Não existem acidentes

Capítulo 36, Calor da batalha

Sokka

Eu sempre fui o único sem habilidades "especiais". O único que não dobrava nenhum elemento, cresci e lutei junto deles, mas não importa o quanto eu tentasse, parecia que sempre havia algo que eu não podia alcançar. Não era falta de esforço, não era falta de vontade, mas às vezes, parece que o mundo inteiro tá te lembrando do que você não pode fazer.

Até a Katara, minha própria irmã... ela não acreditava no meu potencial. Sempre me tratava como o irmão mais velho desajeitado que só sabia fazer piadas. Era como se tudo o que eu fizesse fosse menor, menos importante, só porque não vinha com um espetáculo de poderes. Cada erro, cada falha, era uma desculpa pra ela pensar que eu nunca ia ser bom o bastante.

Mas, quer saber? Eu nunca deixei isso me parar. Nunca deixei as palavras dela, ou de qualquer outra pessoa, serem maiores do que o meu desejo de provar meu valor. Porque, no fundo, eu sabia. Sabia que mesmo sem dobrar nada, eu tinha algo que ninguém podia tirar de mim, meu esforço.

Eu treinei. Treinei mais do que qualquer um. Planejei, construí, lutei com o que eu tinha. Cada segundo que alguém dizia "Sokka não consegue", era mais uma razão pra eu continuar. Eu aprendi a lutar, a pensar estrategicamente, a criar armas, porque se eu não tinha os elementos do meu lado, então eu ia usar o que estivesse ao meu alcance.

Então, sim, talvez eu não tenha nascido com dons. Eu sei que nunca vou dobrar nada, mas também não deixarei isso me dobrar, pois isso não me faz menos parte desse time. Não importa o que digam, eu sei que pertenço a isso. Eu sou um guerreiro, e todo mundo vai saber disso, quer acreditem ou não.

Porque eu? Eu acredito em mim. E isso já é o suficiente.

Ma-Mian se movia como um raio, rápido e preciso. Sua armadura brilhava sob a luz etérea do mundo espiritual, e cada movimento parecia carregado com a força de um cavalo selvagem. Era como se ele fosse invencível, um guerreiro nascido para lutar. E eu? Eu sou um guerreiro humano, nada nem ninguém vai fazer eu me render.

Ele avançava contra mim com aquela lança de merda, parecia como um trovão. Eu tentava desviar, mas parecia que ele já sabia onde eu estaria antes mesmo de me mover.

O que mais me irrita nesse cara é que ele está brincando comigo, me batendo com a lança como se eu não fosse digno de receber um corte.

Um golpe dolorido acertou meu braço esquerdo, doeu bastante, mas eu não posso desistir aqui.

— Desista, humano! — Ma-Mian disse com um tom de deboche irritante, consegui tirar seu capacete cortando parte do seu rosto com a minha espada.

— Não, não vou desistir. — Era o que eu repetia na minha cabeça, como um mantra, ele se recompôs e me chutou com força, me fazendo ir de encontro com uma das casas da vila.

— Sokka! — Zuko tentava correr até mim, mas eu levanto a minha mão dolorida contra ele. — SE VOCÊ ME ATRAPALHAR, EU TE DESMAIO TAMBÉM!

NINGUÉM! NINGUÉM VAI TIRAR ISSO DE MIM. Me levantei, sentindo minhas costelas doendo com força. Eu vou lutar por todos, minha irmã, meu povo, meu time. Eu precisava ser forte, precisava provar que era mais do que o "cara sem poderes" do grupo.

Minha mente estava correndo, pensando em um jeito de derrubá-lo. Eu sabia que não podia vencê-lo na força ou na velocidade, mas talvez... talvez pudesse vencê-lo na estratégia.

Então, comecei a observar ele se aproximando de mim, cada movimento dele era fluido, mas previsível. Ele confiava demais na sua velocidade, achava que eu não tinha chance.