Capítulo 39

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Sabe quando você não sabe o que está sentindo? É um misto tão grande de alegria, tristeza, desespero e êxtase que no fim de tudo você não sabe se está feliz, ou triste. Eu havia passado no teste, iria estudar medicina numa ótima faculdade, numa cidade longe e iria viver meu sonho. Mas... Eu estaria longe de Isaac por no mínimo dez anos! Então não, eu não sabia como estava me sentindo e muito menos como eu daria a notícia pra ele.

Passei meia hora andando de um lado para o outro em minha sala, pensando no que fazer, como fazer. Eu não havia pensado no depois, depois de abrir o envelope, se a noticia fosse positiva, eu não sabia o que fazer. A faculdade era numa cidade completamente nova porque eu havia escolhido não fazer na minha antiga cidade, então, onde eu moraria? Como eu me sairia completamente sozinha?

Peguei o telefone e com minhas mãos trêmulas, digitei um número conhecido. No primeiro toque, ele atendeu.

- Pai? – quase gritei – Preciso que venha aqui, agora!

Meu pai levou a sério meu pedido e veio o mais rápido possível. Estava preocupado e quase desesperado achando que algo terrível tinha acontecido e Kara ainda não tinha chegado em casa.

- O que foi? – ele disse, assim que abri a porta.

- Eu passei! No vestibular – falei.

- Ah meu Deus! – ele pulou em cima de mim e me abraçou – Você conseguiu! Porque me assustou desse jeito? Isso é uma coisa boa!

- Pai – eu o afastei – onde vou morar lá? Como vou pagar aluguel, comida, materiais da faculdade?

- Não se preocupe com isso!

- Como não?

- Daremos um jeito! Quando começam as aulas?

- Em duas semanas!

- Precisamos chegar uma semana antes pra ver sua moradia e todo o resto.

Eu sentei no sofá, sentia-me sem ar. Sim, era maravilhoso, uma nova etapa, um sonho, um novo sentido de viver, mas... Seus olhos não saiam da minha mente e eu me sentia pesada.

- Eu preciso falar com Isaac – eu disse.

- Vou ver com a mãe de Sarah se ela conhece alguns imóveis lá – ele disse, pegando o telefone – e fazer umas contas.

Peguei meu celular, liguei para Isaac. Ele não atendia, devia estar entretido com seu irmão e eu não queria atrapalhar aquele momento, decidi esperar para o outro dia. Resolvi tentar dormir.


Deitada na cama, rolando de um lado para o outro, tudo o que eu conseguia pensar era em como ele ia reagir, em como podíamos lidar com aquilo, como poderíamos continuar juntos apesar da distância por dez longos anos.

Acabei caindo no sono.


Assim que acordei, tomei café rapidamente, sem conversar com ninguém, imersa em meus pensamentos, e caminhei até o penhasco. Eu precisava conversar com Isaac, mas ele não estaria lá, e antes de tudo, eu precisava pensar.

Tudo o que tinha acontecido na minha vida antes, a morte de Carlos, prisão do meu pai e depois a da minha mãe, não havia sido planejado, foi uma mudança louca, repentina e dolorosa. Essa não poderia ser assim. Eu precisava planejar aquilo da melhor forma possível, fazer com que aquilo fosse bom e não trouxesse mais dor à minha vida.

Sentada no penhasco, a coluna ereta, os cabelos bagunçados pela forte brisa, o som do mar e o barulho das folhas dançando, fechei meus olhos e respirei fundo algumas vezes. Meu pensamento voou até minha mãe. Não onde ela estava agora, na prisão, mas quem ela costumava ser, quando éramos uma família normal. Lembrei de uma conversa que tive com ela.

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