Capítulo 38

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Durante toda uma semana eu passei diversos momentos com meus amigos, a família de Isaac e Kara. Os momentos com Kara eram tristes, ela estava se tornando um pouco obscura e eu não sabia exatamente como ajuda-la. Tudo o que eu fazia era ouvi-la.

Ela nutria em si uma dúvida, não sabia se odiava nossa mãe por ter matado Carlos ou se a perdoava. Se ficava com raiva do papai ou não, se confiava a mim seus sentimentos ou não. Eu estava enlouquecendo, não sabia como lidar com tudo aquilo.

- Kara – eu disse um dia enquanto cozinhávamos na nossa cozinha – você já pensou em fazer algum tratamento psicológico?

- Carlos me sugeriu uma vez – ela disse, cortando tomates. – Acha que eu estou enlouquecendo?

Larguei o que eu estava fazendo, fiz ela largar o que fazia também, segurei suas mãos e a olhei nos olhos.

- Você não está louca – eu disse – e eu amo te escutar, mas não sei como te ajudar. Um psicólogo saberia. Eu acho que você devia tentar.

Ela assentiu levemente e me abraçou, me abraçou tão forte que senti seu coração bater contra meu peito.

- Eu estou perdida, Kaya – ela confessou – me sinto sem razão para viver.

- Eu sei – acariciei seus cabelos suavemente. – Mas você não tem que estar perdida. Você pode ter ajuda.

- Tudo bem – ela concordou – Ele ia querer que eu tivesse ajuda.

Então ela começou uma psicoterapia. E eu cuidava dela em casa. Forçava-lhe a comer, dormir, tomar banho. Ela parecia estar depressiva, e sim, era mais um fardo para mim, mas ela era minha irmã, e cuidar dela era como cuidar de mim, eu não me importava. Eu agia como sua mãe muitas vezes, e percebi que ela ia precisar que eu assumisse esse papel, pois ela não tinha mais uma.

Meu pai estava distante. Ele fazia nossas compras, passava de vez em quando na nossa casa, mas não conversava mais conosco. Kara sentia sua falta, mas não se aproximava dele pois sabia que ele não estava apenas bravo com Carlos, ele também tinha raiva dela, e de mim, pois eu passara a acreditar no amor dos dois. Carlos estava morto, mas mesmo assim, e mesmo ele tendo sido um irmão para o meu pai, ele não conseguia perdoá-lo, e eu estava mais do que cansada de tentar lidar com isso.

Eu passava a maior parte do meu tempo com Kara, ou com Isaac e sua família, eles estavam sendo um suporte muito grande para mim e Kara, tinham nos acolhido verdadeiramente e com amor. Rose havia ligado para Theo comigo ao seu lado, dando-lhe apoio e contara-lhe tudo, ela fora o ombro que amparava minhas lágrimas várias vezes, Hanna era minha alegria em meio ao estresse e Lucas sempre me fazia sentir leve com suas brincadeiras e histórias. Isaac segurava minha mão e James supria minhas necessidades físicas como comida, remédios, etc. Eu tinha apoio, mas me sentia sem família. Sentia-me uma mãe solteira cuidando de Kara.

O tempo ia passando e as coisas iam ficando melhores e piores. Eu passava mais tempo na praia, curtia meus amigos, curtia a família de Isaac, ia muito ao penhasco, lia bastante, esperava o resultado. Continuava em contato com meus amigos da outra cidade. Tudo estava estabilizado, nenhuma nova crise, mas nenhuma nova resolução. Tudo estava na mesma, inclusive as feridas. Eu não conseguia visitar mamãe, não apenas porque seus horários de visitas eram curtos, mas porque eu não queria ir. Não por algum sentimento ruim em relação a ela, mas porque eu sentia como se ela não quisesse que eu fosse, eu sabia que ela queria que eu me dedicasse a coisas importantes, e ela não queria que eu fosse lá frequentemente.

Os dias foram passando, semanas. Tudo era sol, mar, lágrimas, risos, brisa, chuva, dedos entrelaçados, beijos, abraços, tornados, terremotos. Kara tinha surtos, choros compulsivos, eu me despedaçava no chão do banheiro e só saia quando Isaac me tirava de lá. Meu pai estava se tornando um cara que eu costumava conhecer. E de repente, um dia, Theo voltou.

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