Lorenzo observava Angelina atentamente, sem pressa, absorvendo cada detalhe como quem contempla uma obra de arte. Havia algo em sua presença que o fascinava, uma combinação entre delicadeza e determinação que ele raramente via nas mulheres ao seu redor. Ela falava com uma suavidade que quase contradizia a intensidade de seu olhar, e ele não conseguia desviar os olhos do movimento preciso de seus lábios, que pareciam esculpidos. Cada palavra parecia dançar enquanto ela falava, o Don se viu inexplicavelmente capturado pelo ritmo daquela conversa.
Os fios loiros de Angelina caíam sutilmente sobre seu rosto, e, de vez em quando, ela movia a cabeça para afastá-los, com um gesto que parecia ao mesmo tempo gracioso e distraído. A luz fraca da cozinha refletia em sua pele clara, conferindo-lhe um brilho quase etéreo. Lorenzo sentia como se estivesse em um sonho, um daqueles momentos irreais em que cada detalhe se torna intensamente vívido, sendo necessário tocar sua própria costela para voltar a realidade. Era quase surreal o quanto ele estava absorvido pela presença dela, como se estivesse diante de uma força magnética.
Despertando-se daquele devaneio, Enzo se afastou ligeiramente e, num gesto discreto, sentou-se em um dos bancos ao redor do balcão. Levou a xícara à boca, permitindo que o líquido quente descesse pela garganta, queimando levemente, uma sensação que o ajudava a se manter ancorado na realidade, ainda que sua mente insistisse em vagar. Sentiu-se dividido entre a compostura e o desejo de deixar o olhar se demorar um pouco mais abaixo do pescoço de Angelina, explorando os contornos delicados que o pijama revelava. Sabia que aquele pensamento era inapropriado, mas algo nele não resistia à tentação.
Depois de um longo silêncio, Lorenzo decidiu falar, quebrando a tensão do ambiente.
─ O Enrico... - começou ele, com uma leve hesitação. Seus olhos desviaram para o balcão de madeira, como se ali pudesse encontrar as palavras certas. - Ele é um cara simples. Ama a família mais do que qualquer coisa, sabe? Tem um jeito especial com crianças... e por aqui, as mulheres costumam ter muitos filhos.
O Don fez uma pausa, observando a expressão de Angelina, que agora parecia compreensiva, talvez até curiosa. Ele sabia que, na Cosa Nostra, as famílias grandes eram uma tradição quase sagrada, e Angelina provavelmente entendia o peso daquilo. No entanto, ao tocar nesse assunto, uma lembrança dolorosa se infiltrou em sua mente, e Lorenzo desviou o olhar, passando a mão sobre os olhos em um gesto inconsciente, como se pudesse afastar o fantasma do passado.
A lembrança de Lucy era uma ferida que ele mantinha bem guardada, mas a presença de Angelina parecia trazê-la à tona de uma forma inesperada. Ele ainda se lembrava da alegria que ele e Lucy haviam compartilhado ao descobrir que ela estava grávida; e do vazio que o consumiu ao perdê-la junto ao filho que ela carregava. A sombra daquele luto o invadiu por um momento, deixando-o em silêncio.
Tentando recuperar o controle, ele decidiu arriscar um comentário leve, algo que pudesse dispersar a melancolia.
- Olha, se você não for chata igual a sua... - Lorenzo parou abruptamente, percebendo que havia se deixado levar mais uma vez pela sua sinceridade. Mordeu o lábio, ciente de que talvez tivesse falado demais. - Me desculpe. Não foi minha intenção ser indelicado.
Nem Lorenzo nem seu irmão Enrico gostaram da irmã mais velha de Angelina. Porém não queria criar uma situação desconfortável diante da mais nova, especialmente agora, que acabaram de se conhecer. Decidiu que o melhor seria mudar o rumo da conversa antes que a atmosfera se tornasse ainda mais delicada.
- Tenho certeza de que você e o Enrico vão se dar bem. - disse ele, esforçando-se para sorrir, embora o sorriso não atingisse totalmente seus olhos. - E não se preocupe, você não vai precisar morar neste labirinto. Enri tem sua própria casa.
Angelina o olhou com um pequeno sorriso, um sorriso que parecia conter uma mistura de compreensão e curiosidade. Enzo sentiu o peso daquele olhar e percebeu que, assim como ele a estudava, ela também o observava com atenção. Havia algo nos olhos dela que transmitia um entendimento profundo, como se estivesse capturando algo além das palavras.
Ele tentava disfarçar, mas sentia-se intrigado pela intensidade da conexão silenciosa que se estabelecia entre eles. Angelina era muito mais do que apenas uma mulher atraente; ela parecia ser alguém que entendia os silêncios, que enxergava além das aparências. Lorenzo se viu questionando o futuro, imaginando como seria conviver com ela nas ocasiões familiares, sabendo que ela se tornaria sua cunhada, mas sentindo que aquele vínculo poderia ser mais complexo do que ele jamais imaginou.
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𝗙𝗜𝗥𝗘 𝗔𝗡𝗗 𝗕𝗟𝗢𝗢𝗗 - @𝗅𝟢𝗌𝗍𝗋𝖾𝗂𝖽
Lãng mạn✦ 𝑆𝐼𝑁𝑂𝑃𝑆𝐸 Lorenzo Mattioli, o calculista e implacável líder da Cosa Nostra, carrega nos ombros o peso de um império herdado, erguido sobre o sacrifício do pai, consumido por uma longa e amarga doença. À frente da máfia mais temida da Itália...