𝗙𝗜𝗥𝗘 𝗔𝗡𝗗 𝗕𝗟𝗢𝗢𝗗 - @𝗅𝟢𝗌𝗍𝗋𝖾𝗂𝖽

𝟒𝟎 ⌁ 𓈒 ֹ ANGELINA CORVETTI ˳ׄ ⬞

Em uma outra vida, eu seria sua garota
Nós manteríamos todas as nossas promessas, seríamos nós contra o mundo
Em uma outra vida, eu faria você ficar
Para eu não ter que dizer que você foi aquele que foi embora

The One That Got Away — Katy Perry

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O elogio de Lorenzo arrancou de Angelina um suspiro, como se aquelas palavras, tão simples e diretas, tivessem o poder de aliviar o fardo que curvava seus ombros, libertando-a, ainda que brevemente, do mar inquieto de seus dilemas.

— Obrigada... — murmurou, num sorriso que quase não se revelava.

Entregou-se ao toque firme do Don, cedendo a ele seus passos e seu destino. Há poucos minutos estivera em seus braços, mas bastaram esses segundos afastados para que a saudade começasse a apertar-lhe o peito, com uma intensidade quase desesperada.

Angel estava viciada em Enzo, e a consciência disso era uma fonte de angústia inominável.

Mas, naquele instante, nada mais fazia sentido além do toque dele, do perfume que a envolvia e penetrava seus sentidos, fazendo-a se apegar àquela essência de forma quase irreversível. Sentia-se cativa ao controle que ele exercia sobre ela, sua nuca entregue, seus lábios buscando os dele como quem busca consolo. Qualquer gesto vindo dele agora era um respiro necessário, uma resposta ao caos que a dominava.

Angelina o acompanhou no toque suave, carregado de promessas silenciosas, onde suas bocas se moldavam como se o encaixe entre eles tivesse sido feito um para o outro. Tudo nela parecia destinado a ele, e tudo nele parecia destinado a ela. Mas o destino disposto a feri-los com a impossibilidade desse amor, os castigava.

Uma lágrima furtiva deslizou pelo canto de seus olhos, quase invisível. Angelina chorava em silêncio, absorvendo a sensação daquele beijo que ela tanto esperara. Não era mais pelo tormento do passado; agora sua alma transbordava de uma frustração amarga, por não poder ousar assumir o que mais queria.

Doía aceitar que jamais poderia sair dali de mãos dadas com Lorenzo. Doía saber que nunca poderia entrelaçar seus dedos aos dele em público, nem ceder ao anseio de dividir uma noite inteira sem a pressa imposta pela madrugada e a fuga pela manhã. Doía, e doía tanto, que só o seus olhos poderiam confessar.

Quando finalmente interrompeu o beijo, manteve os olhos cerrados e pousou a testa contra a dele, prolongando o instante. Suspirou, tão próximo de seus lábios, que o ar parecia vibrar com seu silêncio.

— Preciso ir...

Ela queria ficar. Enraizar-se ali, nos braços de Lorenzo. Mas precisava ir. Era seu noivado, e ela era a noiva. A noiva do irmão dele.

Antes de atravessar a porta, Angelina voltou-se, e lhe ofereceu um sorriso delicado.

— Obrigada de novo, meu Don.

Fechou a porta, com sua enorme vontade de ficar. Seus passos ecoavam pelo salão enquanto ela cruzava o espaço, buscando por Enrico, que a recebeu com um sorriso.

— Ai está você! Tá tudo bem? — A expressão dele mudou, preocupado ao notar a sutil umidade nos olhos dela. — Você estava chorando?

— Tá tudo bem! — Ela assegurou com um sorriso leve. — É só... felicidade...

"Feliz porque o seu irmão não me odeia. E triste porque jamais poderemos passar de uma afeição silenciosa."

Ela desviou o olhar por cima dos ombros de Enri e avistou Lorenzo voltando ao salão, cumprimentando convidados com uma naturalidade ensaiada. Seus olhares se encontraram e um sorriso fugaz e incontrolável apareceu em seus rostos, gravando-se na memória dela como uma lembrança quase sagrada.

— Conversei com seu pai. Ele é insuportável — sussurrou Enrico, trazendo-a de volta e arrancando um riso abafado da garota.

— É demais, e você não viu nada.

Os dois entrelaçaram os braços e caminharam até sua mesa, aguardando o anúncio formal de seus nomes. Aquilo não era um simples noivado, era um pacto entre dois impérios perigosos: a máfia de Chicago e a máfia italiana. Mas Angelina não parecia se importar tanto com tanta responsabilidade naquele momento, seus pensamentos estavam longe.

Durante o jantar, ela e Enrico compartilhavam risos e cochichos sobre os convidados, como duas crianças trocando segredos proibidos. Angelina riu tanto que, por um breve instante, esqueceu-se de toda a escuridão que a cercava. Enri não era apenas seu noivo, era seu amigo. E talvez fosse esse vínculo que ela mais temia perder, se a verdade um dia viesse à tona.

Gostaria de amar Enrico como deveria, ele era bom em tudo, quase perfeito. Mas ele não era Lorenzo, e esse era o seu maior problema.