Triginta Sex

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✧ MARGARITA ✧

A aldeia de Lunaris era agora um inferno vivo. O ar estava pesado com o cheiro de magia, fumo e sangue. Cada movimento que fazia parecia um esforço sobre-humano, como se a própria gravidade me puxasse para baixo. O som do combate era ensurdecedor — aço contra aço, feitiços a explodir no ar, e os gritos de dor que pareciam perfurar an alma.

Vi Marcus a lutar ao longe, a velocidade e precisão dele eram impressionantes, mas algo parecia errado. Havia demasiados guardiões a cercá-lo. Antes que pudesse chamar por ele, um brilho intenso encheu o ar.

— Não! — O grito escapou-me antes que pudesse pensar.

O impacto do feitiço foi brutal. Marcus foi lançado pelo ar, o corpo a rodopiar até colidir com o chão num som seco. Por um momento, o mundo parou. O meu coração parou. Tudo em mim congelou.

Sem pensar, corri. Não vi os guardiões, os feitiços ou o caos à minha volta. Só conseguia ver Marcus no chão, imóvel. Quando cheguei até ele, os joelhos cederam, e caí ao lado do corpo dele.

— Marcus! Fala comigo! Por favor! — A minha voz estava a quebrar-se, e as lágrimas começaram a encher os olhos antes que pudesse detê-las.

Lysander chegou logo atrás de mim, a espada dele a bloquear um golpe que poderia ter-me atingido.

— Margarita, concentra-te! Temos de o tirar daqui, agora! — ele gritou, a fúria dele a transformar-se em proteção feroz.

Ajoelhei-me ao lado de Marcus, as minhas mãos a procurar qualquer sinal de vida. O peito dele subia e descia num ritmo irregular, e ele estava consciente, abrindo de leve os olhos, ainda que de forma fraca.

— Estás a chorar por mim, Margarita? Nunca pensei ver isso. — A voz dele era fraca, mas aquele tom brincalhão, ainda que esmorecido, atingiu-me profundamente.

— Cala-te, idiota, — murmurei, as lágrimas a caírem, enquanto tentava conter o pânico. — Não vais morrer, ouviste? Prometo-te. Não vais morrer.

Lysander limpou o sangue da lâmina dele rapidamente, o olhar fixo no campo de batalha.

— Ajuda-me a levantá-lo. Temos de chegar ao portal na floresta, ou ele não vai sobreviver.

Com um esforço tremendo, colocámos Marcus entre nós. Ele estava a perder força, o corpo dele a ceder cada vez mais. O sangue ensopava as roupas dele, o calor a queimar-me as mãos. O peso dele era insuportável, mas a ideia de o deixar ali era impossível.

— Cate! — gritei, a minha voz a cortar o barulho da batalha. — Precisamos do teu escudo! Ajuda-nos a sair daqui!

Cate, que estava a alguns metros de distância, virou-se na nossa direção, os olhos dela brilhavam de forma perigosa, envolta numa aura de energia negra e dourada que fazia o ar ao redor dela vibrar. Com um movimento da mão, ela criou uma barreira instável de energia que nos envolveu, afastando os feitiços e golpes que nos seguiam enquanto corríamos em direção ao portal escondido na floresta, que agora parecia demasiado longe.

— Continua! Não parem! — gritou Lysander, a voz dele cheia de autoridade.

Enquanto andávamos rápido, cada passo parecia uma eternidade. Marcus começou a resmungar algo, palavras desconexas, enquanto o corpo dele ficava cada vez mais pesado.

— Marcus, aguenta. Já estamos quase lá, por favor! — implorei, a voz embargada pelas lágrimas que lutava para conter.

Finalmente, avistei o portal de sombras de Corvus, entre as árvores. O brilho mágico dele era uma promessa de segurança, mas Marcus cedeu nos meus braços antes de o alcançarmos. O corpo dele ficou mole, e senti o pânico tomar conta de mim.

O Despertar das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora