Capítulo 30

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Eu fiquei em silêncio e olhei para baixo, relembrando tudo o que havia acontecido. Nesse momento, meu coração começou a bater muito rápido. Fechei meus olhos e respirei fundo.


- Está tudo bem? - perguntou Tayden.


Mesmo que já tenha se passado dez anos, ainda é difícil ter que falar sobre isso. Mas eles contaram sobre seus passados, então seria injusto se eu não contar sobre o meu. Eu não queria dizer nada, e se eu pudesse me levantar para sair correndo, com certeza faria isso, porém...


- Sim, estou bem - respirei fundo, e dei um pequeno sorriso. - Vou contar a vocês... sobre o meu passado - respirei fundo mais uma vez, tentando fazer meu coração se acalmar, afinal estava batendo muito forte. - Eu tinha nove anos quando a maior tragédia de minha vida aconteceu. Meus pais e eu morávamos muito longe das pessoas; morávamos nas montanhas, ao sudoeste da Muralha. Minha mãe era uma Slayer, mas nunca fez qualquer mal para os humanos: tinha longos cabelos azuis, seus olhos também eram azuis, ela era mais alta que eu, e também manipulava a água. Já meu pai era um humano comum. Os dois se conheceram e ficaram juntos. Mas como vocês bem sabem, humanos e Slayers não se relacionam; pelo menos, não deveriam. Então vários Slayers tentavam nos atacar, mas minha mãe era forte e sempre conseguiu nos defender. Pelo menos, eu a achava forte, por eu ser uma criança. Mas para ser sincera, acho que atualmente sou mais forte que ela, afinal ela não treinava e os Slayers que ela derrotava não eram tão ameaçadores. Mas em um dia, tudo mudou - abaixei a cabeça. - Eu estava no campo, perto de uma nascente de um riacho. Estava procurando por algumas frutas, afinal meu pai adorava e eu sempre buscava para ele. Começou a escurecer e o tempo estava mostrando que logo ia chover, então voltei para casa, mas assim que estava chegando... - parei de falar para segurar minhas lágrimas. Me esforcei para não chorar, então continuei: - Assim que cheguei no quintal de casa, vi minha mãe caída no chão, toda machucada, e... - respirei fundo, - em cima... de uma poça... do próprio sangue - não consegui me segurar e derramei uma lágrima, enquanto mordia meus lábios. - Eu me aproximei dela, me ajoelhei ao seu lado e a chamei. Ela ainda estava viva, e olhou para mim. Os olhos dela... eram tão lindos, e eu olhei para eles desejando que aquilo fosse apenas um pesadelo. Ela pediu para eu fugir dali; estava com a voz fraca e muito baixa como um sussurro. Claro que eu não ia fugir, eu não ia deixá-la ali daquele jeito. Eu me levantei para ver se conseguia ajudá-la de alguma forma, mas nesse momento, vi o corpo do meu pai... e não quero falar como ele estava - levei minhas mãos até meu rosto e limpei as lágrimas que escorriam por ele. - De repente, senti um golpe em minhas costas e voei contra uma árvore. Assim que me levantei, vi que havia um Slayer ao lado de minha mãe com um facão em sua mão. Eu gritei com ele; perguntei o motivo de ele estar fazendo aquilo, mas ele apenas ergueu aquele facão para cima e... - comecei a soluçar, e meu choro ficou descontrolado. Minhas costelas doíam e eu sentia muitas pontadas conforme chorava, mas eu não me importei com aquilo.


- Calma! - pediu Breezy, me abraçando.


Eu soluçava muito enquanto chorava e fiquei assim por alguns minutos. Todos ficaram em silêncio enquanto eu derramava minhas lágrimas. Assim que me acalmei, respirei fundo e disse:


- Já estou bem!


- Tem certeza? - perguntou Breezy, desfazendo seu abraço e olhando para mim.


- Sim - afirmei. - Vou continuar.


- Está bem!


- Aquele monstro... matou minha mãe... na minha frente! - respirei fundo. - Fiquei descontrolada e o ataquei com minha habilidade de água, mas não consegui fazer nada; foi a primeira vez que utilizei minha habilidade. Ele me atingiu, me lançando mais uma vez contra aquela árvore. Depois, me levantou pelo pescoço, enquanto me pressionava contra a árvore. Eu estava perdendo minhas forças, mas de repente caí no chão e vi a cabeça daquele Slayer rolando sobre ele. Era Tohru; ele me salvou e me trouxe até aqui. Passei alguns meses me recuperando do trauma. Depois disso comecei a treinar para me tornar uma caçadora e para desenvolver minha habilidade. Mas eu conseguia utilizá-la apenas quando estava com raiva, então foi difícil aprender a controlá-la.

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