Capítulo 31

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Comecei a estudar para o vestibular. Larguei definitivamente meu emprego, e passei a viver cercada de livros, folhas e notebook. Parava apenas para comer, ir ao banheiro e as vezes me dava ao luxo de ver Isaac e assistir um filme com ele. Ele não via problema nisso, também estava bastante ocupado, com sua mãe e planos para seu futuro. Conversávamos bastante sobre isso, mas um dia resolvi contar a ele sobre o vestibular, sua reação não foi tão boa.

- Então são seis anos de faculdade e no mínimo quatro no exercito? – ele perguntou, se afastando de mim.

Estávamos no chão do meu quarto, na casa do meu pai, escolhendo um filme para assistir, com três baldes de pipoca e uma pizza para chegar.

- Sim – respondi apreensiva

- E o que eu devo fazer nesses dez anos? São dez anos Kaya! – ele passou a gritar.

- Eu sei, Isaac... Eu...

- Você tem alguma ideia em mente?

- Não – respondi sinceramente

- Irá sem hesitar?

- Eu estou hesitando! Está me pedindo para não ir?

Ele respirou fundo, passou os dedos pelo cabelo, olhou para o teto, bufou.

- Isaac – usei um tom de voz suave – olha pra mim.

Ele me olhou, pude ver em seus olhos uma mistura de raiva e medo.

- Se estivermos de acordo podemos fazer isso dar certo – falei.

- Por dez anos?! – ele gritou novamente – Você quer eu te espere por dez anos? Você está ok com isso? Passar dez anos sem me ver.

- Não é bem assim, nos veremos em feriados, podemos combinar, não sei, de dois em dois meses.

- Isso é sinônimo de relação desgastada.

- É melhor que relação nenhuma! – dessa vez eu gritei – Olha só – me acalmei e respirei fundo – geralmente é você que faz isso, é você que luta por nós, não sou eu, não sei como fazer isso, eu preciso de sua ajuda.

Ele me olhou, por tempo demais. Me olhou em silêncio, com os olhos apertados em minha direção, a respiração forte e profunda. Eu sabia o que viria a seguir.

- Bem, acho que nesse caso a decisão é sua. Dessa vez sou eu que não sei fazer isso – ele disse, com a voz calma, mas dura.

- Isaac.

- Eu não sei se consigo. São dez anos. Uma década. Você tem noção disso, não tem?

- Não posso desistir de meu sonho, você podia... Sei lá, ir comigo.

- Você não pode desistir de seu sonho, mas eu devo desistir do meu?

- Isaac não tem nem comparação... – parei de falar. Percebi ter cometido um erro. Ele me olhou, em parte chocado e machucado, em parte furioso.

Ele se virou em direção à porta.

- Isaac, não, desculpa... – tentei falar

Então Isaac partiu. E eu fiquei ali parada pensando na idiotice que eu tinha feito.



Naquele mesmo dia, tarde da noite, já na casa de minha mãe, resolvi ligar para Scott. Recentemente ele não atendia minhas ligações e já havia se passado uma semana desde que ele disse que encontraria a pessoa dos e-mails. Dessa vez ele atendeu.

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