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Cecília Albuquerque

Ontem eu menti pro Enzo dizendo que minha mãe tinha me mandado mensagem, mas na real era o Guilherme.

— Oi, loira. - Guilherme falou me cumprimentando.

— Oi, Gui. Qual o motivo da mensagem? - Perguntei curiosa.

— Senta aí, pô. - Ele falou apontando pro lugar disponível na frente dele e assim eu fiz — To querendo conversar.

— Ok, pode falar. - Falei atenta ao que ele tinha a dizer.

— To me sentindo mal, sabe? - Ele começou a falar e eu assenti — Te mandei mensagem porque curto muito nossa amizade, você sempre me escutou e me aconselhou pra caralho.

— Fico feliz com isso. - Falei sorrindo de lado — Mas por que você tá mal? Sabe o motivo?

— Acho que fiquei assim desde que descobri que a Jade tava inventando a gravidez. - Ele foi sincero e eu concordei.

— Normal, você levou um choque quando descobriu que ia ser pai e um choque muito maior quando descobriu que era mentira. - Falei com calma.

— Eu sei, mas porra... Não sei explicar. - Ele falou balançando a cabeça.

— Tenta. - Incentivei.

– Fiquei mal pra caralho na época quando meus pais me trataram com frieza, você sabe o quanto eles são exigentes. - Ele tentou explicar e eu concordei — E depois que você e a Amanda descobriram que era tudo mentira, meus pais continuaram me tratando do mesmo jeito, pô.

— Entendi. - Concordei — Então o que mais mexeu com você foi a reação dos seus pais e não o que a Jade fez há três anos?

— Eu quero que a Jade se foda, aquela maluca do caralho. Isso que ela fez não se faz com ninguém - Ele esbravejou — O que mais me deixou assim foi os meus pais mesmo.

— Se a gente parar pra pensar pelo ponto de vista deles, eles também levaram um choque grande. - Falei pensando sobre — Pensa só, seu filho chega falando que vai virar pai... Um choque absurdo, né? Aí depois seu filho volta e fala que é mentira.

— Fica sem credibilidade. - Ele completou o que eu ia falar e eu concordei.

    Fiquei um tempão conversando com o Guilherme no restaurante.

    Acho que colocar pra fora fez bem pra ele, porque foi nítido o quanto ele ficou mais leve no fim da conversa.

— Tchau, Ceci. - Ele se despediu me abraçando — Obrigado pelo apoio de sempre, o Enzo tem sorte de ter você.

— Ah, obrigada. - Agradeci sorrindo — Qualquer coisa já sabe, só me mandar mensagem.

Saí do restaurante e fui direto pra casa do Enzo. O Felipe tinha feito um caos no grupo querendo aproveitar o domingo.

— Oi, amor. - Cumprimentei o Enzo com um selinho.

— Tá arrumada. - Me olhou desconfiado e eu ri.

— Sempre. - Respondi — Felipe e Amanda já chegaram?

— Ainda não. - Respondeu trancando a porta — Felipe falou que ia passar no mercado antes de vir.

— Ele vai cozinhar, né? - Perguntei sabendo a resposta.

— Acha mesmo que ele ia perder a oportunidade? - O Enzo devolveu a pergunta e eu gargalhei sentando no sofá.

— Aproveitar os últimos minutos de paz porque já já o furacão Felipe chega. - Falei colocando minhas pernas em cima do Enzo.

— Pelo menos ele vai cozinhar, se não eu não deixaria ele pisar aqui. - O Enzo falou alisando minha perna e eu ri — Você tava onde antes de vir?

— Em casa, me arrumei justamente pra vir aqui. - Menti pra não expor o Guilherme.

— Ah sim. - Concordou, não acreditando muito.

    Fui salva pela campainha. Felipe e Amanda chegaram e eu agradeci mentalmente.

— Tavam com saudades? - Felipe perguntou entrando cheio de sacolas.

— Menos, Felipe. Pézinho no chão, tá? - Falei irônica — Nos vimos a semana toda na faculdade.

— Mas não saímos ontem. - Ele lamentou e a Amanda negou com a cabeça.

— Não sei mais o que faço com esse menino, gente. — Ela falou conformada — E olha que ele tá comprometido com um monte de coisa.

— O Enzo me falou. - Concordei — É estágio, empresa da mãe, faculdade... Tá todo sem tempo o menino.

— Porra, loira. Nem fala... - Felipe falou enquanto colocava as sacolas sobre a bancada — Dizem que se mata um leão por dia, eu to matando a savana toda.

     Eu não aguentei, gargalhei tanto do que o Felipe disse que fui caindo no chão.

— De onde você tira essas coisas, mano? - Enzo perguntou rindo.

— Da cabeça. - Felipe respondeu tirando as coisas da sacola.

— Prato de hoje vai ser parmegiana. - Amanda falou sentando na mesa e abrindo um vinho.

— Eu sempre acho engraçado o Felipe saber onde fica tudo na casa do Enzo. - Falei ao ver o Felipe pegando quatro taças.

— Porra, a casa é dele já. - O Enzo resmungou sentando na mesa com a gente.

     Foi o de sempre, nós três sentados e o Felipe em pé cozinhando.

— Caralho, vou falar pra vocês. - Felipe admitiu — Que saudade do nosso primeiro ano de faculdade quando não tínhamos estágio.

— Nossa, vida. Também sinto saudade, época que eu não andava cansada. - Amanda falou suspirando.

— Época que a minha namorada tinha mais tempo pra mim. - Felipe jogou indireta e a Amanda revirou os olhos.

— Vai ter DR? - Perguntei quebrando o clima e os dois negaram.

     O almoço foi super tranquilo, tava uma delícia. Felipe pode ter mil defeitos, mas não saber cozinhar não é um deles.

Aquela PessoaOnde histórias criam vida. Descubra agora