Capítulo 2

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O dia amanheceu e eu não reconheci o quarto em que estava, primeiro dia depois da mudança, minha mente ainda não tinha se acostumado. Eu esperava ver meu antigo quarto.

Levantei da cama, e me arrastei até o banheiro, escovei os dentes e entrei na minha banheira. Fiquei lá por meia hora, no mínimo, pensando em tantas coisas que acabei concluindo não estar pensando em nada. Então saí do banho e me vesti. 

Depois de descer as escadas, corri até a cozinha e me servi de suco de laranja e sanduíche de queijo.

- Vai procurar emprego hoje? - minha mãe perguntou, sonolenta.

- Não, vou à praia. - respondi, sorridente.

- Tenta levar a Kara, ela não sai da cama.

Subi as escadas em direção ao quarto da minha irmã, abri a porta e percebi que deveria ter batido.

Kara estava na cama, com o cabelo todo bagunçado, chorando desesperadamente enquanto abraçava o travesseiro.

- Kara? - me aproximei lentamente, qualquer movimento brusco e ela sairia correndo.

- Sai - ela disse, com a voz baixa.

- Ei - sentei na ponta da cama - tudo bem - eu disse, calmamente.

Ela largou o travesseiro e me olhou, primeiramente com raiva, depois voltou a chorar.

- Você já parou pra pensar que vamos passar 30 anos sem o papai? A sentença dele foi de 30 anos! - ela desabafou

- Eu tento ignorar isso.

- Como consegue?

- Não consigo - dei um meio sorriso - Eu só penso que ele não vai passar esse tempo lá, porque ele não é culpado.

- Todos acham que ele é culpado.

- Mas ele não é, Kara.

Ela assentiu e respirou fundo.

- Você quer ir à praia comigo? - perguntei.

- Hoje não.

- Tudo bem - sorri e afaguei a mão dela - até mais tarde.

Com Kara, pressão não funcionava, então simplesmente saí do quarto e saí também de casa.

Eu caminhava tranquilamente pelo fim da minha rua quando alguém começou a falar sem parar perto de mim.

- Ta quente demais pra ficar em casa né? Ainda bem que moramos numa cidade litorânea, eu não ia aguentar de jeito nenhum - era Isaac.

- Bom dia pra você também - eu o olhei, surpresa - Ta me seguindo? 

- Moro na sua rua, neurótica.

- Você o quê? 

- Moro na sua rua - ele riu - Além de neurótica é surda.

- Cala a boca.

- Estressada de novo? 

- Acho que você me estressa.

Ele balançou a cabeça negativamente e sorriu com charme.

- Darling, eu sou um ponto de paz.

Cai na gargalhada descontroladamente e respirei fundo algumas vezes pra me acalmar.

- Iludido - consegui dizer.

Ele deu de ombros.

- Eu to indo encontrar uns amigos, quer ficar com a gente? 

- Ah... - a resposta imediata era não, mas eu tinha certa dificuldade em dizer não a ele. 

- Posso te apresentar como filha do cara que não é assassino.

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