𝟏𝟒 ⌁ 𓈒 ֹ ANGELINA CORVETTI ˳ׄ ⬞

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Angelina admirava-se no espelho, os olhos vagando por cada detalhe como se vissem uma versão nova. O vestido bege, de corte elegante e clássico, desenhava-se suavemente sobre as curvas do seu corpo, deixando entrever uma feminilidade discreta. O decote em forma de coração e as alças finas traziam uma delicadeza e uma certa vulnerabilidade que ela raramente se permitia. As ondas nas pontas de seu cabelo — fruto de minuciosos minutos que passara ajeitando os fios com paciência — caíam com perfeição, como se a envolvessem em um véu de sutil beleza.

Foi então que, sem aviso, Donnatela irrompeu pelo quarto, sua presença dominadora tomando conta do espaço. Angelina observou a irmã pelo espelho, notando o olhar ácido e crítico que ela sempre trazia consigo. Donnatela parou após três passos precisos, e seus olhos implacáveis fixaram-se nos de Angel. A postura de Angelina, que até aquele momento carregava um toque de leveza, endureceu, enquanto ela se preparava para o confronto nada silencioso que aquela visita não anunciada inevitavelmente trazia.

— Parece que você e Enrico estão se dando bem. — começou Donna, com um sorriso cínico desenhado nos lábios. — Finalmente está fazendo algo certo.

— Enrico é um ótimo homem, não é difícil se gostar. — rebateu Angelina, deslizando as mãos pelo tecido de seu vestido. — Gosto da companhia dele.

— Ah, ótimo! Sem reclamações. Já estava cansada das suas lamúrias. Você é o ser humano mais difícil de agradar.

Angelina revirou os olhos, abafando uma resposta que sabia ser inútil. A presença de Donnatela era como um espinho que, quanto mais tentava ignorar, mais incomodava. Mas se manteve em silêncio, fingindo que as palavras da irmã passavam despercebidas.

— Eu e Lorenzo também estamos nos dando muito bem, sabia? — prosseguiu Donnatela, em tom venenoso, impassível frente ao desprezo de Angelina.

Angel sentiu uma pontada, uma dor incômoda que subia do estômago ao peito. O modo como Donnatela pronunciava o nome do Don Italiano com aquela malícia era insuportável, fazia seu sangue ferver.

— Ele é incrível, sabe? Inteligente, sabe conversar sobre qualquer coisa... e tem uma voz que... ah, aquele corpo... — Donnatela riu suavemente, abanando o rosto com fingido encantamento. — Sem muitos comentários.

Angelina respirou fundo, mas o ar parecia rarefeito. O simples nome de Lorenzo era suficiente para tirar-lhe as forças, como se houvesse algo dentro dela que cedia a cada menção. E, embora soubesse que reagir seria inútil, não pôde evitar o desconforto que transparecia na maneira como suas mãos se entrelaçavam, tensas, sobre o abdômen.

— Acho que ele e eu poderíamos dar certo. Sem esforço, sem fingimento — continuou Donnatela, perspicaz, sabendo que cada palavra fincava como uma faca. — Mas fique tranquila, irmãzinha. Se o Enrico te deixar, eu ainda manterei laços com os Mattioli. Me casarei com o Don. Seria até melhor para os negócios do papai.

Xeque-mate. Angelina soltou o ar, sentindo o peito pesado, mas qualquer resposta se dissolvia antes de alcançar sua voz. A certeza arrogante de Donnatela a desconcertava, deixando-a entre a raiva e a dúvida. Seria verdade que Lorenzo se interessara por aquela mulher? Que havia alguma coisa entre eles? A ideia a nauseava, mas também a deixava desnorteada.

Imagens falsas invadiram sua mente, repulsivas e incontroláveis. Angelina, de frente para o espelho, prendia o fôlego como uma estátua, lutando para se livrar das perguntas que a atormentavam.

— Não demore. Sairemos logo — anunciou Donnatela, e antes de deixar o quarto lançou uma última ofensa, afiada como uma lâmina. — Esse vestido fica péssimo em você.

𝗙𝗜𝗥𝗘 𝗔𝗡𝗗 𝗕𝗟𝗢𝗢𝗗 - @𝗅𝟢𝗌𝗍𝗋𝖾𝗂𝖽Onde histórias criam vida. Descubra agora