Triginta Tres

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PETRUS

A Domus Umbrae estava surpreendentemente animada quando cheguei ao fim da manhã. Os corredores fervilhavam com vozes e passos apressados, como era habitual em dia de uma reunião importante. O ambiente tinha aquela energia tensa, mas ao mesmo tempo quase familiar. Para mim, voltar aqui depois de cinco dias parecia um regresso esperado, quase reconfortante.

Enquanto caminhava pelos corredores, cumprimentava rostos conhecidos, mas os meus olhos procuravam instintivamente por ela. Cate. Desde a última vez que a tinha visto tudo dentro de mim parecia um pouco mais pesado. A memória do momento que partilhámos não saía da minha cabeça, os lábios dela, o cheiro... mas a ausência dela nos dias seguintes deixara-me inquieto.

Eventualmente, encontrei-a no salão principal sentada sozinha, rodeada de papéis e artefactos mágicos espalhados por uma das mesas de madeira desgastadas. Ela parecia ocupada, concentrada. Fiquei parado por um momento, observando-a até que decidi aproximar-me.

— Cate, — chamei, num tom mais baixo do que o habitual.

Ela levantou o olhar, e por um momento os nossos olhos encontraram-se. Foi breve, mas suficiente para me fazer hesitar. Havia algo na maneira como ela me olhou... distante, talvez até relutante.

— Petrus. — O tom dela era neutro, quase demasiado controlado.

— Precisas de ajuda? — perguntei, tentando soar casual, enquanto me sentava na cadeira à frente dela.

Ela balançou a cabeça, desviando os olhos para os papéis à sua frente.

— Estou bem, obrigada. Tenho tudo sob controlo, não te preocupes.

Franzi a testa. Aquilo não era o que eu esperava. Depois do que tinha acontecido entre nós, imaginei que ela reagisse de outra forma. Mais... calorosa, talvez. Mas em vez disso, ela parecia indiferente. Quase... fria.

— Cate, está tudo bem? — insisti, sentindo a tensão a aumentar.

Ela parou por um momento, como se estivesse a pensar na resposta. Quando falou, o tom dela era firme, mas distante.

— Estou bem, Petrus. Apenas focada no que importa.

As palavras dela eram estranhas, quase mecânicas. Mas antes que pudesse dizer mais alguma coisa, ela afastou-se, pegando num dos papéis e movendo-se para fora do salão. Fiquei ali parado, enquanto sentia uma sensação desconfortável a crescer dentro de mim.

⋆。°✩

A salão da Domus Umbrae estava surpreendentemente tranquilo para um final de tarde. Uma das mesas ao centro estava cheia de chávenas de chá, fatias de pão e bolos, provavelmente obra de Margarita, que sempre fazia questão de transformar os momentos de pausa em algo mais leve.

Sentei-me ao lado de Marcus, que já estava a mastigar uma fatia generosa de bolo de nozes. Margarita e Marisia estavam sentadas à nossa frente, ambas a rir de algo que ele tinha acabado de dizer.

— Não estou a inventar! — protestou Marcus, com um sorriso divertido. — O Lysander, a sério, tentou ajudar na cozinha e queimou um pão tão terrivelmente que nem os Cérberos quiseram comer, nem mesmo o Nyx que come tudo o que lhe aparece à frente.

Marisia quase se engasgou com o chá, enquanto a Margarita se ria tão alto que chegou a tapar a boca com a mão.

— Isso soa exatamente a algo que o Lysander faria, — comentou Margarita, ainda a rir. — O homem é um estratega brilhante, mas na cozinha? Um desastre total.

— Desastre é pouco. É um perigo público, — acrescentou Marcus, com uma expressão séria, antes de desatar a rir novamente.

— Aposto que ele nunca mais tentou ajudar na cozinha, — disse Marisia, enquanto eu imaginava o Lysander a tentar cozinhar alguma coisa, e só a ideia já me fazia rir.

O Despertar das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora