𝟒𝟗 ⌁ 𓈒 ֹ LORENZO MATTIOLI ˳ׄ ⬞

150 18 13
                                    

A imponente mansão da família Mattioli, com sua fachada de mármore e jardins meticulosamente cuidados, parecia quase respirar alívio ao receber seus moradores de volta. O clima era de expectativa e tensão velada; todos sabiam que o retorno a Palermo, após o incidente com Angel, não se tratava apenas de descanso. Lorenzo, com o semblante sério e a postura impecável, havia encerrado as festividades mais cedo, alegando que Angel precisava se recuperar completamente. Mas para ele, o verdadeiro motivo era mais profundo: não suportava a ideia de vê-la ao lado de Enrico por mais um dia.

Ao atravessar o saguão da mansão, Lorenzo refletia, traçando em sua mente cada detalhe do que diria ao irmão quando o momento chegasse. Ele sabia que essa revelação mudaria o curso de tudo, mas antes de enfrentar Enri, havia outra questão urgente a ser tratada. Algo que demandava a mesma intensidade e precisão.

Assim que pisou em solo siciliano, Lorenzo não hesitou em convocar Vincenzo, seu primo e conselheiro de longa data. Em um tom baixo e controlado, pediu-lhe que enviasse um recado para Louis Westwood. Era uma reunião que já não podia ser postergada, uma conversa essencial para ajustar os próximos passos.

Três dias se passaram antes que Louis aparecesse na mansão. A chegada do visitante foi discreta, sem pompa, mas sua presença era anunciada pelo porte imponente e olhar firme. Paola, a governanta leal da família, o recebeu e o conduziu através dos corredores, cujas paredes eram adornadas por quadros antigos e tapeçarias finas, até o escritório de Lorenzo. Com passos cuidadosos, Paola bateu na porta e anunciou a presença de Louis antes de deixá-lo entrar.

Ao abrir a porta, Lorenzo ergueu o olhar, avaliando o homem à sua frente. Os cumprimentos foram formais, carregados de uma cordialidade tensa, enquanto os dois se sentaram em cadeiras opostas, separadas apenas pela mesa de madeira maciça. A luz que entrava pelas janelas jogava sombras e luzes que acentuavam os semblantes sérios de ambos. Lorenzo manteve os olhos fixos em Louis, cada gesto dele transmitindo a seriedade da ocasião, enquanto aguardava o momento de iniciar a conversa que poderia definir o futuro.

─ Sei que você não esperava o convite para vir à minha casa. ─ Lorenzo comentou, a voz suave, mas com um toque de ironia que fez os lábios de Louis se contraírem num riso seco e controlado, como se já antecipasse o jogo. ─ Você sabe o quanto eu amava sua irmã e, mais do que isso, que o que aconteceu com ela não foi minha culpa.

Westwood suspirou, desviando o olhar momentaneamente, como se as lembranças do passado pesassem nos ombros. Ele sempre soubera da verdade, e, ao contrário de seu pai, nunca colocou sobre os ombros de Lorenzo a responsabilidade pela perda de sua irmã. No entanto, aquela morte sempre fora uma sombra entre as duas famílias, um peso silencioso que agora ressoava nas palavras frias do Don. Lorenzo, atento, percebeu a hesitação, mas não se deixou abalar e continuou.

─ Quero que tire Bartor do poder da máfia. ─ anunciou, com uma firmeza que cortava o ar. Louis arregalou os olhos ligeiramente, surpreso com a audácia da exigência, mas rapidamente seu olhar endureceu. Lorenzo sustentou o olhar penetrante e prosseguiu, deixando a tensão subir. ─ Seu pai tentou sequestrar meu irmão, fez Angelina passar um verdadeiro inferno naquele maldito porão, e eu mesmo acabei em uma cama de hospital por semanas. ─ Ele umedeceu os lábios, observando o outro e então soltou a sentença de maneira calma, quase mortal. ─ Você tem duas semanas para me ligar e me dizer que ele foi deposto...

Louis endireitou-se na cadeira, o semblante sombrio, mas a postura controlada, um contraste com a raiva contida que emanava de suas palavras ao perguntar, desafiador:

─ Ou?

Lorenzo esboçou um sorriso, lento e perigoso, um sorriso que não escondia o poder com o qual estava acostumado. Sabia que estava em vantagem ali, e Louis, mesmo que não admitisse, também sabia.

─ Ou, eu vou matar ele, sua mãe, sua avó e todos da sua família, exceto as crianças, eu não machuco crianças. Mas matarei quem mais eu achar que deve. Todos que servem a ele. ─ o Don sorriu de forma cínica. ─ E pode acreditar, vou gostar de fazer isso.

A indignação de Louis se manifestou em um movimento brusco, e ele levantou-se, a voz cortante enquanto encarava Lorenzo.

─ Você me trouxe até a Itália para me ameaçar?

Lorenzo apenas ergueu as sobrancelhas, quase como se a pergunta fosse desnecessária, e caminhou até o minibar no canto da sala, sua calma em contraste absoluto com a raiva que Louis expressava. O som do gelo tilintando no copo preenchido com whisky preencheu o silêncio, enquanto Lorenzo dava um primeiro gole antes de se virar, com a expressão relaxada e o copo nas mãos.

─ Estou apenas te dando um aviso, Louis ─ explicou com um tom calmo, calculado, como quem se certifica de que o recado seja entendido. ─ Ninguém na máfia está satisfeito com seu pai no comando. Você estaria fazendo um favor a todos.

Outro gole, e ele permitiu que o sabor do whisky reforçasse a frieza em suas palavras. Louis o olhava fixamente, avaliando o homem à sua frente, sentindo o peso do poder da Cosa Nostra e sua influência que se estendia por territórios onde a máfia britânica jamais ousaria chegar sozinha.

─ Se eu fizer algo, não é porque você mandou, Mattioli. Não fique achando que controla a Europa inteira. ─ A voz de Westwood era uma mistura de desafio e advertência, cada palavra expressando o orgulho ferido. ─ Se eu fizer isso, será pelo meu povo, aqueles que ainda são leais à máfia britânica.

O Don apenas deu de ombros, o olhar quase condescendente, antes de se sentar novamente em sua cadeira de couro, seu copo de whisky quase vazio, mas ainda nas mãos. O silêncio no ar era denso, e ele finalizou a bebida com calma antes de responder.

─ Chame do que quiser. Só não poderá dizer que não avisei.

Louis olhou para ele por mais um instante, os olhos brilhando com uma mistura de desprezo e indignação, mas sem mais palavras a dizer. Com um movimento decidido, virou-se e saiu do escritório, enquanto Lorenzo o observava desaparecer pela porta, o semblante calmo de alguém que sabia, com uma certeza quase cruel, que sua vontade prevaleceria no fim.

𝗙𝗜𝗥𝗘 𝗔𝗡𝗗 𝗕𝗟𝗢𝗢𝗗 - @𝗅𝟢𝗌𝗍𝗋𝖾𝗂𝖽Onde histórias criam vida. Descubra agora