Capítulo 33

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No dia seguinte eu fiz a única coisa que conseguiria fazer: estudar. Mergulhei em química, biologia e física. Ignorando tudo o que tinha acontecido recentemente e apenas estudei. No fim da tarde alguém bateu na porta do meu quarto e eu não percebi, percebi apenas quando a pessoa entrou. Era Tyler. Ele fechou a porta trás de si e me olhou, seu olhar era divertido.

- Fiquei sabendo que você virou uma mulher amarga – falou.

- Acho que sim – respondi friamente.

Tyler me pegou pelas mãos, me levantou e me conduziu até a pequena mesa do meu quarto, sentamos e ele me olhou.

- Então vamos – ele disse.

- O quê?

- Você quer reclamar da vida? Vamos reclamar da vida. Quer falar de coisas que não gosta? Vamos fazer isso.

Eu o olhei. Ele estava falando sério. Estava disposto a ser amargo comigo.

- Eu não gosto de banana sabia? – sorri – é a pior fruta do mundo.

- Odeio jabuticaba, é feia e tem gosto de nada. – ele também sorriu.

- Filmes de terror são desnecessários. Eu não gosto de laranja.

- Não gosto de verde – ele disse – e gente espirrando me dá agonia

- Eu odeio o fato de que a vida não é como nos filmes ou livros. – falei suspirando.

Tyler não falou mais, ele apenas me olhava e seu olhar, de alguma forma, me estimulou a falar mais.

- Odeio ter força cobrada. Odeio que me exijam força. Odeio quando julgam minha amargura, eles deviam entender, não deviam reclamar, a vida já é difícil sem isso. Eu não sou obrigada a ser forte. Eu tenho o direito de desabar, conheço meus limites... Isso tudo é demais pra mim. Eu não estou aguentando, e eu não quero aguentar.

Tyler colocou a mão sobre a minha cima da mesa;

- Eu estou aqui pra te segurar quando desabar – ele falou sério, e eu sorri.

- Eu já desabei Tyler. E não havia ninguém pra me segurar.

- As pessoas cometem erros.

- Você quer dizer Isaac?

- Ele não aguenta te ver assim.

- E eu não aguento sem ele.

Tyler suspirou e apertou minha mão levemente.

- Você devia descansar – ele olhou para os livros em cima de minha escrivaninha – dormir um pouco.

- Tenho pesadelos. – olhei para minha mão – insuportáveis.

- O que posso fazer por você?

- Me deixar ser fraca.

▪▪▪

O julgamento foi fechado. Juiz, advogados, detetive Scott, a polícia, Beatrice (que antes havia dito que não iria), meu pai, eu, Kara e Kat. Escutamos todas as acusações feitas à minha mãe. Beatrice falou, meu pai também, e logo após eles, Scott. Para a minha surpresa, antes de minha mãe falar, o juiz me pediu para dizer algumas coisas. Temerosa, sentei ao seu lado, fiz o juramento exigido e olhei para o juiz. Ele tinha os olhos parecidos com os meus, mas eram mais calorosos.

- Kaya, você ajudou William Scott na investigação do assassinato de Carlos, certo? – Ele perguntou calmamente.

- Sim.

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