Capítulo 26

40 4 0
                                    



Sentados, as pernas penduradas no penhasco, minha cabeça descansava em seu peito, nossos dedos entrelaçados em um abraço se mexiam e se acariciavam. A respiração de Isaac era leve, vez ou outra ele cheirava meu cabelo, no entanto, nenhuma palavra saía de nós. Minha mente estava calma, como nunca esteve durante aqueles meses de investigação. Naquelas horas que passei em silêncio abraçadas a Isaac, só pensei no mar, areia, sol e na beleza da vida. Naquele momento aprendi que por mais dura e feia que ela possa ser, se pararmos por tempo suficiente, poderemos alcançar sua beleza e nos enchermos de esperança.

Olhei para o relógio em meu pulso e decidi que era hora de voltar.

- Eu preciso ir – sussurrei para Isaac que sorriu

- Tudo bem – ele disse, beijando minha testa – Passa lá em casa depois, minha mãe sentiu sua falta.

- Claro – passei a mão em seu rosto, enquanto eu o olhava, tinha certeza que meu olhar estava bobo, mas não me importei.

Levantei tranquilamente e andei pelas árvores até sair do nosso espaço de paz.

Minha casa estava silenciosa, mas permanecia com o mesmo ar de tensão. Eu precisava comer alguma coisa, esquentei a comida chinesa que havia sobrado e comi em silêncio. Terminei, lavei os pratos e subi para o quarto de Kara, bati algumas vezes e ela me disse para entrar.

- Como você está? – perguntei.

Kara estava sentada no chão de frente para a varanda, olhando as ruas atrás da nossa casa com uma expressão indecifrável.

- Papai veio falar comigo – ela disse.

- Conversaram? – sentei perto dela

- Ele disse que não matou Carlos, mas que se soubesse de nós ele teria matado – ela me olhou – Você também o odeia?

Antes de responder, as palavras do meu pai foram absorvidas e me causaram dor, fiquei um pouco entorpecida e atordoada, já não lembrava mais o que tinha que responder, foi quando olhei para Kara e vi em seus olhos a sua pergunta.

- Kara eu não vou mentir – me endireitei e tentei falar da melhor forma – Carlos não é mais a mesma pessoa pra mim, na minha visão, ele mudou muito. E eu não... Acho que não o perdoo.

- Pelo quê? – ela pareceu chateada – Por me amar?

- Kara, você é uma criança!

- Eu tenho dezessete.

- E ele quase quarenta.

- Kaya, isso não fazia a menor diferença quando estávamos juntos.

- Não importa.

- Importa pra mim, importava pra ele.

- Aparentemente não, né? Ele terminou com você.

- Se você leu as cartas sabe que não foi por causa da idade.

- Tá, não foi. Foi porque ele era CASADO – quase soletrei a última palavra

- Tá, e daí que as circunstâncias não eram ideias? O que sentíamos, o que eu sinto é real e verdadeiro.

Não respondi, apenas abaixei a cabeça e evitei olhá-la.

- Você não acredita no que eu sinto por ele – ela disse, soou como uma grande descoberta – você acha que foi tudo uma ilusão minha! Você não leu as cartas?

- Kara, você era uma adolescente apaixonada, e ele um homem com casamento frustrado.

- Ele me amava! – ela gritou – eu achei que pelo menos você entendia, pelo menos você.

InterlaceOnde histórias criam vida. Descubra agora