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Enzo Martins

— Porra, mano. Faz essa execução direito, cara. - Briguei com o Felipe que tava parecendo uma minhoca — Se não tá dando conta, abaixa a carga.

— Já acordou assim? Dando coice desse jeito? - Ele perguntou contrariado.

— To puto com umas coisas. - Falei assim que ele liberou o aparelho pra revezarmos.

— Brigou com a Ceci, né? - Perguntou já sabendo a resposta — A Amanda me falou.

— Porra, vocês são tudo fofoqueiros. - Reclamei.

— Deixa de ser chato e me conta tua versão da história. - Felipe falou bebendo a água dele.

— A Cecília tá sendo feita de boba naquele estágio dela e não tá querendo me ouvir. - Fui direto.

— E você falou isso na cara dela? - Ele perguntou.

— Sim. - Respondi sincero.

— Porra, aí tu quer né pai. Chamar a namorada de boba assim na lata. - Ele desaprovou o que eu disse.

— Mas, cara. Tu não tá ligado no que tá rolando, ela tá no estágio fazendo café. - Expliquei.

— Só café? - Ele perguntou fazendo careta e eu assenti — Porra, aí é foda mano. Te dou a razão.

— Eu não queria ter chamado ela de boba, mas na hora fiquei puto por ela desmerecer meu estágio por causa do meu pai. - Admiti.

— Porra, tá os dois errados. Os dois tão disputando pra ver quem fala mais merda. - Felipe falou enquanto terminava a última série dele.

— O que tu acha que eu devo fazer? - Perguntei com receio de estar pedindo conselho pro Felipe.

— Sinceramente? Eu não sei. Mas no seu lugar eu estaria me arrastando no chão pedindo desculpas pra Amanda. - Ele foi sincero e eu soltei uma risada.

— Tu é muito trouxa mesmo. - Falei negando com a cabeça.

— Trouxa nada, porra. Eu sou esperto, isso sim. - Falou convencido — Com mulher a gente lida assim, pedindo desculpas estando certos ou errados.

— Tá, vou ver se sigo parte desse teu conselho mais tarde. - Falei sem acreditar que vou seguir um conselho do Felipe.

Fui pra casa jogar uma água no corpo e peguei minha chave do carro pra ir no apê da Cecília.

Chegando lá coloquei a senha e entrei com cuidado pra não acordar ela, caso esteja dormindo.

    Fui certeiro, ela tava dormindo e parecia estar com muito sono pra ser sincero.

   Voltei pra sala e fiquei esperando ela dar algum sinal de que acordou.

— Tá aí há muito tempo? - Perguntou com voz de sono e cara amassada.

— Um pouco. - Fui sincero — Não quis te acordar.

— Hum. - Respondeu assentindo com a cabeça, indo até a cozinha.

    Levantei do sofá e fui atrás dela na cozinha, vendo ela colocar a água do café pra ferver.

— Desculpa. - Quebrei o silêncio — Eu não quis falar daquele jeito com você.

— Eu também não quis dizer aquelas coisas que eu disse. - Baixou a guarda também — Só fiquei chateada.

— Você já sabe o que eu penso, vou evitar falar minha opinião sobre o assunto. - Falei calmo e ela concordou com a cabeça.

— E você sabe o que eu acho de você, o quanto me orgulho. - Ela foi sincera — Seu estágio não é menos que o meu por causa do seu pai. Você tá lá porque merece, independente de ser filho dele.

— Como disse o Felipe mais cedo, nós dois estávamos disputando pra ver quem falava mais besteira. - Lembrei do que o Felipe disse mais cedo e nós rimos — Te amo.

— Te amo, amor. - Ela veio me abraçar e eu dei um beijo na cabeça dela — Quer esfirra? Amanda trouxe um monte ontem.

— Porra, na hora. - Aceitei sentando na mesa e ela riu.

[...]

— Ainda bem que hoje é sábado. - Falei fazendo cafuné na cabeça dela — Eu tava precisando de um descanso.

— Nossa, sim. - Ela concordou — Acordei até melhor, tive um sono de princesa.

— Teu sono tava bom mesmo, quando eu entrei no seu quarto tava até babando. - Brinquei e ela gargalhou empurrando minha cabeça.

— Chato. - Resmungou — Que milagre é esse o Felipe não ter arrastado a gente pra algum buraco ainda?

— O moleque tá cheio de coisa. - Respondi sentindo o perfume do cabelo dela — Tá conciliando o estágio que arrumou com meu pai, a faculdade e a empresa da mãe dele.

— Ah, então tá explicado. - Ela falou rindo — Se brincar ele mesmo atarefado arranja tempo pra um rolê.

— Não duvido. - Fui sincero.

— Tomara que ele não invente nada, to tão cansada ultimamente. - Ela falou me agarrando mais forte.

    O celular dela começou a vibrar e eu arqueei uma sobrancelha.

— Se for o Felipe querendo sair, bloqueia. - Falei sério e ela riu fraco.

— É minha mãe me perguntando do estágio. - Ela falou concentrada no celular — Se fosse o Felipe eu ignorava, acho que nem ele tá com pique de sair ultimamente.

— Nesse frio e no cansaço que estamos o correto é isso aqui. - Falei me referindo ao atual momento — Coberta, conchinha e dengo.

— Dengo, né? - Ela perguntou rindo me encarando — Quem vê sua cara fechada por aí nem sonha.

— Tá chata já. - Falei cobrindo a cara dela com a coberta, que soltou uma gargalhada sincera.

Aquela PessoaOnde histórias criam vida. Descubra agora