Cecília Albuquerque
Já fazia algumas semanas que eu tinha iniciado o estágio e to começando a ficar preocupada.
A única coisa que a Vanuza, minha chefe, me manda fazer é café.
E eu sinto que é só comigo isso, porque os outros estagiários tem atribuições referentes ao estágio.
Eu já tava no fim do meu expediente, o Enzo tinha insistido pra eu ir pra casa dele depois daqui.
— Oi. - Ele falou chegando de surpresa aqui na clínica.
— Enzo? - Perguntei franzindo a testa, sem esperar ele chegar aqui do nada — Só vou ser liberada daqui 15 minutos.
— Eu sei, quis te fazer uma surpresa. - Ele falou beijando minha cabeça, me observando da cabeça aos pés — Ainda tão nessa de te mandarem cuidar do café?
— Enzo. - Briguei com ele entredentes — Depois daqui a gente conversa.
— Tá bom, mas isso não tá certo. Vou te esperar lá no carro. - Ele falou desacreditado, saindo da clínica em seguida.
— Cecília? - A Vanuza se aproximou minutos depois do Enzo sair.
— Sim? - Respondi educada.
— Não pode receber visitas, ok? - Ela falou se referindo ao Enzo.
— Não entendi... Vejo os outros estagiários com visitas. - Tentei não ser rude ao falar.
— Vou cortar isso, impor pra todo mundo. - Ela respondeu — Com visitas vocês ficam distraídos.
Apenas concordei com a cabeça e ela foi conversar com uma outra estagiária.Após os quinze minutos se passarem, peguei minhas coisas e fui até o carro dele.
— Olha... - Ele foi começar a falar ao me ver entrar no carro e eu interrompi.
— Não, olha você. Não tá certo você chegar assim do nada no meu estágio, até porque eu não faço isso com você. - Falei brava — Eu não apareço lá na clínica do seu pai do nada antes do seu expediente acabar.
— Eu ia gostar que você aparecesse lá do nada, não ia ficar bolado contigo. - Ele confrontou.
— Talvez por ser seu pai é mais tranquilo, mas aqui não é assim. - Respondi — Acabei de levar uma bronca da Vanuza por ter recebido visita no expediente.
— Vanuza? - Ele perguntou me olhando atento.
— É, minha chefe. - Respondi cansada — Que foi?
— Nada. - Desconversou.
— E outra, para de ficar julgando o que eles me mandam fazer aqui. - Continuei — Se for preciso aguentar mais um tempo cuidando do café ou o que seja, eu vou aguentar. Isso daqui foi conquistado.
— Ah, entendi o ponto. - Ele falou rindo irônico — O fato de eu estagiar com o meu pai é menos valioso.
— Não foi isso que eu quis dizer. - Respondi e ele negou com a cabeça.
— Foi exatamente o que você quis dizer, Cecília. - Ele falou sério.
— Mas querendo ou não é fato que é mais fácil pra você. - Admiti e ele suspirou — Não to te julgando, só to te mostrando que no meu estágio não é assim igual você tá pensando.
— Beleza, entendi. - Respondeu simples — Eu só tava querendo te mostrar que não é normal você ser selecionada em um estágio e ficar cuidando do café.
— Tá, já entendi. Mas é algo que eu não posso fazer muito sobre. - Falei exausta.
— Claro que pode, tem que se impor. - Ele falou como se fosse a coisa mais óbvia e eu neguei com a cabeça — Tem que parar de ser boba.
— Agora eu sou boba também? - Perguntei incrédula com o que ele disse.
— Tá sendo. - Ele respondeu convicto — E eu não gosto de ver você fazendo papel de boba.
— Olha, eu to muito cansada hoje. Sei que combinei de ir pra sua casa, mas vou pra minha mesmo. - Falei saindo do carro extremamente chateada.
Fui até o meu carro e parti direto pra casa, com a cabeça doendo.
Cheguei, tomei um remédio e fui banhar. Depois do banho me joguei na cama, ignorando a fome que eu tava sentindo.
Amandinha 💜
Amandinha 💜: Ooi amiga 19h02
Amandinha 💜: Fazendo o que de bom?
Você: Absolutamente nada 19h07
Você: Pq?
Amandinha 💜: Tá com o Enzo?
Você: Não
Você: Brigamos
Amandinha 💜: PQ?????
Você: Longa história 😴
Amandinha 💜: Vou aí na sua casa
Amandinha 💜: Felipe tá com a mãe dele na empresa, to sem fazer nada
Você: Ok, traz comida pleaseColoquei uma roupa decente pra receber a Amanda e fiquei esperando a campainha tocar.
— Oi, gata. - Falei sorrindo fraco, dando espaço pra ela entrar.— Oi, amiga. - Ela falou indo até a mesa — Trouxe esfirras.
— Amo. - Falei com água na boca, sentando na mesa com ela.
— Me conta tudo. - Ela falou indo pegar os pratos, já sabendo onde ficava.
— Amiga, desde que o meu estágio começou há algumas semanas, o Enzo tá incomodado com o fato da minha chefe me colocar pra fazer café. - Expliquei enquanto escolhia os sabores das esfirras.
— Mas qual o problema disso? Eu sou estagiária e também faço café. - Ela falou mordendo uma esfirra.
— O problema é que eu literalmente só faço café. - Fui sincera — E isso tá me incomodando porque preenchi vaga de estagiária e não de barista.
— Isso aí é um problema, amiga. - Ela foi mais sincera ainda — Uma coisa é você estagiar e de quebra fazer um café. Outra coisa é você só fazer café.
— Eu sei, mas demorou tanto pra eu conseguir esse estágio. Não quero colocar tudo a perder. - Admiti.
— Eu sei, mas é melhor colocar tudo a perder logo e tentar um outro estágio que te valorizem de verdade. - Ela respondeu e essa frase ficou na minha cabeça a noite toda.
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Aquela Pessoa
Teen FictionEm um dia comum no estacionamento da faculdade, um acidente inusitado une os caminhos de duas pessoas que, até então, eram completos estranhos. O impacto do encontro vai muito além dos carros amassados: suas vidas começam a se entrelaçar de maneira...