Angelina sentiu o peito arder — uma queimação funda, como se o grito de raiva e dor que carregava em si fosse vasto demais para caber dentro do corpo. Mas ainda assim, calava-se, como sempre calara. A diferença, desta vez, era que não poderia fugir de Theodoro. Não poderia correr para debaixo da cama, tampando os ouvidos para abafar aqueles gritos graves, nem adormecer em meio às lágrimas. Estava ali, exposta, sem refúgio.
Quando o medo é do escuro, nós escondemos debaixo das cobertas. Mas e quando o temor vem de dentro? Onde é que a gente se esconde?
Angel ergueu o olhar, e sentiu um alívio estranho escapar de seu corpo ao vislumbrar a figura de Lorenzo, que estava posicionado atrás de seu pai. A presença dele alterava o ar, como se sua postura firme desarmasse o mundo ao redor. Não era preciso saber quem Lorenzo era para se sentir assim, a aura de poder que o envolvia era indiscutível.
Apesar de se sentir segura, Angelina ainda temia o diálogo que se desenrolava à sua frente. Conhecia o alcance das ações de Theodoro. Jamais, em toda a sua vida, tinha visto alguém calar o pai. Sentiu um prazer secreto diante disso, enquanto via Lorenzo personificar o verdadeiro Don da Cosa Nostra.
O alívio que lhe tomou ao sair daquele ambiente com Lorenzo era o mesmo que buscara quando o fitou desesperadamente antes. Precisava de um lugar vazio, um silêncio, algo que lhe permitisse expurgar a gritaria abafada que lhe sufocava por dentro.
A pergunta de Lorenzo foi o estopim, e Angelina desabou, caminhando de um lado para o outro. Cobriu os olhos com ambas as mãos, num gesto infantil, querendo que ele não a visse chorar, embora o soluço escapasse. Respirou fundo, buscando o olhar dele.
— Obrigada! — sussurrou, fixando agora os olhos em Lorenzo, que a encarava com uma expressão triste. — Eu não sei como te agradecer.
De costas, Angelina deu alguns passos pela sala, como se procurasse ordenar os pensamentos que se amontoavam descontrolados em sua mente.
— Obrigada e desculpa. — voltou a falar, encarando Lorenzo mais uma vez. — Desculpa porque eu me esqueço de quem você é. Agora, na frente de Theodoro, finalmente caiu a ficha. Estive lidando o tempo todo com o Don da Cosa Nostra, e me peguei várias vezes esquecendo disso. Desculpa por te insultar, por erguer a voz, por te provocar a ponto de você sentir receio de estar perto de mim.
Ela respirou fundo, dando uma pausa enquanto tentava processar as próprias palavras.
— Fiz tanta besteira nos últimos dias que talvez mereça tudo isso, como um castigo imposto pelo maldito destino. — murmurou, deslizando os dedos pela bochecha para secar, com cuidado, uma lágrima teimosa. — Mas obrigada, acima de tudo, eu não sabia como escapar dali. Theodoro é uma das pessoas mais cruéis que conheço, e por mais que eu confie na sua força, ainda temo o que ele pode fazer com você...
À medida que sua voz preenchia o ar, Angelina aproximou-se, os braços atravessando o paletó de Lorenzo para envolvê-lo em um abraço. Encostou a bochecha contra o peito dele, repousando ali por alguns instantes antes de se afastar novamente.
— Reclamei tanto de você estar em todos os lugares, em cada parede, canto e som... Agora eu agradeço por você estar em todo lugar ao mesmo tempo. — esboçou um sorriso leve, limpando o rosto com as costas da mão. — Minha maquiagem está borrada? Eu devo estar um desastre. Não tenho um espelho para me ver!
Em um breve momento, o desespero tomou-lhe o rosto, lembrando-a exatamente de quem era e de por que estava ali, tão arrumada.
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𝗙𝗜𝗥𝗘 𝗔𝗡𝗗 𝗕𝗟𝗢𝗢𝗗 - @𝗅𝟢𝗌𝗍𝗋𝖾𝗂𝖽
Любовные романы✦ 𝑆𝐼𝑁𝑂𝑃𝑆𝐸 Lorenzo Mattioli, o calculista e implacável líder da Cosa Nostra, carrega nos ombros o peso de um império herdado, erguido sobre o sacrifício do pai, consumido por uma longa e amarga doença. À frente da máfia mais temida da Itália...