𝟎𝟑 ⌁ 𓈒 ֹ LORENZO MATTIOLI ˳ׄ ⬞

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Lorenzo ficou visivelmente incomodado ao perceber a presença inesperada da garota, alguém que não havia sido convidada e que sequer mencionara que acompanharia a irmã naquela visita. Ela estava ali, passeando pela sua casa com uma liberdade quase natural, embora fosse uma completa estranha. A chegada de duas desconhecidas em sua residência não fazia parte de seus planos meticulosamente preparados, e ele sentiu o desconforto aumentar a cada passo que elas davam em direção ao salão principal, a cada palavra que escapava dos lábios falantes de Donnatela, a irmã mais velha.

Giorgia, sua mãe, notou a inquietação nos olhos do filho. Ela o conhecia bem o bastante para perceber quando o humor dele pendia para a irritação, então, com a delicadeza materna que lhe era característica, tocou o braço de Enzo, oferecendo-lhe um sorriso afável e um aperto reconfortante. Aquele gesto, silencioso mas profundo, acalmou o turbilhão interno do rapaz por um breve momento. Mesmo assim, não foi o suficiente para dissipar completamente o desconforto.

Enquanto seguiam pelo corredor em direção ao coração da mansão, Donnatela não parava de falar, impressionada com cada detalhe da decoração. Seu deslumbramento transbordava em comentários entusiásticos sobre as obras de arte, os móveis luxuosos, e a grandiosidade dos espaços. Ela parecia absorver cada nuance do ambiente com uma fascinação que beirava a obsessão, sem qualquer pudor de demonstrar sua admiração. Lorenzo, no entanto, não podia evitar o sentimento de desagrado que surgia ao vê-la agir tão desinibidamente.

Ao chegarem ao jardim nos fundos da mansão, a família Mattioli já aguardava a presença das convidadas, cumprimentando-as com formalidade e cordialidade. Angelina, a mais nova, recebeu elogios instantâneos por sua beleza clássica e sua elegância serena. Aquele momento fez com que uma onda inesperada de nostalgia invadisse Lorenzo. A imagem de Angelina, sendo admirada por todos ao redor, o transportou a um passado que ele pensava estar enterrado: o dia em que Lucy, fora apresentada à família. O mesmo brilho nos olhos dos presentes, o mesmo fascínio estampado nos rostos, como se o tempo tivesse retrocedido e ele estivesse novamente vivendo aquele momento.

Tentando afastar as lembranças, Lorenzo se dirigiu à mesa de bebidas com passos calculados e firmes. Apoiou-se contra o balcão e serviu-se de um whisky duplo, o gelo tilintando contra o vidro enquanto ele se perdia momentaneamente na transparência do líquido âmbar. Ele deu um gole, sentindo a ardência reconfortante deslizar pela garganta, um contraste bem-vindo ao frio que parecia impregnar seu peito. Mas, antes que pudesse mergulhar completamente na solidão daquele instante, uma presença delicada surgiu ao seu lado.

Ele mal teve tempo de registrar o movimento antes de perceber uma figura feminina parada, observando as garrafas de bebida com curiosidade sútil. Enzo se virou de lado, ainda sem encará-la completamente, mas já consciente de que não era Donnatela quem o acompanhava. Algo, no entanto, o fez parar. Seu coração, que até então mantinha um ritmo sereno, disparou subitamente. A presença daquela jovem parecia carregar uma energia que ele não conseguia identificar, um misto de inquietação e atração que o pegou de surpresa.

─ Sua família é muito bonita, senhor Mattioli.

A voz dela soou como uma melodia suave, com uma cadência que contrastava totalmente com o tom estridente e invasivo da irmã mais velha. Havia algo de encantador naquele timbre, como se cada palavra fosse cuidadosamente moldada antes de ser pronunciada. Lorenzo olhou para ela, ainda que de forma discreta, e sorriu de maneira quase involuntária, alcançando um copo e oferecendo-o com um gesto cortês.

─ Whisky? Vodka?

Não lhe importava se ela bebia álcool ou não. Lucy, por exemplo, também bebia de tempos em tempos, então ele sentiu-se à vontade para oferecer a bebida à jovem, mas havia algo mais naquele gesto, algo que ia além de uma simples hospitalidade.

Enquanto servia o copo, ele deixou escapar um suspiro leve, tentando controlar a curiosidade que se instalava em seu peito. A sensação de desconforto inicial começava a se dissipar, mas uma nova sensação a substituía: uma espécie de fascínio silencioso, quase indescritível. Decidido a manter o controle da situação e de seus próprios sentimentos, Lorenzo assumiu um tom direto, com um olhar afiado, e expressou a sua percepção de forma clara.

 Aliás, vou precisar ligar para o seu pai mais tarde. Sinceramente, senhorita Corvetti... Se sua irmã está aqui com a intenção de me conquistar, vocês duas podem poupar o esforço e desistir.

A sinceridade na voz dele era quase palpável, como uma lâmina cortante. o Don não era do tipo que se deixava enganar com facilidade, e, desde o primeiro instante, captara as intenções de Donnatela. Ela estava ali com um propósito, e ele sabia que o plano envolvia uma aliança conveniente para ambas as famílias. Contudo, ele não estava disposto a ceder.

𝗙𝗜𝗥𝗘 𝗔𝗡𝗗 𝗕𝗟𝗢𝗢𝗗 - @𝗅𝟢𝗌𝗍𝗋𝖾𝗂𝖽Onde histórias criam vida. Descubra agora