Capítulo 28

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Acordei sete horas da manhã e a primeira coisa que senti foi a lembrança do beijo de Isaac. Inevitavelmente, sorri. Após me aprontar saí do quarto e encontrei toda a família dele tomando café na cozinha, menos ele. James me ofereceu vários tipos de comida e pediu que eu sentasse com eles, Rosa estava quieta, não parecia estar em um bom dia. A pequena irmã de Isaac, Hanna, ajudava Rosa a escolher o que comer enquanto Lucas me contava com a voz bem baixa o que estava acontecendo.

- Ela acordou irritada porque não se lembrava de ter ido dormir – falava enquanto cortava um pedaço de bolo – e também não se lembrava de outras coisas e se sentiu ofendida porque achou que papai a chamou de esquecida.

Eu apenas assenti, agradecida por estar a par da situação. Coloquei um pedaço de queijo e outro de presunto no pão e mordi. Enquanto eu comia, fiquei observando cada um, suas expressões de preocupação e também a paciência ao falar com Rosa. Hanna era a mais doce, eu não sabia se ela entendia exatamente o que estava acontecendo, pois ela era muito jovem, no entanto, ao ajudar a mãe ela parecia ter muito mais do que sete anos.

Quando terminei de comer pedi licença e levantei da mesa, ofereci-me para lavar a louça, mas Lucas disse que era a vez dele. Então voltei para o meu quarto e liguei novamente o notebook.

Restavam apenas fotos na pasta Pluvia, então comecei a reler os textos que mais tinham me chamado atenção. Entre eles, textos que Carlos descrevia como se sentia com relação a Kara, e textos em que ele falava sobre errar. Ele parecia estar completamente consciente de que estava errando e falhando como marido, e sentia-se culpado, no entanto, ele não sentia-se culpado por amar, sentia-se vivo novamente. Lendo aqueles textos eu entendi que nunca compreenderia aquilo, nunca entenderia os sentimentos de Carlos, mesmo ele os descrevendo em seus textos. Eu nunca entenderia a não ser que sentisse o mesmo. Eu queria que ele ainda estivesse conosco e tentasse me explicar, queria olhá-lo nos olhos enquanto ele falava de Kara, e queria ouvi-lo falar sobre Beatrice. Queria ouvir dele os seus sentimentos, e não de seus textos. Queria ouvir de seus gestos, seu rosto, seu corpo, e não de suas palavras digitadas. Eu queria ter a chance de realmente testemunhar seus sentimentos, e não de lê-los.

Foi pensando nisso que liguei para Kara e pedi para encontra-la. Depois de relutar algumas vezes ela concordou e eu caminhei até nossa casa. Nossa mãe estava trabalhando, então sentamos no chão da sala de TV e eu disse:

- Eu estava relendo alguns textos de Carlos e refletindo sobre eles. Pensei que por mais que seus textos descrevessem como ele se sentia com toda a situação de vocês, não era a mesma coisa que vê-lo sentir essa situação.

Kara me olhava atentamente, esperando que eu chegasse ao ponto da minha fala.

- Infelizmente, ele não está mais aqui e eu não posso questioná-lo, conversar com ele ou mesmo vê-lo sentir tudo o que ele dizia sentir por você. Mas você está aqui, e você é a outra maior parte de tudo isso. Então eu quero ouvir de você, assistir você sentir.

Quando conclui o que queria dizer, Kara assentiu e se ajeitou, ficando de frente para mim.

- Não posso dizer que teve um ponto onde tudo começou – ela começou a falar, calma e pausadamente – posso apenas dizer que de repente já estava tudo lá e não tínhamos para onde fugir. No começo dos meus sentimentos eu me senti idiota porque um homem como Carlos jamais me enxergaria. Não apenas pela sua posição, como um homem casado e melhor amigo do meu pai, mas como um homem de verdade – ela sorriu – você sabe, os meninos muitas vezes não enxergam, imagine um homem. Mas de alguma forma e eu nunca vou saber como, ele me viu e ele sempre me disse que quando me viu ele me amou. Olha Kaya, eu nunca achei que alguém que me visse de verdade fosse me amar porque nunca achei que tinha algo para ser amado em mim. Mas Carlos achou, na verdade até os motivos para não me amar ele amou. E eu o amei ainda mais por isso.

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