𝟓𝟗 ⌁ 𓈒 ֹ ANGELINA CORVETTI ˳ׄ ⬞

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Quando pousaram em Santorini, Angelina admirou as casas brancas que se empilhavam como versos de uma poesia antiga. Seus olhos, refletindo o azul profundo do Mar Egeu, capturavam cada detalhe com a delicadeza de uma pintora diante de uma tela infinita. As cúpulas azuis das igrejas brilhavam sob o sol poente, lançando sombras dançantes que se entrelaçavam com os murmúrios do vento. O aroma salgado do mar misturava-se com o perfume das flores que adornavam varandas e sacadas, criando uma sinfonia de sensações que envolvia seu ser.

O horizonte se despedia em tons de laranja e púrpura, tingindo o céu com pinceladas de esperança e melancolia. Angelina sentia-se pequena diante da grandiosidade da ilha, cada pedra, cada caminho contava histórias de tempos imemoriais. As ruas sinuosas levavam-a a mirantes onde a vastidão do oceano parecia tocar o céu, e ela suspirava, absorvendo a serenidade que apenas Santorini sabia oferecer.

Lorenzo se mostrava animado com a surpresa, e Angelina, suspirava ao admirar cada ponto da arquitetura local, traçando um mapa com os olhos na tentativa de memorizar cada traço como uma memória importante.

Acima de tudo, a garota se encontrava em extrema paz. Sabia que estava longe de tudo que a afligia. Estava longe de Chicago, longe de Theodoro, longe de Donnatela e longe dos medos que a sufocavam quando pensava em Lorenzo. Agora, ela estava com ele ali, em uma viagem que poderia chamar de deles, como se aquela enorme ilha fosse somente dos dois, gostava de pensar assim

— Vamos Francisco, você não vai me dar nem uma dica? — perguntou baixinho, tentando convencer o guarda costas do Don a lhe contar para onde ele estava a levando.

O homem negou com a cabeça e parecia conter um sorriso.

— Não posso senhorita, o senhor Mattioli me mataria se eu dissesse.

Cansada de insistir, a loira apenas deixou ser levada para um destino que não fazia ideia. Na verdade, estava se deixando levar pelas ideias de Lorenzo desde o momento em que saiu da mansão, deixando seus próximos dias todos sobre a responsabilidade do Don.

A noite era iluminada por estrelas que pareciam testemunhas silenciosas de seus pensamentos mais profundos. As luzes das tavernas piscavam como lanternas mágicas, convidando-a a descobrir os segredos escondidos nas vielas estreitas. Cada passo de Angelina ressoava com a música distante das ondas, criando uma melodia única que harmonizava seu coração com a alma da ilha.

E então, sua revelação chegou. Angelina parou no início do tapete de pétalas, incapaz de conter o arfar suave que escapou de seus lábios. Seus olhos, acostumados a buscar beleza em telas e paisagens, agora se perdiam diante de um espetáculo que parecia tirado de um sonho. As rosas vermelhas, com suas pétalas abertas em oferenda, desenhavam no chão uma confissão silenciosa de amor, enquanto a luz das velas dançava ao sabor da brisa, pintando o ar com sombras douradas e delicadas.

Ela sentiu o coração acelerar, como se cada batida estivesse sincronizada com o tremor das chamas. Aquele cenário, com sua perfeição quase irreal, parecia sussurrar verdades que ela ainda não sabia como acolher. E então, entre a maresia e o perfume adocicado das flores, ela o viu. Lorenzo, o único homem capaz de tirar seu fôlego mesmo estando tão longe.

Cada passo que dava parecia ecoar, não no chão, mas em seu próprio peito. O som de sua respiração, tão pequena diante da imensidão daquela noite estrelada, era abafado pelo murmúrio do mar. Quando chegou perto o suficiente para ver o brilho dos olhos do Don, Angelina percebeu que não estava diante de um gesto qualquer, mas de uma confissão de alma, uma entrega que ela nunca imaginou receber.

As palavras dele a atingiram como pinceladas de uma obra que se revelava aos poucos. Cada frase carregava o peso de uma verdade que Lorenzo parecia guardar desde sempre.

"Você mudou tudo."

Angelina sentiu as lágrimas queimarem em seus olhos. Não de tristeza, mas de um reconhecimento profundo de que aquele momento não poderia ser contido por meras palavras.

Quando ele se ajoelhou, o tempo pareceu congelar. O brilho do anel refletiu nas velas, iluminando o espaço entre eles como uma ponte de luz, e a loira sentiu o mundo girar devagar, apenas para que ela pudesse absorver cada detalhe. Suas mãos, trêmulas, cobriram os lábios, mas seus olhos permaneceram nos dele, como se buscassem uma certeza que já estava gravada na atmosfera ao redor.

O som da voz de Lorenzo, carregada de emoção, pareceu quebrar as estrelas em fragmentos invisíveis que caíram sobre ela. Angel piscou lentamente, como se precisasse de um momento para processar o que via.

Ali estava Lorenzo Mattioli, o Don da Cosa Nostra, um homem cujo nome carregava o peso de temores incontáveis e cuja presença podia silenciar uma sala inteira com um único olhar. Ele era a personificação do poder bruto, da implacabilidade que moldava o submundo em que vivia. E, no entanto, diante dela, ajoelhado entre rosas e luz de velas, ele parecia outra pessoa.

O contraste era quase impossível de compreender. Como um homem tão perigoso, capaz de ordenar destruição com um estalar de dedos, podia criar algo tão delicado? Ela sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao perceber que Lorenzo não era apenas força; ele era também profundidade. Ele, que navegava na escuridão, havia encontrado uma forma de traduzir seus sentimentos em luz.

Não era apenas o cenário que a surpreendia, mas a vulnerabilidade nele. Aquele homem, que parecia inabalável em qualquer circunstância, agora expunha sua alma com uma coragem que nenhum ato de violência poderia igualar. Ele era um paradoxo vivo: a fera que sabia amar como um poeta. E isso, mais do que qualquer gesto ou palavra, fazia seu coração estremecer.

"Angelina, você quer se casar comigo?"

Por um instante, a noite inteira parecia esperar sua resposta. Ela não sabia se era o vento ou a força de seu próprio coração que fazia seu corpo tremer, mas, naquele momento, uma certeza a envolveu. Ela não viu o futuro nem o passado; apenas Lorenzo, ajoelhado diante dela, ofertando mais do que um anel. Ofertando sua própria alma.

Angelina sorriu, um sorriso que começou tímido, mas floresceu como as rosas ao seu redor, e então, com a voz ainda trêmula, respondeu:

─ Sim! Sim! Sim! — a animação na sua voz se misturava com a emoção e as lágrimas que escorriam em seu rosto. — Eu aceito, Lorenzo. Aceito tudo se for com você.

O mundo, que até então parecia em suspenso, voltou a girar, mas agora, de uma forma diferente. O mundo de Angelina havia se tornado Lorenzo Mattioli.

𝗙𝗜𝗥𝗘 𝗔𝗡𝗗 𝗕𝗟𝗢𝗢𝗗 - @𝗅𝟢𝗌𝗍𝗋𝖾𝗂𝖽Onde histórias criam vida. Descubra agora