Capítulo 9

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Não consegui dormir naquela noite. Daniel me ligou, e fomos para a praia. Estava frio, escuro e eu estava angustiada. Os cabelos pretos de Daniel voavam com o vento, e sentado na areia ao meu lado, seu braço me protegia do frio. Não dizíamos uma palavra, eu o olhava, ele olhava o mar. Observei sua expressão, cada parte que compunha sua feição, ele era muito bonito. De repente, ele me olhou, abriu um largo sorriso, e aproximou seu rosto do meu, beijou meu rosto lentamente, e depois meus lábios. Fechei meus olhos, me aninhei em seu peito, suspirei alto.

- Vai ficar tudo bem, lutadora. Você sabe disse - ele sussurrou ao meu ouvido.

Ele não sabia o que estava acontecendo, não sabia que aparentemente minha mãe não desejava ver meu pai, que internamente, eu não tinha mais certeza da inocência dele, que as atitudes de Isaac estavam me sufocando, me corroendo. Ele não sabia sobretudo, que ele me deixava tão confusa. Em um segundo, tudo o que eu queria eram os seus braços, logo depois, não era o certo.

- Daniel - eu o chamei, ele me olhou - o que você quer comigo?

- O quê?

- Acho que você entendeu... Porque está comigo? O que quer com isso?

Ele sorriu, sua mão acariciou meu ombro e ele voltou a olhar para o mar.

- É só isso. Ficar com você. Você me atraiu no segundo que eu te vi, não é ordinária. Não se contenta com a mesmice, quer a verdade, justiça. É corajosa, louca.

Eu sorri, e o olhei. Ele disse porque queria ficar comigo, e se eu queria ficar com ele, porque eu queria? Quais eram meus motivos? Haviam motivos?

Talvez houvessem, eu queria descobrir, eu ia descobrir.

O céu começou a clarear, os primeiros raios solares surgiram. Depois de um tempo, uma ponta laranja surgiu no horizonte, como uma cabeça abaixada, encostada no mar. A cabeça crescia, cada vez mais laranja, cada vez mais forte.

Demorou um pouco, mas lá estava ele, brilhando com toda força, impossível de ser encarado, iluminando até o mar.

- Eu tenho que ir - falei e beijei o rosto de Daniel - Obrigada por ficar comigo.

Ele apenas sorriu em resposta, e permaneceu sentado enquanto eu levantava e ia embora. Fui para casa, comi uma torrada enquanto me arrumava para o trabalho, passei um pouco de maquiagem para disfarçar a noite não dormida. Peguei meu celular e minha bolsa, desci para a cozinha, tomei uma vitamina e saí de casa.

Caminhei devagar, sem pressa. Assim que cheguei na livraria, joguei minhas coisas na sala dos funcionários e avistei Aria.

- Bom dia - eu disse, sem ânimo.

- E aí - ela sorriu, depois me analisou - Você dormiu bem?

- Maravilhosamente - menti.

- Lisa quer que você fique no caixa hoje - ela disse, enquanto calçava um tênis.

- Ah, que ótimo - reclamei.

- Vou estar com você, relaxa - ela sorriu pra mim.

Assenti e me preparei para sair.

- Kaya - Aria me chamou, eu parei - Com qual deles você está namorando?

- Eu não estou... - Ela levantou uma sobrancelha pra mim "Qual é" seu olhar dizia - Daniel.

- Sorte grande - ela piscou e seguimos para o trabalho.

Ao meio dia, eu e Aria sentamos na sala dos funcionários com lasanhas esquentadas. No meio do almoço, não pude segurar minha língua.

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