Capítulo 12

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Um mês passou...

O sol entrava pela janela suavemente, fraco como uma tocha que acabara de ser acesa. O sol da manhã. Eu e meu pai estávamos na cozinha fazendo café da manhã enquanto "You know you like it" de DJ Snake & AlunaGeorge tocava. Meu pai tentava fazer panquecas. Era a segunda vez naquela semana que ele tentava e falhava. Dessa vez elas estavam comestíveis.

- Então que horas você chega em casa? - ele perguntou, por cima da música.

- Ah... - pensei por um momento - Depois do trabalho vou sair com Daniel, então acho que umas dez.

- Não se esqueça de levar a chave.

Assenti para ele sorrindo, e sentamos para comer. Olhei para o lugar ao nosso redor. Eu diria que nosso apartamento era bastante confortável. Três quartos, três sendo suíte, um banheiro. Sala de estar, cozinha. A cozinha era nosso lugar da bagunça, onde tudo acontecia. Além das refeições. Meu pai trabalhava das oito da manhã até as sete da noite, estava gerenciando a melhor oficina da cidade. Não foi fácil arranjar aquele emprego, mas ser amiga dos filhos das famílias fundadoras tinha nos ajudado bastante.

Durante um mês inteiro eu percebi que meu pai tinha algo a me dizer, e eu sabia que precisava ouvir, mas ele ainda não estava pronto, então eu não o pressionava. Detetive Scott ainda estava fazendo perguntas à pessoas que nós não conhecíamos, e não nos ligava com tanta frequência. Eu passava na casa da minha mãe uma vez por semana e dormia lá. Saia com Daniel um dia sim, outro não. Não via mais o grupo, embora ainda falasse esporadicamente com Tyler e Meg por mensagens de texto.

Essa era minha vida agora. E todos os dias ao acordar, enfiava meu vazio debaixo do meu tapete emocional e ia trabalhar. Aquele vazio tinha nome, e eu ainda o evitava.

Depois de comer, me despedi de meu pai e peguei minhas coisas. Caminhei até o trabalho, como sempre fazia. Naquele último mês, porém, eu andava mais devagar, como se passeasse, sem pressa, sem vontade de ir a lugar nenhum.

- Kaya! - ouvi alguém me chamando do outro lado da rua, reconheci a voz de Meg - Ei.

Não parei de andar, não olhei naquela direção. Apenas me desliguei, com uma música tocando na cabeça, e então, ela estava à minha frente e eu precisei acordar.

- Kaya! - ela estava com raiva. Eu nunca havia visto Meg com raiva - Um mês! O que está acontecendo? Você precisa começar a falar.

- Tenho que estar no trabalho em dois minutos - eu disse, arrastando as palavras numa melodia mecânica.

- Kaya... - Ela suavizou o olhar - Fala comigo. Não some. Eu sinto sua falta.

Olhei para ela por um segundo. Seus cabelos loiros encaracolados voavam modulados pela suavidade da brisa. Seu rosto não mais expressava raiva, mas sim dor.

- Meg, eu realmente preciso ir ao trabalho - eu disse.

- Me encontra na hora do almoço, por favor - ela estava implorando com uma voz doce e desesperada - No Folhas Verdes?

Assenti rapidamente e voltei a andar.

Meu trabalho tinha se tornado uma coisa automática. Eu fazia o que me mandavam fazer e não me importava mais em sorrir para as pessoas ou ser educada. Eu não queria mais aquele emprego, mas continuava ali porque precisava pagar Isaac. Então sempre que eu recebia, mandava por Daniel um envelope com dinheiro. Isso não continuaria por muito tempo, meu pai e eu daríamos um jeito.

Enquanto eu estava terminando de atender um cliente recebi uma mensagem. Era do meu pai.

Pode cancelar com Daniel? Precisamos conversar hoje à noite.

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