Scott dirigia o meu carro pela estrada, eu estava encostada no vidro vendo a chuva cair, uma música depressiva do meu pen drive tocava, Scott me olhava de cinco em cinco minutos.
- Você está bem? – perguntou em um momento
- Sim. – suspirei
- O que vai fazer quando chegarmos lá?
- Eu não sei. Não consigo pensar.
- E se Kara não confessar?
Eu sentei direito e olhei para ele.
- Não tem o que confessar Scott! É ela. Fã dos Beatles, louca por Chaplin, quer assistir E o Vento Levou todo sábado, lê o mesmo poema antes de dormir desde os dez anos, odeia o sinal que tem no ombro, e... Ele mencionou as quartas feiras na carta, quarta feira é o dia em que todos nós jogamos cartas, toda semana, sempre! E mais, Carlos costumava dizer a ela que ela ia achar o Jack dela, porque ela é louca pra ter um romance libertador como o de Jack e Rose de Titanic. É a minha irmã. Carlos se apaixonou pela minha irmã!
- Ok, calma.
- O melhor amigo do meu pai se apaixonou pela minha irmã – aquelas palavras pareciam muito insanas quando ditas em voz alta.
Aquilo era insano, dito ou não dito. E eu queria recusar a verdade.
Aquelas horas foram tão longas que pareciam dias, não dormi ou cochilei por um minuto se quer, minha mente não deixava meus olhos relaxarem, meu corpo permanecia rígido e tremia. No entanto, quando chegamos à cidade meus olhos fechavam de sono e meu corpo amolecia. Eu queria uma cama urgentemente. Mas tinha marcado com minha família para conversarmos o mais rápido possível.
Scott estacionou o carro de frente para a casa da minha mãe e nós descemos.
- Tudo bem, Kaya – Scott apertou meu ombro - Não é a pior coisa do mundo. Pelo menos ela não é a assassina.
- Talvez um dia isso me faça ficar melhor – fingi sorrir e ele riu.
Um passo após o outro, cheguei à porta e bati. Imediatamente meu pai abriu e me abraçou.
- Meu Deus, parece que você passou anos fora! – ele disse, ainda me apertando.
- Pai, foram só alguns meses – eu ri, abraçando-o de volta.
- Como você está? – ele me soltou e me olhou – emagreceu, não anda comendo?
- Nem dormindo – Scott completou e riu.
- Kaya! – minha mãe veio correndo até mim e me abraçou.
- Oi, mãe – eu ri e a abracei.
- Você está tão pálida e magra! Scott, o que você fez com minha filha? – ela apertou os olhos para ele
- Deixei ela trabalhar comigo – ele riu e nós entramos
- Ela chegou? – Kara apareceu no topo da escada.
Ela não veio correndo como os outros, desceu a escada lentamente e me abraçou. Não consegui decifrar seu abraço, era como se ela estivesse aliviada em me ver, mas também tensa. Na verdade, pode ter sido um abraço completamente normal e eu estava tensa.
- Pedimos comida chinesa! – minha mãe sorriu e nos levou para a cozinha.
- Ah, mãe... Podemos começar pela reunião? Não vou conseguir comer antes – pedi.
- E ninguém vai conseguir comer depois – Scott sussurrou no meu ouvido e eu lhe dei um tapa no ombro.
Sentamos todos na sala, Scott ao meu lado e Kara do outro. Eu realmente não queria que ela estivesse sentada ali, queria poder olhá-la nos olhos enquanto eu falava.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Interlace
RomansUm assassinato acontece, e depois disso, tudo muda. Nova cidade, nova vida, porém mesma angústia, dor e confusão. É uma saída acreditar na inocência, mesmo quando tudo aponta o contrário? Ou é a verdade? Em meio ao caos, a nova cidade oferece um por...