𝟏𝟔 ⌁ 𓈒 ֹ ANGELINA CORVETTI ˳ׄ ⬞

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Angelina pressionava os olhos com as mãos, como se, ao fechar-se contra a luz, pudesse apagar o terror à sua volta. Desejava que tudo não passasse de um pesadelo. Mas a escuridão que buscava trazer com as pálpebras não escondia o desespero, e as lágrimas lhe queimavam o rosto com uma intensidade que nem o soluço conseguia conter. Sentia-se afogada em emoções conflitantes: medo, preocupação, e raiva, uma mistura de sensações que deixavam seu peito pesado. O medo vinha do lugar onde estava — um lugar que parecia sufocá-la, cada parede como uma ameaça. E a preocupação com Lorenzo apertava seu coração, embora sua raiva se voltasse a ele também. Pensar em perdê-lo ali, naquele caos, a fazia tremer.

Era insuportável sentir Lorenzo por todos os lados porque, embora o quisesse, ele não era dela, não da forma que ela desejava. Esse desejo indefinido corroía-a, uma ânsia que ela nem sabia medir. Ter Lorenzo tão perto, agora, desarmava-a. Estava mais vulnerável do que jamais permitira a si mesma, e seu corpo tremia com uma ansiedade que não conseguia controlar. Lágrimas tornaram a descer pelo rosto, e ela deixou que descessem, se entregando à dor.

No instante em que os braços de Lorenzo envolveram seu corpo, algo dentro dela se calou. O peso, a dor, o medo — tudo parecia amenizar. As lágrimas foram secando, o coração batendo em seu real ritmo. Naquele abraço silencioso, Angel encontrou uma paz que não sentia há onze anos. Era como se, finalmente, algo dentro dela encontrasse repouso, como se esse abraço lhe oferecesse um pedaço de lar.

Refúgio. Um silêncio, um aconchego. Uma trégua tão pequena, mas que lhe trazia uma paz imensa.

Ainda que Lorenzo a asfixiasse com sua presença constante, o vazio que ele deixava quando ausente era insuportável. Para Angelina, mesmo sem admitir ou entender, desde que conheceu Lorenzo, para ela, viver sem ar era melhor do que viver sem ele.



O tempo passava, mas nenhum dos dois sabia ao certo quantos minutos ou horas haviam se esvaído naquela penumbra. Não faziam ideia se a noite já dera lugar a outro dia, quantos dias ou apenas instantes haviam se desfeito ali. O silêncio espesso e o desconhecimento sobre o que os aguardava os prendiam em um desespero mudo. O chão era frio, a parede igualmente gélida, e Angelina deixou a cabeça cair no ombro de Lorenzo, dividindo com ele o peso daquele silêncio compartilhado.

Então, a voz do homem cortou o ar, suave e baixa, trazendo Angelina de volta de seu próprio abismo. Ela levantou o olhar para ele, carregando a curiosidade e o medo de quem sabia que as respostas podiam ser ainda mais perigosas. Angel conhecia o custo de saber demais — no mundo onde nascera, na família a que pertencia, qualquer fragmento de verdade era um risco. Sabia que não poderia jamais fugir para uma vida comum, pois a máfia sempre a traria de volta, e o conhecimento que carregava era um fardo impossível de largar.

Mas ali, trancados num porão desconhecido, sem qualquer garantia de futuro, Angelina se permitiu achar justo saber o que os levara àquela situação. Se era para morrer, queria ao menos saber a razão.

Com um movimento lento, ela ajeitou-se ao lado dele, seu olhar se encontrando com o do Don. Havia algo vazio e fundo nos olhos de Lorenzo, uma sombra que, aos poucos, parecia ceder, revelando um brilho estranho e vulnerável, algo que nem suas palavras podiam traduzir.

Quando começou a falar, cada palavra dele cravava-se em Angelina como uma agulha fina, abrindo espaço para a dor que transbordava das suas confidências. Era uma verdade crua, uma revelação que trazia à tona um peso guardado por muito tempo. A voz dele — normalmente firme e controlada — parecia agora dilacerada, desabafando num tom quase inaudível, pequenos sussurros que deixavam escapar uma dor há muito tempo reprimida.

𝗙𝗜𝗥𝗘 𝗔𝗡𝗗 𝗕𝗟𝗢𝗢𝗗 - @𝗅𝟢𝗌𝗍𝗋𝖾𝗂𝖽Onde histórias criam vida. Descubra agora