Capítulo 23

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"Não sei como me referir a você nessas cartas, por gostar de metáforas, tendo a chamar-te de Rosa, e se você é uma rosa, serei eu um jardineiro?

O que estamos vivendo pode assemelhar-se a uma tempestade, onde a chuva cai sobre nós e nos deixa completamente encharcados... De amor.

Você me pede que eu esqueça o certo e errado quando se trata disto, mas o certo e o errado são o motivo de tudo, estaríamos juntos se não houvesse esses dois? Talvez. Gosto de acreditar que sim. É certo estarmos juntos, é errado estarmos juntos. Mas estamos juntos. Estamos? Diga-me que estamos.

O Jardineiro."

A Rosa, o Jardineiro e a Águia. Daria um bom nome a um livro, um livro de mistério e assassinato. Carlos parecia confuso, mas feliz e apaixonado. Por que essa Águia queria tanto estragar esse relacionamento?

Peguei outra carta, ao pegá-la em minhas mãos senti um perfume feminino saindo dela e exalei. Era um perfume comum, e muito bom. Eu já havia sentido esse cheiro antes, mas como era comum, não fixei nisso.

"Querido Jardineiro,

Creio que nossos nomes metafóricos se encaixam muito bem em toda esta situação, e agora rio lembrando disso. Você, mais do que um amigo, mentor, me cuidou e ajudou a florescer, e então, nos apaixonamos. Como pode ser errado que um jardineiro ame uma rosa?

Se a chuva nos encharca de amor, ah, meu bem, que ela nunca pare!

Estamos mais que juntos, somos juntos.

Com todo amor,

A Rosa."

Sorri ao ler aquela carta. Que romântico. Nem parecia ser um caso. Se eu esquecesse que aquilo tudo era um caso oculto, parecia apenas duas pessoas apaixonadas, lutando para ficarem juntas, lutando para se amarem cada vez mais.

Perguntei-me se era assim o amor, confuso, e inebriador. Deu até vontade de senti-lo, nessa forma pura e devastadora, mas também deu medo. Sempre tive a ideia de que amar era deixar-se vulnerável a outro. E talvez fosse. Mas o Jardineiro e a Rosa pareciam não se importar. Pensando nisso, peguei outra carta.

"Querida Rosa,

Queria escrever-lhe sobre hoje. Sobre nós, hoje. Juntos. Sobre como me senti renovado, e nascido de novo ao poder te abraçar e segurar sua mão sem me preocupar com mais nada, apenas sentindo o que sentimos e vivendo o que tanto queremos viver. Não há nada mais precioso do que o segurar de nossas mãos. Muito obrigado, por esse amor tão singelo.

O Jardineiro."

Até aquele ponto eu estava me sentindo no século passado lendo cartas de um amor secreto entre um rapaz e uma moça, Romeu e Julieta, Bonnie e Clyde.

Como se estivesse lendo um livro, esqueci-me da outra realidade (Beatrice) e passei até a desejar que eles finalmente (pelo amor dos céus) ficassem juntos.

Antes de abrir uma nova carta, senti meu celular vibrando, vi que era uma mensagem de Scott, abri imediatamente e li.

"Encontre-me no hotel em meia hora."

Meia hora, ainda dava para ler algumas cartas. Foi o que eu fiz. As outras cartas eram apenas de declaração, falavam de um amor que parecia impossível, mas que não seria abandonado por nenhum dos dois, um amor que não cabia em suas palavras amontoadas e refinadas. Um amor que ia além do tempo. Claro, ele era mais velho, e ela mais nova, embora soassem da mesma idade em suas cartas. Talvez por isso fosse além do tempo. A Rosa escrevia de forma mais simples, no entanto, parecia não gostar de falar muito sobre como se sentia, mas sempre afirmava que ele sabia, e ele parecia saber.

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