Capítulo 27

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- E o que sua mãe faz? – Rosa, a mãe de Isaac perguntou,

Estávamos todos na sala tomando taças de sorvete e conversando. Isaac me disse que de vez em quando Rosa não lembrava das pessoas e achei que quando eu chegasse lá ela não lembraria de mim, mas quando me viu ela imediatamente sorriu e me abraçou. James, o pai de Isaac apenas apertou minha mão e disse que eu era bem vinda.

- Ela é bióloga – respondi – sempre quis trabalhar com pesquisa, mas depois de nos mudarmos para cá foi mais fácil ensinar e ser diretora da escola.

- E o seu pai? – James perguntou

- Ele era gerente de uma boa concessionária na nossa antiga cidade.

- Como foi na sua antiga cidade? Passou um bom tempo lá.

- Ah, foi divertido, apesar de tudo. Pude rever uns amigos e lugares – respondi, sorrindo, lembrando de cada um deles.

- Que bom – Rosa sorriu – Acho que é melhor eu ir dormir agora.

James e Rosa levantaram

- Sinta-se em casa, Kaya – ela me disse – Você é muito bem vinda aqui.

- Obrigada – sorri para eles e os observei até desaparecerem da minha vista

Isaac me observava.

- Sua mãe parece estar bem – eu disse – Como ela tem andado?

- Ontem almoçou duas vezes porque não lembrava de ter comido – ele sorriu tristemente

- Ela tem tomado os remédios para atrasar o avanço da doença?

- Não – seu sorriso desapareceu – ela decidiu não tomar mais.

- Por que?

- Você devia perguntar a ela depois

Apertei a mão dele. Sentia-me triste pois não podia fazer nada para ajuda-lo.

- Então você reviu seus amigos – ele me olhou e sentou mais perto de mim

- Sim.

- Inclusive seu ex?

- Sim.

- Como ele está?

A imagem de Thiago apareceu na minha mente e eu sorri.

- Continua bonito e está mais maduro – respondi.

- Esse sorriso – ele apertou os olhos – ou vocês se beijaram ou se resolveram.

Eu dei uma gargalhada alta e depois sorri para ele.

- Nos resolvemos – falei – foi ótimo.

- Se resolveram como? Com um beijo? Você está muito sorridente – ele disse e eu não pude evitar rir.

- Não, é que... Ter me resolvido com ele me deu paz sabe? Tirou um peso dos meus ombros e agora posso pensar nele sem ter raiva, posso só sorrir...

- Entendi – ele sorriu e mexeu no meu cabelo – Vem, vou mostrar seu quarto.

Andamos devagar pelo corredor de quartos, Isaac na frente, e eu atrás. Mas eu não prestava atenção em nada além dele. Passei tanto tempo sem vê-lo que agora o tempo que eu podia olhá-lo, eu aproveitaria.

Isaac parou de frente para uma porta e abriu, mostrando o quarto de hospedes que estava muito arrumado e cheirava a lavanda.

- Meu quarto é em frente – ele apontou para a porta de frente à minha – se precisar de mim é só bater.

- Tudo bem – eu disse.

Estávamos muito perto um do outro, ele me olhava, mas eu olhava o chão, e eu não sabia o porquê. Então ele colocou a mão em meu rosto e o levantou para que eu o olhasse.

- Eu senti sua falta – ele sussurrou.

Eu não conseguia pensar em palavras que pudessem descrever como eu me sentia naquele momento, mas eu conseguia pensar no que eu queria fazer naquele momento.

- Eu também senti sua falta – sussurrei – até doeu.

Ele sorriu de lado e colocou a mão em minha nuca.

- Eu quero te beijar – ele disse contra minha orelha.

- E porque não beija?

- Porque eu não conseguiria parar. Iria querer te beijar o tempo todo, toda hora. Poderia magoar Daniel, nos tirar de nossos focos. Você com sua família e problemas, eu com a minha e meus problemas.

- Tudo isso aconteceria por causa de um simples beijo?

Ele sorriu e disse:

- Não é apenas um beijo. É o seu beijo.

Então se afastou e caminhou até seu quarto, entrou e fechou a porta. Eu fiz o mesmo, mas com o coração acelerado e as mãos tremendo.

Quando eu cheguei naquela cidade eu tremia de raiva dos comentários sobre meu pai, tinha que controlar essa raiva e evitar bater em tudo e todos. Mas agora, Isaac me fazia tremer, e de um jeito bom.

Ainda era cedo e eu não estava com sono, então peguei o notebook de Carlos e sentei na cama. Faltavam poucos documentos na pasta Pluvia, a maioria eram fotos que não faziam sentido para mim, mas provavelmente faziam sentido para Carlos e Kara.

Havia um documento com o título em latim e eu resolvi abrir. O título era ad finem e o texto nele era curto e dizia:

"De fato, errei ao trair minha esposa, e ao ter um caso com sua irmã. O que eu devia ter feito, era me separar de Beatrice, poupá-la do maior sofrimento, e ficar verdadeiramente com Kara. A verdade é esta, Kaya. Ainda existe certo e errado quando se trata de amor, mas é preciso estar com quem se ama. Quando passei a conhecer quem você era, depois das decepções que assisti você passar, soube quem você se tornaria, soube que sacrificaria sua felicidade, seu real amor, por outra pessoa. Isso também é um erro. Deixe ir o pôr-do-sol. Deixe que venha a lua. Permita-se amar quem você ama. Lembre-se, o tolo aprende com seus erros, o sábio, aprende com o erro do outro. Seja sábia. Não me odeie, nunca senti nada mais verdadeiro, do que o que eu senti por Kara."

Eu ouvi a voz de Carlos ao ler aquilo. Era como se ele estivesse ali, à minha frente, conversando comigo, com seu rosto calmo e tranquilizador que sempre me passava sabedoria. Ele tinha escrito aquilo para mim, diretamente para mim. De todos os documentos, aquele me pareceu o mais importante. Porque não o li primeiro? Se tivesse lido primeiro saberia desde cedo com quem Carlos tinha um caso, saberia melhor. Procurei no dicionário de latim o que significava "ad finem". "Para terminar" dizia o aplicativo. Aquele era o fim da Pluvia. O fim da chuva.

Como Carlos sabia que eu sacrificaria quem eu amava por outro? Como ele me conhecia desse jeito e não me deixava conhecê-lo verdadeiramente? O que ele queria me dizer com essa carta?

Que eu o amo e devo me deixar amá-lo. A mensagem veio até mim, certeira como uma flecha. Olhei na direção do quarto de Isaac. Corri até minha porta e abri, bati na porta dele.

Isaac abriu a porta, seu cabelo estava bagunçado e ele estava apenas de calça.

- Eu já perdi tempo demais sacrificando o que eu sentia por você, por outra pessoa. Quando na verdade eu deveria apenas ter me deixado gostar de você. Eu não quero mais perder tempo Isaac – parei para respirar fundo por um segundo – Porque... Eu acho que te amo.

Isaac sorriu. O sorriso que eu mais amava nele. Sorriu como quando eu o irritava, ou quando ele estava cheio de si. Sorriu como quando eu segurava sua mão num momento ruim. Sorriu como a primeira vez que o vi.

Então, tomado por uma pressa sem razão ou nomenclatura, Isaac me puxou pela cintura e me beijou. Senti meus braços subirem e envolverem seu pescoço, enquanto nossos corpos se uniam.

Eu não sei quanto tempo durou aquele momento, mas sei que eu não sentia o tempo.

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