jovem aparentemente comum, descobre que está ligada a uma constelação proibida, e carrega um destino a que não pode escapar. Com um amuleto misterioso na sua posse e m...