O dia amanheceu e eu não reconheci o quarto em que estava, primeiro dia depois da mudança, minha mente ainda não tinha se acostumado. Eu esperava ver meu antigo quarto.
Levantei da cama, e me arrastei até o banheiro, escovei os dentes e entrei na minha banheira. Fiquei lá por meia hora, no mínimo, pensando em tantas coisas que acabei concluindo não estar pensando em nada. Então saí do banho e me vesti.
Depois de descer as escadas, corri até a cozinha e me servi de suco de laranja e sanduíche de queijo.
- Vai procurar emprego hoje? - minha mãe perguntou, sonolenta.
- Não, vou à praia. - respondi, sorridente.
- Tenta levar a Kara, ela não sai da cama.
Subi as escadas em direção ao quarto da minha irmã, abri a porta e percebi que deveria ter batido.
Kara estava na cama, com o cabelo todo bagunçado, chorando desesperadamente enquanto abraçava o travesseiro.
- Kara? - me aproximei lentamente, qualquer movimento brusco e ela sairia correndo.
- Sai - ela disse, com a voz baixa.
- Ei - sentei na ponta da cama - tudo bem - eu disse, calmamente.
Ela largou o travesseiro e me olhou, primeiramente com raiva, depois voltou a chorar.
- Você já parou pra pensar que vamos passar 30 anos sem o papai? A sentença dele foi de 30 anos! - ela desabafou
- Eu tento ignorar isso.
- Como consegue?
- Não consigo - dei um meio sorriso - Eu só penso que ele não vai passar esse tempo lá, porque ele não é culpado.
- Todos acham que ele é culpado.
- Mas ele não é, Kara.
Ela assentiu e respirou fundo.
- Você quer ir à praia comigo? - perguntei.
- Hoje não.
- Tudo bem - sorri e afaguei a mão dela - até mais tarde.
Com Kara, pressão não funcionava, então simplesmente saí do quarto e saí também de casa.
Eu caminhava tranquilamente pelo fim da minha rua quando alguém começou a falar sem parar perto de mim.
- Ta quente demais pra ficar em casa né? Ainda bem que moramos numa cidade litorânea, eu não ia aguentar de jeito nenhum - era Isaac.
- Bom dia pra você também - eu o olhei, surpresa - Ta me seguindo?
- Moro na sua rua, neurótica.
- Você o quê?
- Moro na sua rua - ele riu - Além de neurótica é surda.
- Cala a boca.
- Estressada de novo?
- Acho que você me estressa.
Ele balançou a cabeça negativamente e sorriu com charme.
- Darling, eu sou um ponto de paz.
Cai na gargalhada descontroladamente e respirei fundo algumas vezes pra me acalmar.
- Iludido - consegui dizer.
Ele deu de ombros.
- Eu to indo encontrar uns amigos, quer ficar com a gente?
- Ah... - a resposta imediata era não, mas eu tinha certa dificuldade em dizer não a ele.
- Posso te apresentar como filha do cara que não é assassino.
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Interlace
RomanceUm assassinato acontece, e depois disso, tudo muda. Nova cidade, nova vida, porém mesma angústia, dor e confusão. É uma saída acreditar na inocência, mesmo quando tudo aponta o contrário? Ou é a verdade? Em meio ao caos, a nova cidade oferece um por...