50. Responsabilidades do casamento

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Com o casamento vinha as responsabilidades. Não foi possível estender a lua de mel por mais uns dias. Em pouco tempo, Felix e Hyunjin já estavam em reuniões de negócios.

O salão era grandioso, com paredes decoradas com tapeçarias que contavam a história dos reinos e suas conquistas. Uma longa mesa de madeira escura, polida até brilhar, ocupava o centro do espaço, e ao redor dela estavam sentados os governantes dos reinos vizinhos: Midgard, o reino da terra, e Prythian, o reino dos ventos. Felix e Hyunjin estavam na cabeceira, representando Erillea, o reino do fogo.

Hyunjin usava uma túnica vermelha com detalhes dourados que brilhava sob a luz das tochas espalhadas pelo salão, sua postura firme e autoritária. Felix, ao lado dele, trajava uma veste prateada com detalhes em vermelho, simbolizando sua posição ao lado do príncipe do fogo. Sua expressão era serena, mas seus olhos vigilantes demonstravam que ele estava atento a cada palavra e movimento.

A conversa girava em torno de alianças, comércio e estratégias de defesa. O clima era formal, mas não hostil. No entanto, a ausência do governante de Adarlan, o reino do gelo, pairava sobre a reunião como uma nuvem pesada.

— O silêncio de Adarlan não deve ser ignorado — disse o representante de Midgard, um homem corpulento com barba cheia e cabelos desgrenhados. Sua voz era grave, e ele gesticulava com ênfase. — Eles sempre foram imprevisíveis, e a ausência deles aqui é uma afronta clara.

Hyunjin inclinou-se para frente, os dedos entrelaçados sobre a mesa. Seus olhos dourados brilharam sob a luz, e sua voz, embora calma, carregava um tom de autoridade.

— Erillea não subestimará Adarlan. Porém, até que eles se pronunciem, não faremos movimentos que possam ser interpretados como provocação.

Felix, que havia permanecido em silêncio até então, ergueu o olhar, atraindo a atenção de todos. Sua aparência, embora mais delicada que a de Hyunjin, compensava na voz que carregava um peso de experiência que os outros não poderiam ignorar.

— Como alguém que já foi parte de Adarlan, conheço bem seus princípios e estratégias. Eles são calculistas. O silêncio não é descaso; é planejamento.

Os olhos dos representantes de Midgard e Prythian se voltaram para Felix, avaliando suas palavras. O governante de Prythian, um homem esguio com cabelos prateados que lembravam a força de um vento cortante, inclinou a cabeça em reconhecimento.

— Suas palavras são sábias, príncipe Felix. Se o silêncio é planejamento, então devemos estar preparados para qualquer eventualidade.

Felix assentiu, mantendo a calma.

— Eles valorizam a paciência como uma arma. Movem-se apenas quando têm certeza de que o momento é vantajoso para eles. Isso significa que, enquanto aguardam, devemos nos fortalecer. Qualquer hesitação de nossa parte pode ser interpretada como fraqueza.

Hyunjin observava Felix com uma ponta de orgulho evidente, mas manteve o semblante sério. Ele se voltou para os outros governantes.

— É por isso que essa aliança entre os reinos é essencial. Juntos, somos mais fortes do que separados. Adarlan pode ser poderoso, mas unidos, seremos inabaláveis.

As palavras de Hyunjin fizeram o ambiente ficar mais leve, e os governantes murmuraram em concordância. Felix pousou uma mão sobre a de Hyunjin, um gesto sutil.

O representante de Midgard, que antes parecia inquieto, finalmente relaxou um pouco e acrescentou:

— Estaremos prontos, seja para a paz ou para a guerra.

A reunião prosseguiu com mais detalhes estratégicos, mas Felix não deixou de ficar inquieto. Ele conhecia o próprio reino o suficiente para saber que aquele silêncio acarretaria em uma tempestade.

...

O vento frio cortava os jardins reais de Erillea, carregando consigo pequenos flocos de neve que nunca derretiam, nem mesmo sob o sol. Era um lembrete constante da maldição que havia coberto o reino em gelo eterno. As flores murchas e árvores cristalizadas pelo frio criavam um cenário melancólico, mas Hyunjin, com sua determinação feroz, se movia pelo jardim como se o gelo não existisse.

Ele segurava a mão de Felix, guiando-o entre os arbustos congelados. Seus passos eram firmes, mas Felix sentia o nervosismo correndo por suas veias, misturado com o frio que ele carregava desde o nascimento. Quando chegaram ao centro do jardim, uma fonte de mármore branco coberta de gelo, Hyunjin parou, virando-se para Felix.

— Está na hora de acabar com isso — disse Hyunjin, sua voz firme, mas com um tom de encorajamento. Ele apertou as mãos de Felix, os olhos dourados brilhando com uma intensidade que só ele possuía.

Felix mordeu o lábio, inseguro.

— E se não for o suficiente? O gelo... ele é tão forte. É como se fizesse parte de mim.

Hyunjin inclinou-se, aproximando o rosto do de Felix, sua voz suavizando.

— Mas você não é só gelo, Felix. Agora, você carrega fogo dentro de você. E juntos, nosso fogo pode superar qualquer coisa.

Felix olhou para as mãos do marido, grandes e quentes, um contraste absoluto com o frio que ele sentia em si mesmo. Respirou fundo, tentando ignorar o gelo em suas veias. Fechou os olhos, buscando o calor que agora fazia parte dele, o calor que Hyunjin havia lhe dado.

— Concentre-se no fogo — Hyunjin instruiu, sua voz baixa e calma. — Não lute contra o gelo. Aceite-o, mas chame o fogo. Ele está aí.

Felix assentiu, seus dedos apertando os de Hyunjin com força. Ele começou a sentir um calor suave em seu peito, uma pequena chama que parecia ganhar força conforme ele se concentrava. Hyunjin fechou os olhos também, permitindo que seu próprio poder fluísse livremente.

De repente, um brilho dourado emanou dos dois. Era suave no início, mas rapidamente cresceu em intensidade. As mãos de Felix começaram a esquentar, e ele abriu os olhos apenas para ver que sua pele estava envolta em chamas douradas.

— Isso... — sussurrou Felix, os olhos arregalados.

Hyunjin sorriu.

— Você está conseguindo.

E então, juntos, eles deixaram o fogo se espalhar. As chamas douradas cresceram, cobrindo seus corpos e brilhando com uma força quase ofuscante. Felix sentiu o calor percorrer cada canto de seu corpo, derretendo o frio em suas veias. Ele fechou os olhos novamente, sentindo o poder fluir entre ele e Hyunjin como um único ser.

O fogo começou a se expandir além de seus corpos, lambendo o gelo ao redor. As plantas congeladas começaram a descongelar, e a neve que cobria o jardim se transformou em água. O som do gelo rachando e da água escorrendo era quase ensurdecedor, mas Felix e Hyunjin mantiveram o foco, suas mãos ainda entrelaçadas.

Quando abriram os olhos, o jardim estava diferente. As árvores estavam livres do gelo, com folhas verdes brilhando sob a luz dourada do fogo que ainda os envolvia. Flores começavam a desabrochar, e a fonte, antes congelada, agora jorrava água cristalina.

Felix olhou ao redor, sem acreditar no que via.

— É lindo.

Hyunjin soltou uma risada baixa, puxando Felix para um abraço.

— Você foi perfeito.

Felix retribuiu o abraço, sentindo o calor do corpo de Hyunjin contra o seu.

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⏰ Última atualização: 7 hours ago ⏰

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