Capítulo 10

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O dia seguinte foi resumido em uma palavra: Baile.

Meg pediu minha ajuda com os preparativos, então nós passamos o dia resolvendo coisas, músicas, comida, luzes, toalhas, copos, talheres. Andamos por toda a cidade com pranchetas na mão, cheias de papel e coisas pendentes.

- Quando chegarmos no baile, eu vou procurar um quarto e vou dormir - eu disse, já exausta.

- Me chama, por favor - ela riu.

Sentamos em um banco, na praça principal da cidade e respiramos fundo.

A praça era antiga, postes com lampiões cercavam o lugar, um coreto bastante diferente ficava no centro da praça, ele era basicamente feito de ferro com detalhes pretos e verdes, não tinha paredes que o sustentasse, apenas barras de ferro. Fiquei encantada, levantei e segui até ele.

Subi a pequena escada e entrei, por baixo dele, havia uma pequena lagoa artificial de água cristalina, fiquei impressionada ao ver peixes pequenos nadando por todos os lados. Crianças passavam por lá e derramavam comida para os animais o tempo todo.

Definitivamente, aquela praça era encantadora. As árvores eram altas, creio que as mais altas eram de eucalipto. Os fios de energia eram cobertos por luzes suaves, espécies de pisca-pisca que mesmo de dia ficavam acesos.

- Parece gostar - Meg apareceu por trás de mim, sorrindo.

- Como eu nunca tinha visto essa praça? - olhei para ela.

- Não fica perto da praia, você anda por aquela região.

Nós duas passamos a olhar os peixes. Alguém chamou Meg e ela correu para falar com a pessoa.

Fiquei sozinha admirando aquele lugar, ou pensei que tinha ficado.

- Meu lugar preferido - uma voz disse, olhei para o lado, era Rose. - Faço questão de pedir que a prefeitura deixe bem cuidado.

- Eles fazem um ótimo trabalho - eu sorri.

- Fico no pé deles - ela riu suavemente.

Passamos alguns segundos em silêncio, ela soltou os cabelos loiros do coque e eles caíram ondulados até depois de seus ombros.

- Quando eu esquecer de tudo, quero lembrar desse lugar - ela disse, com a voz triste - Fui pedida em casamento aqui, Isaac e Theo aprenderam a andar de bicicleta aqui. Esse lugar teve bastante da nossa família. Não quero esquecê-lo.

Eu não sabia o que dizer, também não sabia se ela queria que eu dissesse algo. Então permaneci olhando para ela, de forma que ela tivesse certeza de que estava sendo ouvida.

- Quando se descobre um caso de Alzheimer na família, é uma tragédia. A família desaba, mas não acho que se pensa muito em quem tem a doença.

Olhei para ela com olhar de dúvida, ela sorriu, tristemente.

- Estão preocupados em me perder, mas não sabem o quanto dói para mim, me perder.

Uma adaga estava perfurando meu coração naquele momento.

- As vezes acordo pela manhã e espero encontrar meus pais à mesa me esperando, e vejo rostos desconhecidos, vejo meu marido e filhos e fico confusa. Eu também estou perdendo eles.

Eu assenti para ela, lentamente. Não havia palavras naquele momento. Eu não podia, nem deveria dizer nada, não cabia a mim.

- Obrigada - ela sorriu de repente e se preparou para sair - Você tem uma presença que acalma, Kaya.

Apenas sorri para ela, e me despedi com um aceno de cabeça, então ela se foi, elegantemente.

Corri até Meg, que ainda conversava animadamente com uma garota.

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