𝗙𝗜𝗥𝗘 𝗔𝗡𝗗 𝗕𝗟𝗢𝗢𝗗 - @𝗅𝟢𝗌𝗍𝗋𝖾𝗂𝖽

𝟓𝟑 ⌁ 𓈒 ֹ ANGELINA CORVETTI ˳ׄ ⬞

Angelina respirou fundo, enchendo os pulmões de ar e o coração de uma rara certeza. Diante dela, Enrico era uma caixa de segredos em forma humana, desmanchando-se em suas confissões mais íntimas. Naquela presença, sua armadura cedia, liberando os alfinetes que mantinham sua alma presa em um quadro de mentiras. Ali, com Angelina, ele finalmente ousava dizer em voz alta quem era, quem queria ser e como desejava viver em paz, sendo ele mesmo.

A forma como Enrico falava de Louis era compreendida por Angelina com uma precisão dolorosa. Ela sabia o que era amar alguém em segredo. As histórias eram distintas, os pesos diferentes, mas ambos compartilhavam o mesmo fardo: a obrigação de silenciar o amor que pulsava dentro deles, de não poder gritar ao mundo o desejo de viver ao lado de quem amavam.

Ela meneou a cabeça em negação ao ouvir Enri pedir desculpas por uma traição que nunca existira. No fundo, ele traía apenas a si mesmo, negando quem realmente era, renegando o que sentia e, acima de tudo, sabotando o próprio futuro.

- De forma alguma, Enri! Você não me traiu, não veja as coisas desse jeito, eu também não vejo. - assegurou, entrelaçando as mãos dele com firmeza.

Se Enrico insistisse em ver aquilo como uma traição, Angelina também lhe deveria desculpas. E independente do que ele dissesse, ela se desculparia. Afinal, enquanto estava prometida a ele, era Lorenzo, o irmão mais velho de seu noivo, quem habitava seus sonhos e ardia em seus desejos.

Enrico falava como uma torrente, e Angelina o escutava com o coração escancarado, admirando a coragem que ele exibia. Ela estava ali para lhe oferecer seu colo, um refúgio, uma sensação de lar - a mesma segurança que ele tantas vezes havia oferecido a ela.

A relação de Enri e Louis era marcada por complicações. Além do preconceito que cercava a máfia e o mundo, eles pertenciam a famílias rivais, lares que se odiavam devido a um mal-entendido que nunca foi compreendido pelo Don dos Blinders. Louis era filho de Bartor, e tudo o que viviam era um risco constante, uma ameaça invisível rondando cada passo.

Dormir ao lado de quem se ama, sabendo que seu coração pertence ao inimigo, é uma dor que escava fundo, uma faca cravada com suavidade. Cada toque, cada respiro compartilhado torna-se um lembrete silencioso de que aquele amor está marcado pela impossibilidade, envolto em lealdades divididas e promessas que nunca poderão ser cumpridas. É um tormento suave, a certeza de que, apesar de cada segundo roubado, ele nunca será verdadeiramente seu.

Angelina captava a dor nos olhos vermelhos de Enrico enquanto ele lhe agradecia pela compreensão.

- Comigo, você sempre poderá ser você mesmo, Enri. - sussurrou, esboçando um sorriso suave. - Seremos sempre um pelo outro.

Enrico era para Angelina como um extintor, apagando os incêndios que consumiam seu interior. Desde que se conheceram, ele foi, sem ao menos notar, uma âncora para a garota.

Angelina soltou um suspiro pesado, baixando os olhos para as mãos entrelaçadas dos dois. Sabia que era o momento de falar, mesmo que Lorenzo tivesse insistido para que ela esperasse, para que o tempo desse a oportunidade para ele contar. Mas Angel não podia deixar que Enrico se abrisse tanto enquanto ela permanecia trancada com o que a sufocava.

- O Lorenzo... - murmurou, engolindo em seco e erguendo o olhar para encontrar o dele. - Ele também tem coisas para te contar. Você saberá a hora de dizer sua verdade quando ele colocar a dele para fora.

Tentava encontrar as palavras certas, um modo de ser clara sem assustar aquele homem já tão vulnerável.

- É que...

Sacudiu a cabeça, tomando coragem para liberar o que lhe pesava na alma.

- Estou apaixonada pelo Lorenzo. - confessou, respirando fundo para recobrar a firmeza. - Simplesmente... aconteceu, sabe? Eu sei que você entende, que entende essa dor que é não poder escolher quem domina nossa mente e nos tira o chão. Eu nunca tinha sentido isso com ninguém, me cobrei tanto por não sentir com você pois achava que eu tinha sim total domínio pelas escolhas do meu coração. Mas a verdade é que eu nunca tive escolha para nada nessa vida. Eu não pude escolher quem eu queria ser, para aonde ir, com quem falar e quem amar. E dessa vez, só dessa vez, eu sou grata pela escolha do meu coração. Lorenzo me faz feliz...

Os olhos da loira buscaram os de Enrico, absorvendo o impacto que sua revelação causava. Mas sentia-se segura para continuar falando.

- Então, me perdoe por também ter te traído. Lutei contra esse sentimento, lutei tanto que arrisquei meu futuro. Prometi a ele que, se não desse certo, eu voltaria para Chicago. Não conseguiria seguir com o noivado, não seria justo com nenhum de nós três. - fechou os olhos por um instante. - Não é justo escondermos o que nossos corações guardam por trás de um noivado que nos nega o conforto de um amor verdadeiro. - Ela encontrou o olhar do rapaz, que assentia em silêncio. - Eu te amo, Enrico, mas você não é meu e eu não sou sua.

Um sorriso aliviado desenhou-se em seus lábios enquanto ela sentia o peso se dissipar. Enrico lhe dava asas.

- Não conte para o Lorenzo que eu te disse, tudo bem? Ele quer conversar com você, e acho que é o certo. Vocês são irmãos, e segredos não deveriam existir entre irmãos. Espere ele se abrir com você, e então saberá como se abrir com ele.