𝟓𝟐 ⌁ 𓈒 ֹ ENRICO MATTIOLI ˳ׄ ⬞

120 19 6
                                    

Desde muito jovem, Enrico percebia que algo dentro dele não se encaixava com as expectativas que o mundo lhe impunha. Nunca teve o desejo de beijar garotas, e mais do que isso, sentia uma frieza inexplicável por todas elas. Quando seus amigos falavam sobre paixões, Enrico sentia-se deslocado. A primeira vez que esteve com uma garota foi apenas para agradar aos outros, tentando encaixar-se. Apesar das palavras de apoio do irmão, que o incentivava a seguir seu próprio tempo, ele cedeu à pressão. Queria ser como os outros, seguir o que achavam "ser normal", e então, começou a se forçar a viver a mesma vida. Saia com garotas, dormia com elas, mascarando os sentimentos que, no fundo, eram um mistério até para si mesmo. Mas, ao final de cada encontro, tudo o que restava era um vazio imenso e esmagador, uma solidão que parecia rir de sua tentativa de ser algo que não era.

A vida mudou drasticamente quando Lorenzo se casou com Lucy. Foi então que Enrico finalmente sentiu o que era se apaixonar. Ele percebeu que poderia, sim, querer alguém com toda a sua alma, desesperar-se com a ausência e sonhar com a presença. Sentir o desejo insaciável de tocar aquela pessoa, de estar perto dela o tempo todo. A primeira vez que Louis retribuiu seu olhar, ele soube que não estava sozinho naquele sentimento proibido. Foram anos de encontros roubados e segredos sussurrados, e o calor desses momentos o mantinha vivo. Quando os dois estavam juntos, o mundo desaparecia, e o vazio que ele sentia desde sempre se dissolvia no olhar do outro. Mas, ao voltarem para o mundo real, tudo tinha que ser escondido o toque de mãos, os sorrisos cúmplices, a paixão pulsante. Eram apenas amigos aos olhos de todos, mas Enrico queria gritar para o mundo o quanto amava Louis.

Quando Lucy faleceu, Enri permaneceu ao lado de Louis. Ele sabia que cada segundo ao lado dele era uma chance de oferecer um pouco de paz, uma âncora para que seu amado não se perdesse na dor. Estar ao lado de Louis nesse momento doloroso era a prova de que ele jamais abandonaria o homem que amava. Mas a vida cobrava seu preço, e, em um certo ponto, Enrico teve que enfrentar a realidade de seu próprio casamento. A ideia de se unir a outra pessoa o enchia de uma dor silenciosa, mas ele acreditava que não poderia ser diferente. Que Louis talvez fosse apenas uma lembrança, uma marca indelével em seu coração, mas que ele precisaria seguir outro caminho.

E então apareceu Angelina. Com sua doçura e gentileza, ela foi como uma brisa inesperada, e Enrico, por um breve momento, encontrou conforto na ideia de que ela poderia ser a companheira que ele precisava. Ele convenceu-se de que casar-se com ela talvez não fosse tão ruim, que ela poderia preencher, ainda que parcialmente, o vazio em seu coração. Mas enquanto o tempo passava, Enrico percebeu que seu coração nunca se curaria completamente, porque ele sempre pertenceria a Louis.

Esse amor era mais do que um sentimento. Era uma marca profunda, uma promessa silenciosa, um laço que o tempo, a distância e as obrigações familiares jamais apagariam. Em seu íntimo, Enrico sabia que, independentemente de tudo, amaria Louis até o último suspiro.

Parado ali, com o peito cheio de tensão e medo, Enri observava os olhos gentis de Angel, como se tentasse prever a reação que viria a seguir. As palavras pareciam fugir de sua mente, qualquer desculpa que pudesse inventar soava falsa e pequena diante do que ele sentia. Ele sabia que não podia simplesmente admitir à sua noiva que, por mais que tentasse, nunca poderia amá-la como ela merecia. Uma pressão insuportável esmagava seu peito, o coração batendo tão rápido que ele mal conseguia respirar, e, antes que encontrasse coragem para dizer algo, Angelina se adiantou.

Com uma doçura que ele não esperava, Angel deu um passo em sua direção, e, calmamente, segurou a mão dele entre as suas. Seus dedos eram quentes, firmes, como se quisessem transmitir toda a segurança que ele precisava naquele momento. Ela o chamou para sentar na cama ao seu lado e, com a voz carregada de ternura, começou a falar. Cada palavra era carregada de compreensão, de uma empatia que parecia rasgar as paredes do medo que Enrico ergueu ao seu redor por tanto tempo.

𝗙𝗜𝗥𝗘 𝗔𝗡𝗗 𝗕𝗟𝗢𝗢𝗗 - @𝗅𝟢𝗌𝗍𝗋𝖾𝗂𝖽Onde histórias criam vida. Descubra agora