Capítulo 22

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Perdida.

Eu me sentia completamente perdida.

Rua das flores. A águia. Mais componentes de um enigma que estava longe de ser resolvido, minha cabeça já não aguentava mais. Ao acordar, todos os dias, eu pensava em como eu tinha ido parar ali. Porque o assassinato de Carlos tinha de ser tão complicado? Porque tinha de ser diferente?

Passei dois dias seguidos trancada no hotel lendo minhas anotações e fazendo outras, avaliando algumas imagens sem sentido da pasta Pluvia, sentia-me como uma habitante de um mundo paralelo. Mal comia, ou bebia água. Minha cabeça doía a cada novo pensamento. Em algum momento fui interrompida, bateram firmemente na porta, despertaram-me do pesadelo e levantei para atender.

Rafael, Isabel e Thiago estavam na porta. Cada um carregava algo nas mãos. Parecia comida.

- Vá tomar um banho e volte, vamos assistir filmes – Isabel disse, entrando.

- Gente, olha... – comecei a falar mas fui interrompida

- Não discuta – Rafael disse – vai logo enquanto ajeitamos as coisas.

Rolei os olhos e caminhei (me arrastei) até o banheiro. Olhei-me no espelho. Quase não me reconheci. As olheiras tinham tomado conta do meu rosto, meu cabelo estava completamente desgrenhado e eu estava tão pálida quando a Samara de O Grito. Ri de mim mesma e pus me a me ajeitar. Penteei os cabelos, escovei os dentes, lavei o rosto e depois tomei um banho frio.

Quando saí do banheiro encontrei almofadas espalhadas no chão, TV ligada com DVD ligado também, baldes de pipoca, brigadeiro, bebidas e bolo. Os três riam de algo e se jogavam no tapete fofo do chão.

- Isso tudo é pra quê mesmo? – perguntei

- Achou mesmo que a gente ia te deixar definhar aqui? – Thiago disse

Bateram na porta e eu fui atender. Gabe entrou um pouco afobada no quarto, com mais comida na mão.

- Foi mal a demora – ela colocou as coisas junto às outras e se jogou no colo de Isabel – Pedro não parava de falar.

- Quem é Pedro? – perguntei e todos me olharam

- Quem é Pedro? – todos repetiram minha pergunta, perplexos.

- O novo namorado da Gabe – Rafael explicou – super chato, por falar nisso.

- Ele não é chato – Gabe se defendou – Ele só é carente

- Chato – Rafael riu

- Desde quando existe esse Pedro? – estava confusa

- Você realmente precisa sair dessa, Kaya – Isabel riu

- Eu sei.

- Principalmente porque não tá tendo efeito nenhum – Gabe riu

- Não me fale – rolei os olhos

- Deita aí – Rafael falou e eu obedeci

- O que vamos assistir? – perguntei, tentando relaxar

- Comédia. Você está precisando rir. Urgentemente – Thiago brincou

Mais engraçado do que o filme eram nossas reações, risadas e comentários. Thiago tinha razão, eu precisava rir, e eu não apenas ri, como também chorei de rir. Nunca mais havia vivido uma coisa daquelas, rir sem preocupações, esquecer todas as outras coisas e apenas viver um momento. Quando o filme acabou, nem pensei em voltar ao trabalho, apenas ficamos no chão comendo aos montes e conversando.

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