𝟒𝟕 ⌁ 𓈒 ֹ LORENZO MATTIOLI ˳ׄ ⬞

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Lorenzo apoiou a mão no azulejo frio, inclinando a cabeça enquanto a água quente caía sobre suas costas, como se pudesse lavar o peso do que acabara de viver. O peito ardia, esmagado pela lembrança de Angelina desacordada, frágil e imóvel em seus braços. Aquela imagem se repetia incessantemente, cada vez mais nítida, e a dor em seu peito apertava ainda mais.

Ele tentou segurar as lágrimas, mas não conseguiu. Elas deslizavam silenciosas, se misturando com a água que escorria, revelando a verdade que ele tanto escondia: o temido Don da Cosa Nostra estava vulnerável, quebrado, reduzido pela perda iminente da única mulher que importava. Angelina era sua fraqueza, e agora ele se sentia vazio, esmagado pela possibilidade de perdê-la. Era como se o ar lhe faltasse.

Como poderia continuar vivendo ao lado dela, respirando o mesmo ar, sem poder tocá-la? Ele desejava tanto confessar tudo, colocar as cartas na mesa e encarar o que viesse. Moveria céus e terras, enfrentaria a Itália inteira se fosse preciso, se isso significasse tê-la para si. Mas... como confessar a seu próprio irmão que o amor da sua vida era a mulher que ele deveria estar ao lado? O que Enrico pensaria? A culpa e a dor de querer algo que ele jamais deveria desejar eram um fardo que Lorenzo mal conseguia suportar.

E então, como uma flecha envenenada, as palavras de Donnatela vieram à sua mente, trazendo a lembrança daquele sorriso venenoso. Ele revivia o tom dela, ácido e cortante, uma serpente que se aproveitava de sua fraqueza.

"Se tentar algo contra mim, vou contar a todos o que aconteceu entre nós."

Um grito de raiva quase escapou de seus lábios. Lorenzo cerrou os punhos, e em um impulso de fúria, socou o azulejo com toda a força. A dor aguda percorreu sua mão e seu braço, mas isso pouco importava. Nada seria capaz de aliviar o furacão que se agitou em seu peito. Angelina era o seu mundo, e o fato de estar preso naquele jogo sujo o deixava ainda mais destroçado.

Ele respirou fundo, tentando recuperar o controle, percebendo que o banho já durava mais do que o necessário. O peso daquela ameaça, da dor e do amor que ele sentia, ainda pairava sobre seus ombros. Lorenzo sabia que teria que enfrentar tudo aquilo, sua paixão proibida, o dilema moral, a traição que se escondia em cada gesto.



O silêncio do quarto era denso, pesado, um tipo de refúgio que Lorenzo nunca imaginara precisar tanto. Em meio silêncio e ao vazio, ele se sentia seguro, ainda que inquieto, preso às lembranças daquela noite. Tudo o que conseguia pensar era em Angelina, se ela estava bem, se havia acordado e lembrava do que aconteceu, mas ao mesmo tempo, algo dentro dele o impedia de ir até ela. Ele temia não conseguir encarar tudo o que aquela noite representava, toda a avalanche de sentimentos que o dominava.

Olhou para o celular e viu as horas se arrastando para a meia-noite, o fim de um dia que parecia eterno. Fechou os olhos por um momento, tentando encontrar alguma paz em meio ao caos. Mas então, o som da porta ecoou pelo quarto. Talvez fosse Serena, e ele já ensaiava uma resposta educada, pronto para pedir que o deixasse sozinho. Levantou-se da cama sem se preocupar com o fato de estar apenas de boxer e abriu a porta, mas o que viu do outro lado o fez congelar.

Era Angelina. Sem uma palavra, ela entrou como um furacão, sua voz preenchendo o quarto com intensidade. Lorenzo ficou paralisado, assistindo enquanto ela falava, enquanto cada palavra que ela dizia parecia atravessá-lo, dissipando as sombras de suas dúvidas. Ela estava bem, estava viva e, como ele nunca ousara imaginar, estava ali porque queria estar com ele, da mesma forma que ele a desejava com todo o seu ser.

𝗙𝗜𝗥𝗘 𝗔𝗡𝗗 𝗕𝗟𝗢𝗢𝗗 - @𝗅𝟢𝗌𝗍𝗋𝖾𝗂𝖽Onde histórias criam vida. Descubra agora