𝟓𝟒 ⌁ 𓈒 ֹ ENRICO MATTIOLI ˳ׄ ⬞

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Enrico sentiu o choque reverberar em cada fibra do seu ser, como se uma onda o tivesse atingido e o deixado sem ar. Era impossível esconder a surpresa que tomava conta dele, ampliando seu olhar em um misto de espanto e compreensão tardia. O mundo pareceu desacelerar enquanto ele relembrava, com uma clareza repentina, a noite fatídica do luau na ilha de Stella.

Aquela lembrança, antes embaçada pelos detalhes da tensão e do medo, agora surgia com uma nitidez cortante. Ele conseguia quase ouvir o som do mar agitado, as ondas violentas estourando contra as rochas, enquanto Lorenzo, sem hesitar, lançava-se na água gelada e bravia para salvar Angelina. Enrico recordava o desespero gravado nos olhos de seu irmão, o rosto contorcido em uma angústia palpável. Aquele Lorenzo, que todos julgavam impassível, tinha suplicado pela vida dela com uma intensidade que, até então, Enri nunca havia compreendido totalmente.

Como um quebra-cabeça finalmente montado, tudo fez sentido. Lorenzo, sempre tão controlador, tão decidido a manter Angelina longe sob o pretexto de "ela não serve", na verdade travava uma batalha silenciosa contra seus próprios sentimentos. Todo aquele "ódio", todos os argumentos sobre mandá-la para Chicago, agora se revelavam como máscaras frágeis, escudos improvisados para esconder uma paixão intensa e avassaladora.

Enrico sentiu o calor de um sorriso se formar lentamente, um sorriso que misturava incredulidade, ironia e até um toque de ternura. Era quase cômico, de uma forma trágica, perceber que seu irmão, que sempre parecia saber exatamente o que fazer, que nunca hesitava em suas decisões, estava vivendo um conflito tão profundo. O homem que todos viam como inabalável, forte como pedra, estava, na verdade, à mercê de uma força tão intensa quanto as ondas que ele havia enfrentado naquela noite, quando se lançara para salvar Angelina.

De repente, Enrico compreendeu a dimensão daquele segredo, e sentiu uma conexão mais forte ainda com o irmão, uma espécie de empatia silenciosa. Não era apenas sobre esconder quem ele era; era sobre um amor tão profundo que desafiava as barreiras que eles mesmos haviam erguido.

─ Estou surpreso... embora talvez nem tanto quanto deveria. ─ Enri admitiu, suspirando profundamente. ─ A verdade é que essa possibilidade passou pela minha cabeça desde o dia em que... ─ ele hesitou, seus olhos se perdendo no passado. ─ Desde o dia em que ele te salvou na água. Nunca vi meu irmão daquele jeito, foi como um déjà vu do dia da morte da Lucy. Só que, naquela vez... ele não pôde fazer nada por ela. Mas por você... ele lutou com tudo o que tinha.

Angelina segurou a mão dele com firmeza, assentindo com um sorriso carregado de emoção. Lágrimas brilhavam em seus olhos, escorrendo suavemente pelo rosto, como se liberassem o peso das palavras de Enri e tudo que haviam vivido até ali.

─ Eu entendo o que você sentiu ao ver isso nele. Imagino o conflito que deve ter sido para você, achando que estava me fazendo mal por sentir algo tão forte por ele. ─ Sua voz era baixa, mas cheia de gratidão. ─ Agradeço por compartilhar isso comigo, Angel. Prometo esperar que ele venha até mim e se abra.

O rapaz puxou a loira para um abraço apertado, transbordando afeto. Angelina era, para ele, como a irmã mais nova que nunca teve. O coração se encheu de paz ao saber que ela continuaria em sua vida, pois Lorenzo jamais a deixaria ir embora. Quando ambos se afastaram, sorriram um para o outro, e ele quebrou o silêncio com uma pitada de humor.

─ Agora entendo porque ele me fez terminar a comemoração mais cedo e desaparecia o tempo todo. Ah, sem falar que estava querendo te mandar de volta para Chicago.

Os olhos de Angelina se arregalaram ligeiramente, e Enrico riu, tentando amenizar.

─ Pois é... depois pergunta para ele, tá? Eu não vou me meter em briga de "marido e mulher".

Ele disfarçou com um sorriso, jogando a responsabilidade de volta para o irmão. Entendia agora a razão de Lorenzo querer manter Angelina longe: ele gostava dela e não sabia lidar com isso. Mas esse tipo de conversa cabia apenas a eles.

─ Aliás, só quero dizer que torço muito para que vocês fiquem juntos. Meu irmão é um cara incrível, mesmo com toda aquela pose de Don. Você não vai se arrepender, Angel. E, se ele te magoar, vou ter o maior prazer em dar um soco na cara dele.

Angelina soltou uma risada, e os dois se abraçaram mais uma vez. Enrico, finalmente, sentia-se em paz por poder ser ele mesmo com alguém. Angelina era sua pessoa favorita, e agora tinha certeza disso.

𝗙𝗜𝗥𝗘 𝗔𝗡𝗗 𝗕𝗟𝗢𝗢𝗗 - @𝗅𝟢𝗌𝗍𝗋𝖾𝗂𝖽Onde histórias criam vida. Descubra agora