Capítulo 5

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O final de semana chegou, às sete da manhã, Isaac parou com um Honda Civic na porta da minha casa, confirmando minhas suspeitas sobre a situação financeira da família dele. 

Eu tinha preparado uma mochila, mesmo que não fosse passar o dia inteiro fora, eu precisava comer e de roupas extras. Eu e minha pequena paranoia. 

Isaac cumprimentou minha família e entramos no carro. Quando saímos da cidade eu respirei fundo três vezes seguidas e ele encostou o automóvel.

- Tá tudo bem? - ele me olhou, preocupado.

- Ta - eu disse, e dessa vez não estava mentindo.

- E o que foi?

- Eu não sei - dei uma pequena risada, e ele sorriu.

- Para de me assustar então - falou e revirou os olhos, então prosseguimos com a viagem.

Da cidade até o présido era apenas meia hora. Ao chegarmos lá, me senti enjoada. O imenso muro que separava os presos da sociedade quase me deixava tonta.

Falamos com os guardas e fomos acompanhados até o lugar de sempre, uma pequena sala, com uma mesa, três cadeiras, uma luz fraca e minhas angústias.

Eu sentei com Isaac, esperando que trouxessem o meu pai. Após cinco minutos, a porta se abriu, e um guarda entrou com um homem ao lado. Cabisbaixo, magro, barba sem fazer, sonolento. Quando me viu pareceu confuso e eu quis chorar.

- Eu te espero lá fora - Isaac disse e apertou meu ombro levemente, como se dissesse "seja forte."

- Oi pai - eu disse, quando ele sentou de frente pra mim.

- Não é tão ruim assim - ele segurou minha mão rapidamente - por favor não chore.

Ele deve ter percebido que meus olhos estavam cheios de água.

- Você está tão magro. Não estão te dando comida?

- Ah, estão - ele sorriu - eu só não tenho muita vontade de comer... Achei que vocês não vinham mais, que tinham desistido.

Encarei os olhos negros do meu pai, e as linhas de seu rosto que formavam uma expressão tão gentil. Definitivamente, não era o rosto de um assassino, era só o meu pai.

- Você precisa comer, ta? Nada de emagrecer mais - eu disse, seriamente.

- Onde estão sua mãe e sua irmã? Quem era aquele rapaz?

- Elas ficaram em casa, não queriam vir. Aquele era um amigo meu.

- Já fez amigos?

Balancei a cabeça negativamente.

- Só ele.

- E Kara?

- Fez duas amigas.

- Soube que bateu em um cara por causa dela.

- Foi mais por ela - dei de ombros

- Muito bem - ele deu um sorriso de lado e eu ri.

- Você precisa me contar algo? - olhei para ele, profundamente.

- Preciso?

- Michael soou bem estranho no telefone. Como se soubesse de algo importante.

- Não sei o que é - ele estava sendo vago.

- Pai... Eu acredito que você não fez aquilo, okay? Mas se você sabe de algo que pode te tirar daqui, por que não dizer?

- Eu queria saber de algo que me tirasse daqui - ele estava sério - se eu soubesse de algo, acha que eu não teria dito? Eu estou definhando aqui dentro, e só faz um mês. Eu sinto falta de vocês.

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